Balada de livros na Vila

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Balada de livros na Vila

A 6a edição da Balada Literária anima de 16 a 20 alguns endereços da Vila Madalena. Neste ano o homenageado, será o poeta Augusto de Campos. O curador da Balada é Marcelino Freire. Autor de “Contos Negreiros” (Record, 2009), e do recém-lançado “Amar é Crime”, pelo Coletivo Edith, do qual é um dos fundadores, entre outros. Marcelino conta aqui como a história da Balada surgiu e sua guerrilha afetiva para conseguir pagar as despesas e manter o evento que acontece graças a parceiros de todos os tipos, de livreiros a taxistas da Vila, e até donos de botecos. Para ele é possível promover uma festa literária sem contar com patrocínios oficiais, sem cobrança de ingressos (há algumas exceções) e da forma mais democrática possível.
 
Como a Balada Literária surgiu?
Em um jantar entre eu e o Samuel Seibel, da Livraria da Vila na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Certa hora notamos que a cerveja tinha acabado. Então, só nos restava beber cerveja long-neck quente e cara! Uma festa literária que se preze podia deixar acabar a cerveja? Aí eu falei com o Samuel: “nós temos na Vila todas as condições de fazer a nossa festa literária, sobretudo sem deixar faltar cerveja de garrafa e gelada (risos)”. A Balada surgiu sobretudo por causa dessa nossa preocupação etílico-literária! A primeira aconteceu em novembro de 2006.
Como o evento é organizado?
Enquanto outras festas acontecem com milhão, a Balada é feita com humilhação! Vou pedindo para as pessoas. Da mesma forma que pedi ao Samuel para entrar nesta minha viagem, eu falo o mesmo com os outros parceiros. Ela acontece há seis anos sem nenhum patrocínio ou ajuda oficial. Não tem dinheiro circulando, não há cachê artístico, não há dinheiro para pagar produção da forma que um evento deste porte deveria receber. Aqui, onde estamos conversando (Centro Cultural O b_arco) é outro parceiro. Não tem ingressos. Basta aparecer, entrar na fila e assistir aos eventos. 
 
Quem a Balada já homenageou?
O Glauco Matoso foi o nosso primeiro homenageado. Depois veio o Roberto Piva, em 2007, Tatiana Belinky, João Silvério Trevisan, que é um grande escritor e grande ativista político e batalhador pelos direitos dos homossexuais. Em 2010, foi a Lygia Fagundes Teles no ano passado e neste ano, será a vez do poeta Augusto de Campos.
Você é quem escolhe?
A Balada Literária tem muito a minha cara. Sou eu que escolho o homenageado do ano. É ele que norteia a curadoria do evento a cada ano. Teremos aqui no O b_arco uma mesa com o Augusto de Campos e Caetano Veloso que tem tudo a ver com ele. No ano passado, o tivemos o escritor Alcides Nogueira que adaptou a obra “Ciranda de Pedra”, da Lygia Fagundes Telles, para a TV Globo.
 
Por que Augusto de Campos é o homenageado em 2011?
Ele comemora neste ano 80 anos de vida. Sempre homenageamos um autor de São Paulo que esteja vivo. Não precisa ser nascido aqui, basta ter sua história com a cidade. Faço questão de que o homenageado participe da festa.

A abertura será aonde?
Neste ano, será no Sesc Pinheiros com um show da Adriana Calcanhoto, que também tem a ver com a obra do Augusto. O Jorge Mautner, com seu movimento Caos também participa. Além disso, o trabalho do homenageado será apresentado na forma de poesia, passando pelas traduções, as artes plásticas, que inspiraram ou tem a ver com a obra do Augusto e o movimento concretista. Serão muitos artistas plásticos e teremos intervenções pelo bairro. 
 
E quem será em 2012?
Como não consegui convidá-lo uma das mesas do evento deste ano, eu não posso revelar ainda quem será o homenageado de 2012. Mas vou anunciá-lo durante a Balada.
Quanto tempo você leva para organizar a festa?
Tenho muitas coisas para fazer. Escrevo, dou aulas e faço outras coisas. Começo a pensar a próxima edição a partir do início do segundo semestre. Aí é que tudo acontece. Vou atrás do homenageado, dos parceiros, etc.
 
Todas as edições serão na Vila Madalena?
Nunca saímos da Vila Madalena. A Livraria da Vila da Fradique é um dos locais onde acontecem as mesas e as palestras. Neste ano, abrimos uma exceção para a Casa das Rosas, na Avenida Paulista, que tem um espaço dedicado ao Augusto de Campos. Até o metrô participará exibindo poesias do Augusto e outras atividades. Não quer dizer que no futuro a Balada vá se transferir da Vila Madalena. 
 
Quem custeia a Balada Literária?
Além da Livraria da Vila, o Itaú Cultural é nosso parceiro desde a primeira edição e grava programas ao vivo aqui no O b_arco e disponibiliza no site deles. Os autores e convidados recebem cachês, mas são cachês conversados afetivamente com cada um deles. Não temos patrocínio. Dou um exemplo. Muitos táxis na Vila Madalena me conhecem desses 15 anos que moro na Rua Purpurina, e eu muitas vezes fico devendo dinheiro para eles que vou pagando aos poucos.
 
Como você fecha a conta?
Estou aqui conversando com você, mas estou preocupado em encontrar parcerias para pagar os cachês de alguns dos convidados da próxima Balada. Quando o convidado não é meu amigo, eu digo para ele: “o que posso pagar para você é tanto. Você aceita?”. Mas todos os convidados recebem, com certeza. Peço para as editoras, e elas pagam diretamente seus autores. Tem bares da Vila que participam da mesma maneira. Mas ninguém fica sem receber. Tudo é profissional!
 
Dá para fazer a Balada sem patrocínios oficiais?
Os convidados não têm o melhor hotel, mas isso é uma amostra de que é possível fazer uma festa literária sem burocracia etc. Não vou atrás de patrocínio oficial porque isso me dá uma preguiça enorme. No ano passado, o Ministério da Cultura me procurou perguntando porque eu nunca havia procurado eles para ajudar na BL. Eu respondi: “por que vocês nunca me procuraram?”. Não é pretensão minha não. Esses órgãos precisam procurar gente como o Sérgio Vaz, da Cooperifa, e perguntar o que eles estão precisando. Os escritórios que trabalham com patrocínios têm um trâmite que é uma beleza. Quando o Ministério da Cultura me pediu que eu apresentasse o meu projeto, pedi para dois amigos que têm experiência nisso que fizessem isso. Tramita daqui, tramita de lá e se eu fosse depender disso, não teríamos a Balada em 2010. Eu não quero dependeer da Lei Rouanet ou quaisquer leis dessas e vou provar que é possível fazer esse tipo de evento em que um espírito afetivo é possível sem ser frígido. A Companhia das Letras me ajuda, Instituto Itaú, O b_arco, a Livraria da Vila ajudam. Esses parceiros acreditam que a Balada é feita com muita raça e idealismo.
 
Qual é a resposta do público a cada edição?
Tenho certeza que o público tem crescido. Mas não saberia dizer quantas pessoas. A Balada não é um evento de resultados. Não estou preocupado com as estatísticas. Eu sei, que o evento tem crescido e atraído gente de fora. Deixou de ser um evento entre amigos. As pessoas entenderam que a proposta é a descontração, onde o público fica próximo dos convidados. Temos crescido com qualidade. O público sabe das nossas limitações de espaço, mas quem vem sabe que tem fila. Não tem ingresso VIP, essas coisas. Não há as exigências de um mega evento. 
 
Além dos homenageados, quem já participou da Balada Literária?
Fora os homenageados, os escritores do porte do João Ubaldo Ribeiro, João Cândido, Adélia Prado, Luiz Fernando Veríssimo, que veio ao b_arco e lotou. Em 2009, tivemos uma mesa com o escritor Rodrigo Lacerda conversando com o João Ubaldo Ribeiro. A mesma mesa aconteceu este ano na Flip, em Paraty, e lá todos os ingressos foram esgotados. Tivemos aqui o mesmo encontro no Sesc Pinheiros e não foi preciso reservar lugar. Deu para todo mundo que apareceu assistir. É um mérito da Flip. Repito que a Balada nasceu de algo proposto e iluminado pela Flip. A Balada nasceu lá comungando o mesmo espírito. Mas acho que as pessoas que vão na Flip, buscam um suvenir. Pode ser mais bacana dizer que assistiu uma palestra do João Ubaldo Ribeiro lá em Paraty do que aqui no Sesc Pinheiros.

Como acontece a mistura de novos escritores com outros já consagrados?
Misturo os autores consagrados com os novos escritores e artistas jovens, ainda desconhecidos pelo grande público. É uma guerrilha minha em misturar todas as tribos e que acaba tendo a cara de Balada. Você encontra todo mundo na mesma balada, na mesma festa. É uma festa sem credencial. Não precisa de disque ingresso, essas coisas. Tenho o maior orgulho de fazer a Balada principalmente com esse capital afetivo, volto a dizer. Dependo muito da boa vontade dos convidados. Muitos deles vêm por conta de suas posses. Outros aceitam o cachê que podemos pagar. É uma festa para todo mundo.
 
As redes sociais colaboram para o sucesso de eventos deste tipo?
Através das redes sociais sempre vi muito entusiasmo das pessoas desde quando começamos. E o mesmo aconteceu quando anunciei o Augusto de Campos. Percebo que mais de 5 mil seguidores nossos no Facebook que as pessoas ficam esperando a próxima Balada e o entusiasmo deles.
 
Além das palestras, o que você indica para o nosso leitor?
O que eu acho muito legal da BL é que misturamos ofícios. Ator, autor, músico, poeta. Neste ano, teremos o Walcir Carrasco que vem falar sobre os bastidores da TV. E quero convidar para uma próxima Balada o novelista e escritor Walter Negrão que é morador da Vila para participar. Outro que quero trazer é o Aguinaldo Silva. Teremos um show do Walter Franco depois de tanto tempo.
Teremos lançamento de novos autores?
Vamos lançar o livro de estreia da Juliana Amato que ganhou o concurso da Edith, movimento coletivo artístico que criamos.
 
Os quadrinhos também têm vez na Balada Literária?
Sim, teremos oficinas de quadrinhos com os irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon entre outros.

A Balada também tem convidados de fora do Brasil…
Já trouxemos algumas pessoas. Mas sempre no mesmo esquema, com ajuda do Instituto Cervantes ,por exemplo. Trouxemos o mexicano Mario Bellatin, que depois participou da Flip. Outro foi o português José Andino Vieira, que ganhou e recusou o Prêmio Camões. Ele veio a primeira vez ao Brasil para participar da BL. Este ano vamos receber o inglês Edwin Williamson que escreveu uma biografia do José Luis Borges.

Pretende promover outras Baladas em outras cidades?
Recebemos convite para fazer uma Balada em Salvador, na Bahia, em Caracas, na Venezuela, e em Berlim, na Alemanha. Estou animado em fazer em outros lugares mas com o mesmo esquema afetivo.

Qual será a programação da Balada Literária 2011?
Está disponível no www.baladaliteraria.zip.net. (GA)

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