O arquiteto Carlos Verna e suas sugestões de mobilidade para a cidade

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Foto: Tiago Gonçalves

Tiago Gonçalves
Arquiteto e urbanista Carlos Verna

O arquiteto Carlos Verna acredita que a Vila Madalena pode ser um bom exemplo de mobilidade para a cidade.

Carlos Verna além de morador da Vila Madalena é sócio da Carlos Pizza, juntamente com Luciano Nardelli (Lucho), Arthur Hirsch e Rodolpho Ruiz. A pizzaria, aberta em 2015, ganhou pela terceira vez, segundo a edição 2018/19 de Comer & Beber da Veja São Paulo, o título de melhor pizzaria da cidade. Um dos ‘segredos’, segundo Carlos, “é saber trabalhar a massa que pode levar até 36 horas para ficar pronta antes de ir ao forno a lenha, dependendo do tempo e utilizar os melhores produtos e de qualidade nas pizzas individuais da casa”, explica.

Carlos é um arquiteto que gosta de pensar a cidade, em particular a Vila Madalena, em busca de soluções que a tornem mais humana. Professor de projetos na Universidade São Judas, também é autor de projetos comerciais e residências no bairro, incluindo sua pizzaria. “A pizzaria é toda sustentável. Aproveitei os materiais originais da casa”, lembra.

Carlos Urbanismo04-GV-OUT-TGComo arquiteto, Carlos acredita que “o comércio, em geral, fica melhor com mais gente nas ruas”. Para ele, “ações como pedágio de carro, incentivo ao uso de bicicletas, redução do número de estacionamentos ou transformá-los em espaços de eventos e de lazer, a instalação de câmeras de segurança, melhorar a iluminação pública, enterrar a fiação e principalmente dar prioridade aos pedestres com a melhoria das calçadas, são projetos viáveis!”.

Tornar as calçadas melhores para que todos os que circulam pela Vila Madalena possam caminhar com segurança e tranquilidade é um dos pontos fundamentais para Carlos. “Cidades como Nova York, Roma e Paris fizeram isso e têm o índice 100 no site Walk Score especializado em apontar as cidades mais caminháveis do mundo. A Vila Madalena tem o índice 94, o que é bom. E quanto mais alto o índice, mais valorizado ficam os imóveis”, lembra.

Para o arquiteto as cidades citadas “estreitaram as ruas e aumentaram a largura das calçadas para os pedestres, incentivaram o uso de bikes e controlaram o acesso dos carros, com menos estacionamentos e até pedágio urbano”. A consequência disso, segundo Carlos, foi o aumento de moradores nas regiões que receberam investimento de mobilidade, mais movimento no comércio e mais impostos recolhidos para as prefeituras. “Hoje em dia, muitos moradores não têm e não querem carros em suas vidas! Tanto lá fora como aqui!”, lembra.

Na Vila Madalena, as calçadas cheias de degraus, segundo Carlos, “priorizaram o carro e não o pedestre”. Ele diz que faz muitos trajetos a pé ou de bicicleta, mas em alguns trechos do bairro, “prefiro utilizar a rua para caminhar e não as calçadas”. Para ele, a criação de uma faixa de 1,20 m paralela a rua, sem degraus ou obstáculos, permitiria que as pessoas andassem com mais conforto e segurança.

E para fazer essas modificações na Vila Madalena, Carlos acredita “que, juntamente com a prefeitura, os comerciantes poderiam contribuir com um pequeno valor para essas obras. A rua Oscar Freire fez essas alterações e o comércio melhorou muito com calçadas mais largas e instalação de bancos para descanso das pessoas”.

Lembra que as pessoas com deficiência física e com mobilidade reduzida precisam ser consideradas nesses projetos e estimuladas a caminhar pelas ruas. “Para eles, sugiro rampas contínuas, sem degraus e de cimento, e devem ser evitados os bloquetes de cimento que não são indicados para cadeirantes, por exemplo”, diz.

A CET recentemente eliminou várias vagas de estacionamento em ruas da Vila Madalena. Para Carlos, “isso pode ser uma oportunidade para que os clientes possam, ao caminhar pelas calçadas, conhecer outras lojas, que de carro ele não teria conhecido”. E para quem possa reclamar de caminhar muito ele lembra que “quando vamos ao shopping, não percebemos o quanto caminhamos”.

Para o arquiteto, ter lojas no térreo dos edifícios, é uma boa solução para a região e até para os construtores. “As chamadas fachadas ativas, com lojas no piso térreo, permite aos construtores erguerem mais andares”. Ele dá o exemplo do edifício em que mora. “No térreo temos uma padaria (Deli Garage) e uma galeria de artes (Ceres)”.

Carlos lembra que as pessoas estão utilizando mais ônibus e metrô. “A proximidade de duas estações do metrô: a Vila Madalena, da Linha Verde e a Fradique Coutinho, da Linha Amarela é bom para quem mora, trabalha e vem à Vila”. Os ônibus que circulam pela região, segundo ele, deveriam ser substituídos por modelos menores. “Em certas ruas, é uma loucura quando os ônibus precisam dobrar a esquina”.

Para ele, tanto comerciantes como moradores ainda “resistem com relação a novas ideias em relação à mobilidade. Acredito que elas vão aceitar essas mudanças se sentirem que isso vai funcionar.”

O fluxo de certas ruas do bairro também é objeto de atenção do arquiteto. “É preciso estudar o fluxo das ruas do bairro. Por exemplo, a rua Harmonia é uma via arterial. Vai da avenida Heitor Penteado até a rua Luiz Murat. Transformá-la, por exemplo, em mão única não resolveria o problema do trânsito”. Também lembra que algumas ruas da Vila são rotas de veículos que cruzam a região e não são potenciais clientes do comércio local”.

E por fim Carlos se diz incomodado com o descuido e o lixo das praças da região. “Se as praças tivessem quadras de esportes assim como equipamento para as crianças. Certamente mais pessoas estariam utilizando esse espaço público”. (GA)

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