Repensar a Vila Madalena

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Repensar a Vila Madalena

Otávio Zarvos, dono da incorporadora Idea!Zarvos, que ergueu muitos prédios na Vila Madalena, é também morador da Vila e nesta entrevista discute arquitetura e seus prédios diferenciados que lhe renderam entre outros prêmios os da revista inglesa Architectural Review em 2009 e 2011 com dois projetos – o edifício 360, no Alto da Lapa e o Oka, na Vila Madalena. Ambos de autoria do arquiteto Isay Weinfeld, que também tem seu escritório no bairro. Além disso, ele fala sobre o plano de bairro que mandou fazer e será entregue para discussão e implantação. Segundo ele, isso vai deixar a Vila mais moderna, atraente e humana. 
 
Como você virou incorporador?
Meu pai, Tito Zarvos, era construtor de casas populares. Cursei administração de empresas e fiz um estágio com ele. Sempre gostei de arquitetura e logo que pude montei uma empresa com o meu irmão. E nesses últimos sete anos caminhei sozinho quando criei a Idea!Zarvos. Foi quando comecei a fazer projetos mais ousados.
 
Qual é o diferencial deles?
Em nossos prédios, temos qualidade e um bom projeto. Contamos com a ajuda de bons arquitetos, brasileiros e estrangeiros. 90% dos nossos projetos são feitos por arquitetos brasileiros, que são incríveis. É uma arquitetura autoral e nossos prédios são únicos.

E alguns dos seus projetos renderam prêmios no exterior.
Ganhamos dois prêmios da revista inglesa Architectural Review. Como melhor projeto de prédio residencial. É um prêmio importante dado por uma das mais importantes revistas do mundo. Eles analisam projetos de todos os lugares do mundo, exceto EUA. Do Brasil, fomos os únicos inscritos, graças a qualidade de arquitetura que praticamos. Os dois projetos são do Isay Weinfeld. Em 2012, ganhamos com o Oka (colina em japonês), que está sendo construído aqui na Vila em um terreno com grande declive entre a Rua Senador César Lacerda e Girassol. Em 2009 com o projeto do edifício 360 (na Rua Cerro Corá, Alto da Lapa). Isso é muito legal para nós.

O que é boa arquitetura?
Arquitetura é um assunto complicado. As pessoas em geral não sabem o que é uma arquitetura boa ou ruim. Um prédio pode em três anos ficar ruim e feio. Outros, como alguns do bairro de Higienópolis, construídos nos anos 1950, continuam atuais e lindos. A arquitetura quando é boa, não envelhece.

Quanto custa hoje o m2 na Vila?
Um prédio novo custa entre 10.500 e 11 mil reais o metro quadrado. Por isso que temos feito por aqui apartamentos pequenos, com 50 m² de área e com um ou dois quartos. Comprar hoje um terreno nos preços que estão e construir apartamento para uma família, com 150 m², de 3 quartos, iriam custar por volta de 3 milhões de reais. Por isso partimos para Vila Romana, próxima da Cerro Corá, onde os preços dos terrenos são mais baixos. Em Perdizes e Sumaré, estamos fazendo apartamentos médios.
 
Como está a ocupação da Vila?
É preciso que os que têm suas atividades aqui possam sobreviver. Restaurantes e bares na Vila vão bem. Os pequenos ateliês, as lojas de modas e de design não estão na mesma situação econômica. O bairro é pouco denso e não acompanhou o crescimento do comércio. A Vila Madalena tem 1.600.000 m2. A nossa densidade não chega a 100 pessoas/hectare enquanto que no Higienópolis é de 250 pessoas/hectare. A tendência das grandes metrópoles é ficar mais densas e compactas. Isso evita deslocamentos, diminuir o trânsito e evita o espalhamento da cidade. 
 
O que você responde para quem é contra a verticalização?
Em São Paulo, as pessoas têm um pensamento que é nocivo para elas mesmas. São contra os prédios e não querem que a cidade tenha mais pessoas, mas ao mesmo tempo querem estrutura boa. São duas coisas que não combinam. Com maior adensamento teremos mais serviço, padaria, hospitais, praça de esporte, escolas etc.

Morar em casa é viável?
Hoje em dia é complicado. Pela violência, pelo custo, pela falta de empregados de antigamente… Os casais jovens não querem morar em casa, querem morar em apartamentos.
 
Sua opinião sobre tombamento?
Sou contra. É um discurso fácil de vender, mas muito nocivo para o bairro. Os novos comércios que surgiram por aqui é por causa dos novos prédios comerciais que surgiram por aqui. São pessoas que trabalham aqui durante o dia. Antes, as pessoas só moravam por aqui e as pessoas vinham para o bairro à noite para as baladas e pelos bares. Durante o dia o bairro era morto.
 
Mas ele pode ser implantado…
Ele é inviável juridicamente. Os órgãos que fizeram tombamentos anos atrás, sabem dos danos que eles causaram e não fazem mais isso. Os locais tombados em São Paulo se degradaram. Na Vila seria um quarteirão. O tombamento prejudica quem mora aqui. Nas reuniões que tive com moradores mais antigos aqui da Vila, eles não sabiam o que é o tombamento e quando entenderam que os imóveis deles teriam 70% de desvalorização, ficaram revoltados. 
 
Então, qual é o caminho que a Vila deve seguir?
É trazer mais gente para trabalhar aqui durante o dia. Para atrair empresas como agências de propaganda, pessoal que trabalha com internet, de design, essas pessoas precisam de espaços menores, mas organizados e com segurança. Essa é a nossa vocação.

O que você diz para quem não quer mudanças?
Um erro as pessoas quererem voltar ao passado. Quem foi embora não volta mais. Com esse conservadorismo, essas pessoas bloqueiam as novas atividades dos que querem vir para cá. Um bairro é como uma pessoa. Ele amadurece, envelhece e precisa ser sempre repensado. Precisamos repensar e modernizar o bairro a cada dez anos.
 
E o plano de bairro, que você está à frente, o que propõe?
Elaboramos um plano de bairro com diversas propostas de urbanistas, arquitetos. Ele ainda não foi entregue à Subprefeitura, mas está pronto. Ficamos vários meses, por iniciativa de nossa empresa fazendo isso. Buscamos em Nova York um arquiteto, Davis Brody Bond, que tem experiência neste tipo de projeto e que ainda não foi feito aqui no Brasil. O plano envolve também a parte econômica. São várias propostas e já debatemos com vários grupos daqui do bairro, com moradores novos e antigos, lojistas, donos de restaurantes e bares, com órgãos da prefeitura, CET, vereadores…
 
Dê alguns exemplos.
Inclui mudança de zoneamento do bairro. Não queremos levantar prédios mais altos ou coisa assim. Precisamos fazer adequações. Temos locais aqui muito degradados. Reformas das calçadas, ruas com sentido único e com redutores de velocidade, trocar os ônibus maiores por menores para servir melhor aos moradores. Ruas como a Patizal, por exemplo, seriam transformada em uma espécie de calçadão, mas com condições do morador circular com seu carro. A rua vai ficar mais bonita, e se o dono quiser alugar sua casa, vai ter uma valorização maior do que de hoje. Criar passagens para pedestres em alguns quarteirões que são muito grandes por aqui. 
 
Quem pagou por este estudo?
Nosso escritório. Estamos dando esse plano para o bairro. Para nós é uma questão ética. Primeiro, é uma forma de retribuir. Segundo, se a gente conseguir implantar metade do que está no plano, ele que é o bairro mais bacana da cidade, vai ficar mais legal ainda. E isso vai refletir para todo mundo, morador, empresário…

O que o plano prevê contra enchentes?
A proposta é implantar o Parque Linear. O Rio Verde está canalizado, desde o metrô Vila Madalena. E a Vila está impermeabilizada. Com o parque e calçadas drenantes a água segue para uma grande adutora que joga a água da chuva para o sistema pluvial da região. E sem necessidade de desapropriar nenhum imóvel.
 
O trânsito vai diminuir?
Tem muita gente que acha que os carros que circulam pela Vila é daqui. Não é. São carros que utilizam as ruas da Vila para ir para outros bairros da cidade. Durante o dia, o trânsito é pouco. O problema é no início e no fim do dia. Os ônibus grandes que circulam hoje por aqui também causam congestionamentos. Propomos trocar por veículos menores e com mais frequência.
 
Com o crescimento do número de carros e mais gente não teremos mais trânsito?
Propomos prédios sem garagem. Seriam prédios para pessoas que já abandonaram o carro e buscam este tipo de moradia. E é muito importante ter por aqui esse tipo de morador. É um tipo de prédio que custa menos e poderá trazer pessoas que querem morar aqui mas não poderiam com os preços altos. 
 
O que mais tem o plano?
Teremos ciclofaixas, calçadas modernas, estacionamentos públicos nos prédios. Propomos que os futuros prédios tenham além dos andares de garagem para os usuários dos prédios, um andar para locação. Vai gerar renda para o condomínio e ao mesmo tempo criar garagens para quem vem à Vila. Já fazemos isso em nossos prédios. Os prédios residenciais, por força da lei, ainda não podem fazer isso. 
 
Qual a reação de quem já conheceu o plano?
Diria que quase 100% dos que viram o plano adoraram. Foram lojistas, donos de bares e restaurantes, moradores. Eles fizeram sugestões e críticas. 
 
Quando o plano será entregue?
Vamos repassar para uma associação, que pode ser o Projeto Aprendiz. É ela é quem vai levar até a Subprefeitura de Pinheiros. A partir daí, teremos audiências públicas. O poder público é quem vai implantar isso. Até o Serra ficou sabendo do plano e pediu para conhecer.

Quanto tempo levaria para ser implantado esse plano?
Difícil dizer. Tem coisas que dependem de leis, outras não e podem começar imediatamente.
 
Qual é o custo?
Neste plano não tem dinheiro público. Só da iniciativa privada. Precisamos do poder público para aprovar as leis que precisam ser criadas ou modificadas. No plano, quem construir um prédio e criar uma passagem de pedestre, por exemplo, poderá construir alguns metros a mais. No caso das calçadas, podemos fazer algumas parcerias com empresas.
 
O que elas ganhariam?
Teriam em contrapartida uma placa com o nome dela. Se não tiver uma forma da empresa se divulgar, ela não investe. Tem coisas que poderiam ser feitas já e as empresas têm interesse em investir nisso. A viela Tim Maia seria um lugar desses.
 
Defina a Vila Madalena?
Diversidade de pessoas, de atividades, ambiente criativo e ambiente de encontro.
 
O que você curte na Vila?
O Martin Fierro é um dos meus lugares preferidos. Para almoço rápido, vou na Villa Grano. Tem muitas galerias aqui que eu gosto. Uma delas é a Millan. Gosto de caminhar a pé pelas ruas. Não saio muito porque nove da noite já estou dormindo!

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