Planejando a carreira

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Planejando a carreira

Renato Grinberg tinha uma carreira de músico que ia muito bem, com CDs gravados e shows. Aos 25 anos, decidiu dar uma guinada na vida. Matriculou-se em cursos de marketing por aqui e depois seguiu para os Estados Unidos, onde fêz um MBA e queria trabalhar na indústria do entretenimento. Com persistência, dedicação e “por estar na hora certa no local certo” conseguiu depois de muita luta, um estágio e anos depois, chegou a ocupar o cargo de executivo da Warner Bros para a América Latina. Quando retornou ao Brasil, optou por viver na Vila Madalena. Atualmente é presidente da unidade brasileira da Trabalhando.com, empresa de recursos humanos que tem outras filiais pelo mundo. Sua experiência em carreiras o inspirou a escrever o livro “A Estratégia do Olho de Tigre” (Editora Gente, 2011). Neste livro, dá dicas fundamentais de como turbinar a carreira, além de contar sua história pessoal. Nesta entrevista, explica como sobreviver no mundo corporativo, entre outros temas.
 
Qual é a sua ligação com a Vila Madalena?
Já conhecia e frequentava a Vila Madalena antes de ir para os Estados Unidos. Depois da volta, resolvi com minha mulher mudar para cá. Moro na Vila Beatriz e estou longe do burburinho. Daqui, gosto da parte cultural e das opções de consciência corporal e de mercados que vendem produtos orgânicos, sem agrotóxicos, que eu já consumia nos EUA. Vou muito ao restaurante Vito e ao Bar São Bento, entre outros. 
 
Qual é a sua participação na Kinderplay, que fica na Vila Madalena?
Sou sócio com a minha mulher, Daniela. Quem administra é ela. Eu faço o trabalho de mentor.
 
O que é preciso para ter uma carreira vencedora?
Seja para quem está começando a carreira ou para quem já está em atividade, “o sonho precisa ser transformado em realidade”. Saber quais são os seus objetivos é fundamental para se chegar aonde deseja.
 
Isso é possível tanto em uma grande empresa como nas médias e pequenas?
Sem dúvida. As pequenas e médias empresas podem muitas vezes ser o caminho para se crescer mais rapidamente. Também é um bom lugar para agregar valores maiores muitas vezes. E pode ser financeiramente atraente. 
 
Seu livro serve tanto para o profissional em início de carreira como para o mais experiente?
Sim. Quem está começando busca mais informações. Por outro lado, quem está no topo da carreira, em geral está muito sozinho. E muitas vezes é difícil dar o próximo passo. No livro, relato minha experiência pessoal. Todo executivo pode absorver coisas interessantes. Ele pode e deve almejar outros desafios e experiências e manter a sua posição.

Quando você decidiu partir para os Estados Unidos, você seguiu e/ou se apoiou em algum livro ou método?
Li muito e me aconselhei com muitas pessoas que deram conselhos e dicas úteis. Li muitas biografias, entre elas a de Richard Branson, dono da Virgin. De livros sobre desenvolvimento profissional, um dos que destaco são os do Brian Tracy, um guru de negócios.
 
Um coach pode ajudar na carreira?
A ajuda de um coach pode ser útil para repensar e/ou rever sua carreira. Quem está no topo precisa sempre estar atualizado e motivado. Cito o Steve Jobs, que foi um grande líder e estava sempre em busca de um novo desafio. É preciso ter “fome” de crescer. O ex-lutador Mike Tyson disse que começou a perder quando perdeu o desejo, a “fome” de vencer.
 
Você teve um coach?
Em todas as empresas tem gente que você pode se aproximar e pedir ajuda. No meu caso, muitas pessoas nos EUA me ajudaram. Quem está passando as informações também está passando seus ensinamentos para o outro e isso infla o ego. Mas é preciso ter claro que declarar sua admiração por alguém não é para ser um puxa-saco. Deve ser objetivo e sincero. Parece óbvio, mas as pessoas nem sempre seguem a regra de bom senso.
 
Que predicados você julga imprescindíveis?
Método, persistência e treinar sempre. No meu caso, ter sido músico me deu muita disciplina e isso me ajudou muito na hora que decidi que iria trabalhar na área de entretenimento nos Estados Unidos.
 
E quando você se depara com uma organização ou uma chefia que não está tão aberta quanto você julga? O que fazer?
Chamo de adversários naturais. Aí é preciso avaliar se será um lugar onde você pode atingir seus objetivos. É preciso ter sensibilidade para avaliar a situação, e se você encontra resistência, deve mudar a estratégia e saber a hora de sair e procurar outro emprego.
 
Você tinha consciência que estava criando um método ou foi muito por intuição?
Descobri mais tarde. Fiz muita coisa na intuição. Minha ida aos Estados Unidos tinha tudo para não dar certo. Eu não tinha formação em administração, estava concorrendo no maior mercado e na indústria mais concorrida. Minhas chances eram mínimas. E aí, intuitivamente, fui aprimorando minhas fortalezas e melhorando minhas fraquezas. Acabei trabalhando com o mercado da América Latina. Acho que a experiência como músico e ser brasileiro fizeram a diferença a meu favor. Estatisticamente tinha pouca chance de vencer como venci.
 
Sua carreira de músico profissional e como você vivia não lhe bastavam?
Mesmo que eu conseguisse o sucesso, viveria modestamente. Mas eu queria fazer algo grande. E percebi que com a música isso não seria possível. E o mundo dos negócios me deu a realização que buscava.
 
Como o brasileiro é visto neste mundo globalizado?
Curiosamente o brasileiro continua sendo bem visto. Flexibilidade é uma característica favorável ao brasileiro. E isso conta a nosso favor no mundo globalizado. Talvez sejamos assim por instinto de sobrevivência. Por outro lado, nos falta disciplina. Para mim, a música me deu essa disciplina. Outra coisa que precisamos melhorar é a pontualidade e cumprir as tarefas à risca. Somos criativos e flexíveis. Mas ainda falta mais. Precisamos nos qualificar mais e melhor. E nunca parar de estudar. Isso é fundamental. Acho que nos falta a ordem e o progresso que está escrito em nossa bandeira. Precisamos de um choque para ser um grande país. O chamado “jeitinho” pode ser útil em alguns momentos. Além disso, precisamos combater a corrupção e o corruptor. Precisamos ser mais conscientes e éticos. Se uma empresa não for correta, ela vai desaparecer neste mundo globalizado.
 
Final de ano é uma época propícia para se repensar a carreira?
Todo fechamento de um ciclo, aniversário, final de ano, são momentos oportunos para traçar suas mudanças. É preciso traçar e rever o andamento de seu projeto pessoal a cada tempo. Quando você for fazer seus planos, sugiro que anote e faça o acompanhamento de como anda o seu projeto pessoal.

Quando é a hora de mudar de emprego?
Vou lhe dar alguns números. 51% das pessoas não partem atrás de uma nova oportunidade. Desses 51%, 32% só saem quando recebem um bom convite e 19% preferem ficar onde estão. E os 49% restantes, que partem para novos empregos, muitos não têm a paciência ou a estratégica necessária para aguardar uma promoção em suas empresas e se frustram. É preciso conhecer a cultura da empresa.
 
Quando é hora de se mexer e procurar novos desafios?
O dia em que você vai trabalhar no automático é a hora.

Há idade limite para mudanças?
Dou dois exemplos. O criador da rede McDonald’s começou com 52 anos depois de ser vendedor por muito tempo. Outro, aqui no Brasil, é Abraham Kasinski, que aos 82 anos resolveu montar uma fábrica de motocicletas.
 
Você ressalta a importância do networking em seu livro. Explique.
É muito importante e fundamental. Saber se vender/mostrar é importante. É preciso sair da zona de conforto. Foi assim que aconteceu comigo e outros. Um contato me levou o outro e assim por diante. Sem isso não teria tido sucesso. O curioso que os cursos de MBA pouco falam sobre isso.
 
Como foi a sua decisão que queria deixar de ser músico e partir para outra carreira?
Quando eu era músico, descobri que, mesmo se chegasse ao sucesso, não teria a mesma satisfação que tinha e tenho no mundo de negócios. Eu queria mais e sempre pensei grande. E olha que minha carreira de músico foi muito boa. Mas tenho um maior prazer em fechar um contrato.
 
O mundo corporativo é, de fato, um mundo selvagem?
O que acontece é que no mundo corporativo você é predador ou presa. O predador é aquele que vai buscar as coisas, não faz corpo mole. A presa é quem fica parado. Você escolhe se é predador/presa. O coitadinho não tem vez!

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