Com o sapato na janela

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Longe de mim ter pendurado as chuteiras. Continuo firme na intenção de construir um mundo melhor, mas reconhecendo grande dificuldade nesta hora porque não há quem esteja seguro em qualquer frente de observação. Nem aqui, nem em qualquer parte. A crise do pensamento tem produzido um “Deus nos acuda” sem fim. Só Clóvis Rossi ousou denomina-la como “pensamento fast food” para definir quão superficial e ligeiro, o que quer dizer alguma coisa como pragmático, sem princiípio, ou fisiológico, pós-moderno.
Recorro a tudo ao meu alcance para me livrar desse bang-bang ilógico, das incompreensões generalizadas e nonsenses. Vale pedir férias prolongadas visando se preservar, cartomantes, ciganas e ebós. Cadê o Enzo e o Célio Bernardes que não me socorrem com esoterismos e frases mágicas. Estou a fim de tudo. Não pendurei minhas chuteiras, mas já coloquei meu sapatinho na janela do quintal. Quem sabe em dezembro Papai Noel possa fazer alguma coisa.
O fato é que cansei de explicar o inexplicável da guerra no Oriente Médio, de compreender a incompreensível miséria dos povos africanos, asiáticos e latino-americanos. De ver caminhos para enfrentar os desastres ambientais, o degelo das calotas polares, a desertificação, enfim, a mudança climática. E o Brasil, se no seu governo, FHC viu bolsões de governabilidade, agora chegamos à pochete, pois a imensa maioria da população não tem sequer qualquer noção de cidadania, e o seu único vínculo com o Estado Nacional é a televisão, que por sua vez, na melhor das hipóteses, atende ao mercado apenas. Vejam os números eleitorais.
Recentemente fui surpreendido por uma afirmação presidencial de que os quilombolas, os índios e os ambientalistas travam o crescimento do País. Oh! Século XXI tão cibernético e tão confuso. Parece até que chegamos ao juízo final e enfrentaremos a fúria abolicionista de Castro Alves, as pacificações indígenas do marechal Rondon e os sermões de Vieira, absolutamente envergonhados.

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