A piração e o marketing

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Sou fascinado pelo poder imensurável da publicidade. Principalmente agora, na ressaca das eleições, onde frenéticos lemas e marcas ocuparam os nossos olhos e ouvidos. Alguns com inegável propriedade, outros nem tanto. Porém, o objeto maior do meu interesse é o que produz o senso comum quando quer vender o seu produto, quer seja em eleições ou em outras atividades, substituindo o saber da comunicação por uma intuição pirada.
Nessa campanha vimos um candidato brandindo um produto conhecido no mercado, com o dobrão: “Peroba neles”. Ele queria com isso, acusar os políticos tradicionais de cara-de-pau, para levar vantagens eleitorais. Pelos números não conseguiu ir muito além de comentários jocosos e um certo desdém do eleitor. Também tivemos aquela candidata pornô que, com muito rebolado e um apelo irresistível no seu material de propaganda dizia: “vote com prazer”. Mas uma outra radicalizou fazendo uma adaptação ao conhecido é “dando que se recebe” e pedia: ” Me ajeite que eu te ajeito”. Todas pensando em ganhar muitos votos.
Mas foi na ilha de Itaparica, na pequenina cacha-pregos, onde tudo foi além do inexplicável. Meu amigo e parceiro Paulinho Costa, cansado das lides paulistanas, era publicitário, compositor e cantor, resolveu partir para o mais longe e agradável de todos os lugares, que é sem dúvida “cacha-pregos”. Poucos sabiam, neste seu novo endereço, suas funções trabalhistas originais, à exceção de Brasil, nosso amigo de juventude que ficou vivendo por ali. O cotidiano massacrante de quem vive na ilha, pela manhã caminhada e à tarde banho de mar, fizeram de Paulinho exemplo de equilíbrio e de teórico praático da economia de sobrevivência. Dizia com propriedade que 200 reais era o seu orçamento mensal, e que em alguns meses ainda fazia uma caixinha. Um dia entra Brasil porta adentro, trazendo consigo um rapaz meio sem jeito, e recomendando: ”Esse é o Paulinho. O maior publicitário do Brasil. Fale seu problema “. O moço contou que estava com dificuldade de encontrar um nome para o bar que abriria em poucos dias, ali perto. O nosso herói gostou da brincadeira e, com pose, fez algumas perguntas. Fez anotações. E como se estivesse já em trabalho, despediu-se dos amigos. Entre um João Gilberto e um Milles Davis ele foi elaborando o nome do bar. Porém, na tarde do dia seguinte, boca da noite, um som de rádio mais alto que o costumeiro denunciava alguma alteração na vida do lugar. Seguindo o alarido, descobriu, sem graça, que o seu cliente estava inaugurando o estabelecimento. O que é pior… Já tinha nome. Chamava-se “Lasca Bolso”. Não há quem entenda isso. Nem ele, nem eu. Solta uma breja gelada.

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