Testemunha. Nenhuma saudade.

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Sempre me posicionei assim. Como pai da criança nunca foi o meu papel, pois lembro claramente a circunstância coletiva dos debates nas noites intermináveis do Sujinho, onde foi sonhado um bairro diferenciado: Vila Madalena. Era anos 1970. O ambiente político era irrespirável devido o autoritarismo ditatorial. E por razões diversas jovens de todo País, artistas, intelectuais e libertários, pararam por aqui. Era uma comunidade tradicional com forte influência portuguesa e obedecia a regra geral da cidade, o silêncio e medo.

As incompreensões foram inevitáveis, mas o tempo de convivência e os ventos a favor transformaram o paradigma e hoje somos todos Madalena, criativos e libertários. De tal forma que essa experiência sinaliza para toda Sampa uma possibilidade de futuro. É aqui o espaço próprio das inovações. Quer na gastronomia, nas artes plásticas ou mesmo, na apropriação do espaço urbano. Não tem dia nem hora, a rua esta sempre cheia. Agora com uma nova geração, que diga meus filhos que vivem intensamente seus eventos, sem nenhuma estratificação social.

Há quem tenha saudade dos velhos tempos. Sempre ouço isso. Do próprio Sujinho na esquina da Mourato com a Wisard e o seu saudoso proprietário Renato. Eu não tenho. Gosto de lembrar, mas gosto das coisas hoje. Gosto de sentir novas possibilidades, ver o mundo andando. Ver o Beco do Batman virar o ponto mais visitado da cidade, seus grafites, a moçada fotografando… A arte… “a arte existe porque a vida não basta”, disse o poeta Ferreira Goulart. E eu testemunho, esperando ansioso os próximos capítulos sem as amarras da saudade.

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