A arquitetura na Vila

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Foto: Div/Bob Wolfenson

Div/Bob Wolfenson
Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, arquitetos

Os arquitetos Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz têm uma total conexão profissional com a Vila Madalena.

Mineiros de nascimento viraram colegas de USP onde cursaram arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e vieram morar na Vila Madalena, “por ficar próxima da USP e por ser um bairro com clima de interior”, lembra Marcelo Ferraz que falou em nome da dupla na sede das empresas criadas por eles e com sede na Vila Madalena: o escritório Brasil Arquitetura (1979) e a Marcenaria Baraúna que está completando 30 anos de existência, onde fica o show-room.

Cadeiras Girafa (Foto/Tiago Gonçalves)

O escritório é voltado para projetos de arquitetura, urbanismo, recuperação e restaura e desenho industrial para os diversos segmentos: residência, conjuntos residenciais, lojas, restaurantes, indústrias, edifícios de uso público e institucional. Conta em seu currículo com inúmeros projetos no Brasil e no exterior, por exemplo, coma o projeto de recaracterização do bairro Amarelo, em Hellersdorf, em Berlim (Alemanha). Dos projetos que “são trabalhos que nos dão prazer de fazer”, segundo Marcelo é o Museu do Pão, na pequena cidade de Ilópolis, no interior do Rio Grande do Sul, inaugurado em 2006. Além de preservar um antigo moinho de farinha construído em madeira, o projeto incluiu áreas para uma escola de padaria e um museu do pão. Atualmente, outro projeto semelhante, em Arvorezinha, próxi ma à Ilópolis será a sede do Museu da Cerâmica.

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Show-room da Marcenaria Baraúna (Foto/ Tiago Gonçalves)

Na Vila Madalena, Marcelo informa que um dos projetos deles, chamado de Pavilhão Girassol, na Rua Girassol, “não existe mais, infelizmente. Ele foi demolido e deu lugar a um novo prédio”, lamenta. Mais recentemente, criaram e produziram o mobiliário do restaurante Tuju, na Rua Fradique Coutinho. Há outros projetos em andamento pela cidade.

Marcelo e Francisco dividem seu tempo como professores, aos projetos arquitetônicos, e a criação de mobiliário que fabricam na Marcenaria Baraúna, foi criada em paralelo com o escritório para fabricar os móveis que projetavam. Marcelo faz questão de que ser chamado de “arquiteto de móveis” e não de designer de móveis. “O termo designer perdeu o significado pelo uso indiscriminado”, justifica.

Um desses projetos é a cadeira Girafa que, desde o ano passado, faz parte do acervo do MoMA  (Museu de Artes de Nova York), um dos mais famosos museus do mundo dedicado à arte moderna. “É um orgulho muito grande de ter seu trabalho reconhecido internacionalmente”, diz Marcelo criou a Girafa em parceria com os arquitetos Marcelo Suzuki e Lina Bo Bardi (1914-1992). Com Lina, Marcelo trabalhou por quinze anos e lembra que “foi maravilhosa como pessoa e arquiteta”. Depois da morte dela, Marcelo, por quinze anos, dirigiu o Instituto Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi onde concebeu e coordenou o “Projeto Lina Bo Bardi”, com a publicação de um livro e exposição sobre o trabalho da arquiteta, que entre outras obras, projetou o MASP.

Sobre a longevidade da sociedade no escritório de arquitetura e na marcenaria, Marcelo analisa que “é uma longa relação de 37 anos, mas onde os dois colaboram e participam dos projetos comuns” e só há uma separação quanto ao mobiliário, “neste caso, na maioria das vezes, é um trabalho individual, mas não deixamos de opinar um no trabalho do outro”, lembra.

Como arquiteto e urbanismo, Marcelo compara o crescimento da Vila Madalena desde quando chegou em 1974 para estudar. “Vim morar na Vila por ser perto da USP, onde estudava, próxima do centro, o clima bucólico e com um custo de vida mais barato. Hoje, a localização da Vila Madalena, é lugar de passagem para quem vem da zona Oeste e da Avenida Paulista em direção à marginal Pinheiros. Se ela não tem o mesmo número de prédios como outros bairros, isso não aconteceu devido aos morros que a Vila têm. Se fosse plana, já estaria muito mais ocupada”.

Marcelo critica a falta de praças da Vila Madalena. “Mas é um reflexo da cidade que tem uma pobreza em matéria de espaços públicos”. Lembra que os bairros são orgânicos e vivos e estão sempre em mudança. Quanto à fama que vai além das fronteiras do Brasil, Marcelo diz que “as pessoas que vêm até aqui podem se frustrar. Para alguns, a Vila seria o Village, de Nova York com sua contracultura e isso é legal”, porém cita o carnaval que nestes últimos anos têm lotado as ruas do bairro. “Não sou contra a festa, mas tem hora que o bairro não consegue absorver tanta gente. Aqui vem gente de outros bairros de São Paulo, de outras cidades e até do exterior. É uma loucura!” Sinaliza que a cidade deveria ter outras “vilas madalenas”.

O mesmo se aplica, segundo Marcelo, em relação à ocupação imobiliária da Vila Madalena. “As ruas da Vila são estreitas e dificulta o trânsito, e ela não aguenta tantos prédios. Há uma limitação física. Temos, por lei, uma limitação de construir até oito pavimentos, mas vemos por aqui tem certas aberrações que estão dentro da lei”, critica. Mas teoriza que viver em cidade é o palco maior da tolerância. “Cada um tem seu interesse e quem vive em cidades precisa exercitar a tolerância”.

Como ponto positivo da Vila Madalena, Marcelo acredita que é “um foco de questionamento e resistência”, e exemplifica com a tensão entre bares e moradores e que não sabe qual será o resultado final. “Mas esse conflito mostra que as pessoas, por aqui, pensam em seu bairro e na cidade”.

Brasil Arquitetura e Marcenaria Baraúna, Rua Harmonia, 101, Vila Madalena, Telefones 3815-9511 e 3813-3972, www.brasilarquitetura.comwww.barauna.com.br

 

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