É histórica, no Brasil, a convivência entre o Estado oficial e um mundo paralelo. A economia alternativa, que chegamos a admitir a marca de 50%, é a prova incontestável dessa tese. Até um tempo atrás, vínhamos administrando com certa competência essa dualidade, mesmo nas crises políticas mais sérias da nossa história.
Porém, a visibilidade de organizações criminosas, milícias, grupos religiosos e outras lideranças extraoficiais sugere um desequilíbrio a favor desse universo outsider. Vendo o crescimento dessas populações marginalizadas, principalmente na periferia das grandes cidades, cheguei a pensar na necessidade de constituir um grupo de pensadores para um programa de inclusão política.
As tais manifestações de junho do ano passado encheram o Brasil de interrogações, e a mim, a necessidade de enquadrá-los, de descobrir a que lado pertencia nessa dicotomia. Hoje, tendo a considerar esse movimento um breve curto-circuito, muito ligado ao novo fenômeno da internet.
O leitor deve estar pensando se eu tenho algum lado nessa história. Confesso que tenho grande simpatia pelas movimentações extraoficiais. É da minha natureza a rebeldia, a contracultura, e aqui mesmo já me referi a esse meu caráter não governamental. Mas tenho grande preocupação com o desordenamento sistêmico.
Saindo das eleições de outubro, observei um silêncio conspirador na sociedade brasileira, decidindo por um voto conservador aos 45 do segundo tempo, rejeitando qualquer sentido de mudança e optando claramente a favor “do jeito que está”. “Para derrubá-los, é melhor assim”. Daí, a preocupação com nosso futuro. A desesperança é um rio fora do leito.
José Luiz de França Penna
Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena