Já vi muita gente ajuizada cair na armadilha da suposição do monstro que está por trás de um simples desentendimento. A grande trama imaginada desfaz qualquer possibilidade de diálogo. Diálogo é do bem. O silêncio conspirador é do mal. E há, nesses casos, uma opção pela segunda hipótese quase que prazerosa. Seria por ser mais criativa? Não sei exatamente. Mas constato, em muitíssimos casos, essa tendência. Disparamos todo um sistema de autodefesa, um contra-ataque urgente para sairmos do cerco, às vezes por nada. Apenas um desacordo, porque não soubemos simplesmente dialogar.
Um conselheiro amigo tem advertido sobre esse momento eletrônico de nossas vidas. E acha que essa forma de comunicação, e-mail, Facebook e Whatsapp, tem aumentado muito esse comportamento. Ninguém pergunta mais por quê? Apenas interessa responder no bate-pronto. E quanto mais rápido melhor. Inevitavelmente a reflexão será sobre bases já ultrapassadas. Impressões antigas, como se o mundo não corresse a mil por hora. Defendo, portanto, uma espécie de armistício entre os seres humanos.
João disse que eu não gostava de samba, porque escrevi isso no Guia da Vila Madalena. Eu disse não. Disse apenas que não gostava de me fantasiar. Pronto. Acabou o desentendimento. Um outro leu que não gostava de automóvel. Não disse isso. Disse que não se deve tentar resolver o problema da mobilidade urbana com o carro, que é transporte individual. E tome trânsito infernal na veia do paulistano. Outras observações desse tipo, sempre que posso, explico.
Mas fico pensando na raiz desse comportamento. Não pode ser o veículo de comunicação o causador da dificuldade. Não deve ser o País que está realmente conturbado. Penso nos estruturalistas que achavam a guerra uma explosão periódica de sadismo (Ortega e Garse). É que estamos ficando raivosos e isso me preocupa. A raiva nos trai. A raiva desaconselha.
José Luiz de França Penna
Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena