Uma coisa que sou é testemunha do processo que levou a Vila Madalena ao sucesso. E é fácil narrar isso para quem esteve presente todo esse tempo. De um espaço urbano esquecido na cidade, a uma referência de futuro. Certa vez estávamos todos no Empanadas, quando de repente houve uma invasão de gente estranha ao nosso meio, observamos que tinham chegado num ônibus de turismo. Era a primeira invasão desse tipo. Tudo muito inusitado, o que provocou algumas reações curiosas. Os mais ranhetas diziam que estavam com a privacidade devassada, outros riam da circunstância, a exceção do Mineiro que aproveitou para tirar fotos com as pessoas que vieram posar com os artistas. Ele, claro, posando como um verdadeiro Spike Lee. O que foi muito divertido. Lembro do rosto de Mario Mazetti, saudoso e querido amigo, rindo de chorar com a cena.
Pronto. Era a confirmação que tínhamos conquistado a fama nacionalmente. Mas não parou por aí. Tempos depois, viajantes internacionais por aqui apareceram. Uma leva de moças espanholas curtiram tanto o nosso pedaço que resolveram importar alguns representantes. Foi o caso de Riba Osted e Nica Empresário por exemplo. Do primeiro sabemos que ainda anda por lá. O outro voltou falido e chamando todos de “parvos estúpidos” com forte sotaque lusitano. Aí era o mundo aos nossos pés. O que se repetiu nas comemorações da Copa. Recentemente o Beco do Batman transformou-se na maior visitação. Não tem nenhum museu de São Paulo que tenha a sua frequência. E o artista Ninguém Pode com sua turma, recepciona a todos.
É assim. Quisemos mudar o paradigma do pedaço. Conseguimos. Mas não tínhamos ideia do preço que iríamos pagar. Um contingente enorme partiu em busca de menores custos. Uns foram pro Alpes do Taboão, como dizem alguns jocosamente, sobre quem atravessou os limites da cidade, pra aquelas bandas. Outros para o Morro do Querosene. Tudo aqui melhorou, é verdade, mas ficou muito distante das possibilidades do nosso povo original. É o preço do sucesso, que não sabíamos que tínhamos que pagar.
José Luiz de França Penna, presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena