Você acorda com o noticiário espalhando péssimas informações sobre tudo. Políticos roubando o dinheiro público. Assaltos espetaculares e guerra entre facções criminosas. Também catástrofes climáticas, tsunamis, terremotos para dramatizar mais intensamente este instante. Tudo nos conduzindo ao caos. Daí chega a hora de sairmos de casa e encontramos o mundo funcionando como sempre. A padaria com seu habitual serviço. O transporte público, mesmo abarrotado, fluindo e a nossa gente com seu perfil alegre, pacífico e trabalhador.
Será que o departamento comercial das emissoras determinam essa pauta? Se for assim é porque gostamos de consumir esse produto. Um prazer bastante mórbido. Ou querem levar agente a crer que essa é a nossa realidade. De todo modo precisamos observar que existe um descompasso entre o noticiado e a vida das pessoas.
O espirito conspirativo, tão em voga hoje, sugere que pode haver uma armação para destruir o caminho da democracia, abrindo espaço para um regime autoritário. Nas entrelinhas podemos ler a inutilidade da via democrática, porque levará sempre a um cenário desolador, e que precisamos urgentemente de um gesto moralizador, da recuperação da autoridade. Essa desconfiança se amplia quando no meio da grave crise econômica que vivenciamos, um vírus oportunista, pregando a salvação, pode efetivamente convencer a todos.
Prefiro acreditar no histórico do povo brasileiro. No fenômeno teflon, onde nada nos pega, para atravessar essa nevasca. Mas é bom registrar que entre o noticiado e o nosso cotidiano a uma distância considerável. Esse momento não nos reflete.
José Luiz de França Penna, Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena