Ao longo dos anos, talvez séculos, o estado nacional foi se atrofiando perigosamente. A maioria da população foi sendo posta a margem do poder, e essa desproporção chegou ao dia de hoje numa situação limite. Estamos vulneráveis a qualquer crise. E nossas autoridades repetem que as instituições estão funcionando perfeitamente e a massa excluída pergunta; Quem? Onde? Ou, do que eles estão falando mesmo? Essa relação jocosa foi durante muito tempo fonte de inspiração para o humor escrachado e, para muitos, definidor da brasilidade.
Não tenho qualquer pretensão de analisar profundamente a sociedade pátria. Deixo para a ciência essa missão. Mas a observação do cronista, que é a vida cotidiana, anota mudanças importantes. Quadrilhas, organizações criminosas, briga de facções, que eram expressões vinculadas à classe baixa da sociedade, agora também são habituais aos de cima, o que faz uma série de referenciais perderem sentido. Quem ganha com isso? O moralismo idiota. O avanço espetacular da burrice.
Se você perguntar como sair dessa, sinceramente… Não sei. Penso que só uma situação de fartura internacional, excesso de dinheiro no mundo, é que talvez possa mudar o rumo das coisas aqui. Claro que um mercado de duzentos milhões de consumidores não pode ficar a margem desse processo. E o que é alentador são os sinais de que isso pode acontecer.
No entanto, enquanto seu lobo não vem, ao sabor da estupidez, vamos sofrendo todo tipo de agressões a inteligência, ao conhecimento, revelando a intolerância em várias frentes, religiosa, sexual, sócio-racial e a mais nova que é ao artista e a arte. E quem sofre com isso? O sonho de um futuro melhor.
José Luiz de França Penna, Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena