O goleiro Danilo da Chapecoense havia se tornado o herói do jogo contra o San Lorenzo da Argentina, quando defendeu com a ponta do pé direito e não com as mãos, um chute à queima-roupa nos acréscimos finais do segundo tempo. O sopro sempre esteve em tudo por um triz. Existe e persiste a possibilidade de sempre ter um “se”. Essa defesa levou a Chapecoense para a disputa final em Medellín, na Colômbia. Se aquela bola tivesse entrado, a história seria outra.
Aquela bola bem que podia ter entrado!
Jovens idealistas em plena ascensão estariam em outro voo, menos nesse. Sonhos apenas no início de tornarem-se real, por um sopro transformou a história de êxitos em ponto final. O aeroporto de Medellín estava só a trinta quilômetros de distância, por um sopro de novo não chega à pista, por um sopro não foi campeão sul-americano. Por um sopro, setenta e uma famílias deixam de brindar a virada deste ano.
Quando essa crônica for publicada estaremos já há alguns dias da tragédia. A caixa-preta do avião, por enquanto, ainda guarda os culpados do acidente, onde geralmente o responsável eleito estará entre as vítimas.
De qualquer modo sabe-se até agora que o plano de voo era falho e grosseiro, muita distância para pouco combustível.
Enquanto milhões de pessoas ainda choram pelo mundo todo, um grupelho de cinquenta parlamentares conspirava na calada da noite a aprovação de novas leis que livrariam suas próprias vidas de duras penas, como sempre.
No dia seguinte, na foto do jornal, um garoto sozinho sentado na arquibancada, olha o campo vazio. Num sopro, saio de imediato onde estou e vou me sentar a seu lado e sem que perceba, uma lágrima minha cai sobre seu pequeno ombro e goteja no jornal como um ponto final.