Digo não. É proibido proibir

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Pensei, esta noite, que estava num debate presidencial. Claro, dormi muito mal e sem saber o que estava fazendo ali. E aquela neutralidade dos mediadores exalando uma autoridade sem fim, cortando minhas intervenções por tempo esgotado ou por não ser minha vez, justo eu que sempre achei a disciplina um instrumento de coerção, rebelde sem causa que sou. A vontade era virar a mesa perguntando pra eles: “E qual é a sua opinião, seus engomadinhos?”

E assim, os campeões nas pesquisas trocavam perguntas entre si, me isolando de maneira ostensiva. O que é pior: falando coisas muitas vezes incompreensíveis no intuito claro da enrolação, a mando dos marqueteiros. Estes, com os cabelos em desalinho. Olhar cansado de tanto pensar. Maço de papéis nas mãos. Tudo para falsear a mediocridade como se o real fosse algo possível de manipulação. “Vamos supor que a realidade existe”, disse Gabeira uma vez. E eu ali vendo o espetáculo, deprimido, olhando para a porta de saída com vontade de sumir. 

Olhava para a cara dos candidatos. Os semblantes de cera como nos filmes de terror. O laquê parecia se espalhar pelos rostos, e as câmeras corriam focando aqui e ali enquanto falavam professorais. O Brasil do debate não existe nem na Pensylvania, pensei. E se chegar a hora de perguntarem? Levantei. Bebi um copo d’água. Vi que era apenas um exercício do meu inconsciente para jamais passar por aquilo. Mesmo porque seria um desastre. Minha geração 68 dita a desconstrução. Digo não. É proibido proibir.

José Luiz de França Penna
Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena

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