Leonardo Brant: documentando a realidade

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Através do cinema documental, Leonardo Brant coloca em prática sua forma de encarar a realidade. “Fazer na prática o que estou pensando”, diz ele nesta entrevista exclusiva.

Mineiro de Belo Horizonte, Leonardo Brant está em São Paulo desde a infância. Profissional eclético ele se define “além de empreendedor, me defino como um pesquisador de políticas culturais e documentarista”. O morador da Vila Madalena que está na região desde 2010, vê com certa preocupação o crescimento de inúmeros empreendimentos comerciais, que “acabam ilhando quem mora em casas, como eu. Aqui na região onde moro estão sendo construídos oito prédios!”, contabiliza.

A história de Leonardo passa por produtoras de filmes, publicidade e campanhas políticas. “Comecei muito jovem a trabalhar em produtoras e acabei desistindo pelo ritmo frenético. Fazia roteiros, atendia clientes e só não fazia o mais legal que era filmar e editar. Vi que não tinha tempo para nada, nem namorar!”. Mas lembra que foi uma grande escola e “ter trabalhado com o Ricardo de Carvalho, da Produtora Argumento, que não existe mais, foi muito bom!”.

Como empreendedor que faz questão de ressaltar “acho que já criei mais de 20 empresas, sempre ligadas à cultura”. Atualmente é sócio da produtora Deusdará Filmes. Casado com a também documentarista Graziela Mantoanelli forma uma dupla que se complementa. Ela participou do documentário “Comer o Quê?” que Leonardo dirigiu e trata de alimentos, suas origens e tem entrevistas com nomes como o chef Alex Atalla, o ator e produtor orgânico Marcos Palmeira, Preta Gil e outros profissionais que analisam sobre a importância da comida, sua origem e significado. O trabalho está disponível na plataforma de TV a cabo (NET). Leonardo também participa de eventos onde após a exibição do filme ele participa de discussões com o público sobre o tema e o documentário como forma de expressão. Assim aconteceu na sede do Sindicato dos Bancários com a parceria do CineB em fevereiro.

Divulgação
Livro “O Poder da Cultura”, de Leonardo Brant
A ligação com a cultura o levou a escrever cinco livros abordando o tema de uma forma ainda então não focada. No livro “O Poder da Cultura” (Peirópolis, 2009), o autor analisa a cultura e sua função política, o relacionamento dela e o desenvolvimento do país e os desafios que autores e agentes culturais enfrentam na atualidade. Outro livro, “Mercado Cultura, Diversidade Cultural”, Leonardo foi o organizador que apresenta uma análise do mercado cultural no Brasil, tema então ainda pouco abordado.


Sempre focado na indústria cultural, Leonardo trabalhou na mídia impressa e chegou a ser diretor da Revista Imprensa, voltada para o mercado publicitário e jornalístico. “Foi lá que criei conteúdos editoriais que vendemos para marcas e empresas interessadas. Um exemplo foi a sala de imprensa que fizemos com a Coca-Cola na Copa do Mundo da França em 1994 e que coordenei todo o projeto. Também criei seminários de tele-jornalismo e chamamos profissionais como Peter Arnett, da CNN (jornalista famoso pela cobertura da Guerra do Iraque), o John Simpson da BBC entre outros, que aconteceu em Salvador. Quando saí da revista, montei uma empresa de consultoria que produzia música e teatro e vendia para as empresas. Eles tinham o dinheiro e não sabiam como investir na área cultural. Foram 20 anos neste segmento. Fazia política cultural para grandes marcas como Vivo e outras. Mas hoje o mercado está diferente.

Na definição de Leonardo, documentários para ele “são artesanais e gosto da vida como ela é. A ficção é um produto fechado. Gosto das opções criativas que o documentário oferece, suas formas narrativas. É possível criar um novo mercado e essa é a ideia do projeto DocMakers do qual participo juntamente com outros profissionais. Precisamos conhecer bem a audiência, suas carências, informações, conteúdo e hoje graças às mídias sociais está mais fácil fazer a divulgação”, define.

Leonardo lembra que os documentários brasileiros têm qualidade e são reconhecidos em todo o mundo. “Ainda é pouco conhecida pelo público em geral. É histórico que a indústria cultural e o fomento estatal não olham para o documentário como ele deveria ser visto. As escolas de cinema ainda tratam do documentário de uma forma filosofal e a Unicamp é o principal centro acadêmico”. Ressalta que o documentário não é jornalismo. “O diretor sou eu. Tenho compromisso com a verdade e preciso ser ético mas não preciso necessariamente ‘ouvir o outro lado’”, explica.

Para quem quer saber mais sobre o ofício, Leonardo e Carlos Igareda criaram o Movimento DocMakers que através de tutoriais discute o documentário e dá dicas de como entender e realizar. Porém, está produzindo um longa-metragem que será “uma ficção escrita pela Telma Guedes, dramaturga e escritora de novelas para a Globo e que tem um prêmio Emmy na carreira. Ainda não começamos a filmar”, informa.

Em agosto deste ano será lançado o documentário “De peito aberto”, da também documentarista Graziela Mantoanelli, esposa de Leonardo. “Temos uma boa parceria na vida e no trabalho. A Graziela participou do meu filme “Comer o Quê?” e eu participo do filme dela que acompanhou por seis meses, seis mães e seus filhos em seus primeiros meses de vida. São mulheres de várias regiões de São Paulo e de diferentes classes sociais”.

A Vila Madalena ainda não foi tema de um documentário de Leonardo, “mas pretendo fazer uma sequência do Comer o Quê? e pretendo incluir gente do bairro como o Instituto Chão, Chef Vivi e outros”.

Sobre a Vila Madalena, ele diz que tem um circuito que inclui os restaurantes Chef Vivi “o melhor restaurante da região pelo empenho da Vivi”, o Sabiá e o Martin Fierro, “que vou sempre que posso”. (Gerson Azevedo)

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