Ninguém entende bem, porque as datas flutuam a cada ano. Brinquei no artigo anterior acusando o equinócio pelas chuvas no carnaval, com o propósito de tirar um sarro sobre essa ignorância. Lembro de quando era menino, um amigo chegar esbaforido para comunicar a grande descoberta: ”Domingo de carnaval vai cair na segunda. Quarta-feira de cinzas na quinta. Enforcamos a sexta e só vamos à escola na segunda.” Borocozinho se assustou com a gargalhada da turma. Sim. Era assim que o chamávamos. E o equinócio, pelo pedantismo e desconhecimento do significado.
Mas não foi essa a interpretação. Os mais próximos cobraram falta de coerência. Como esquecer o aquecimento global? Ele deveria ser o acusado principal pelas chuvas no carnaval. Enfim, não tinha levado a sério o tema. É o que tentavam dizer. Mas não tive a intenção de comprovar cientificamente o fenômeno. Mesmo porque o reinado de momo pede tudo, rebolado, golden shower, menos rigor científico.
Outros mais pragmáticos tentaram me fazer lembrar que sempre foi assim. Não sei como você pode esquecer aquele ano que as fantasias da Pérola Negra entupiram os boeiros causando uma inundação sem precedentes no nosso pedaço. Aceito a informação da inundação, mas nunca acreditei que tenham sido as fantasias. Essa versão deve ser fabricada pelos inimigos clássicos do festejo. Além de que as “chuvas de verão” têm características de serem intermitentes, ou seja, dá e passa e não foi isso que aconteceu.
Mas a mais grave observação veio quase sussurrada. Di França me disse que o culpado do carnaval em março não é o equinócio, e sim a lua cheia. Agora ficou impossível. Querer que o cronista leve a lua cheia ao banco dos réus é pedir demais. Pode haver toda certeza científica, e ele afirma que é a primeira lua cheia depois do equinócio quem determina a quaresma, e quarenta dias antes o carnaval, retiro tudo que disse. A lua merece um Habeas Corpus preventivo.
José Luiz de França Penna, Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena