Sair de casa hoje é desafiar um perigo enorme. Nem que seja pra passear com seu cachorrinho. Essa é a sensação que me dá ao ir às ruas. Vejo as pessoas recuadas. Vigilantes. Muitas sem cachorro, mas mascaradas. E eu já há tanto tempo recluso, tive a feliz ideia de comprar uns pãezinhos frescos e parti pra padoca. Estacionei o carro e descobri que tinha esquecido a tal máscara. Vou ou não vou e… fui. Todos me olharam com ar de censura. Portando suas máscaras com os mais diversos motivos. De times de futebol a motivos afro. É como se estivesse completamente nu.
E olhem que essa padaria é aquela que sempre vou, ali na Rodésia, aumentando muito a minha inquietação. Será que valeria a pena pedir desculpas e prometer que jamais esqueceria de novo a máscara? Tentei abrir um dialogo, não consegui. Diante de tal clima faço isso daqui destas linhas. O que, pelo menos pra mim, alivia a sensação.
O interessante é como a sociedade se organiza rapidamente quando compra uma ideia. E olha que não é um momento simples pra que isto aconteça. Temos crise política, crise econômica e principalmente de credibilidade. Mas passou-se por cima de tudo isso, criando esse novo comportamento. O negócio ficou tão sério que os dois personagens com quem estive Mineiro e Dr. Celta, portavam suas máscaras orgulhosamente.
Vamos em frente. Os sabiás-laranjeira já cantam nas madrugadas da Vila, como que dizendo, além das necessárias máscaras, tudo continua a favor da vida.
José Luiz de França Penna, Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena