Ícone do futebol, Walter Casagrande Jr mora na Vila Madalena. Sua trajetória inclui sucesso no campo e de momentos difíceis na vida. Hoje é um dos principais comentaristas do Brasil e nesta entrevista exclusiva fala um pouco de tudo.
Nascido na zona Leste, Casagrande ou Casão como muita gente o chama começou jogando futebol de salão pelo Clube Esportivo da Penha aos seis anos. Aos 12, entrou no time dente de leite do Corinthians, o time que a família sempre torceu. “E depois fui para o juvenil e treinava com os profissionais do time principal. Me destaquei cedo. E meu início como profissional aconteceu quando o Corinthians me emprestou para o Caldense. Aí deixei o salão e foquei no campo que era o meu objetivo”.
Segundo a contagem feita pelo site do ex-jogador de futebol, foram 514 partidas oficiais e 221 gols marcados. Jogou por vários clubes, aqui no Brasil — Caldense, Corinthians, São Paulo, Flamengo, Paulista de Jundiaí e São Francisco, da Bahia. No exterior defendeu o Porto (Portugal) e os italianos Ascoli e Torino. Foi convocado pelo treinador Telê Santana para a Copa do Mundo de 1986 no México, pelo Brasil. Jogou 19 jogos pela seleção brasileira e converteu 8 gols. Uma carreira e tanto.
Identificado até hoje com o Corinthians, Casagrande tem a simpatia de torcedores de outros clubes por sua postura e atitudes. A amizade dentro e fora do campo com o craque Sócrates é uma história de amizade entre jogadores e amigos. No livro “Sócrates & Casagrande” (Globo Livros), escrito por Casagrande e Gilvan Ribeiro a história é contada sem rodeios. Além da carreira futebolística dos dois no Corinthians e na Seleção Brasileira trata de política. A “Democracia Corintiana” criada por Adilson Monteiro Alves, Casão, Magrão e Wladimir permitiu que os jogadores do clube participassem ativamente da vida política do País, em uma época de repressão.Também foram personagens importantes no Movimento pelas Diretas Já que pedia a realização de eleições diretas, infelizmente não aprovada pelo Congresso Nacional da época.
Mas além de política, Casagrande e Sócrates, tiveram problemas. Sócrates foi dependente de álcool [que causou sua morte precoce] e Casagrande com cocaína. No livro, Casão conta a luta do amigo para vencer a dependência.
Comentarista da TV Globo há 27 anos, Casagrande teve momentos difíceis por conta da dependência. “Por uso de drogas me envolvi em um acidente de carro na Lapa e depois daquilo fui internado para me tratar”. No primeiro livro, “Casagrande e Seus Demônios”, escrito em parceria com Gilvan Ribeiro é contada o caminho que percorreu para sair desse mundo das drogas. Por conta deste livro, “Sou parado nas ruas por pessoas que leram o livro e indicaram para outras pessoas com o mesmo problema”, conta.
Casão adianta que em breve vem um novo livro onde ele conta, em parceria com Gilvan Ribeiro, como foi “a trajetória de recuperação e a ressocialização depois deste tempo de dependência química. Você se sente perdido e percebe que a vida não parou enquanto você estava se tratando. É a minha história desde 2008, quando fui e voltei da Copa do Mundo sóbrio. Tive o acompanhamento de psicólogas que me ajudaram e muito a retornar a vida normal”.
Falar de futebol é o trabalho do comentarista Casagrande. Seu jeito sincero e direto de criticar ou elogiar um jogador, treinador ou dirigente é uma característica que boa parte da torcida aprova. Quem gosta de futebol e vê programas esportivos na Globo ou no SporTV, pode ver Casão cobrando de craques como Daniel Alves, Tinga, Neymar-pai, Tiago Neves, uma postura mais relevante na vida brasileira ou questionando atitudes dentro e fora do campo.
O racismo e a homofobia dentro e fora dos estádios, que Casagrande condena, sempre existiram: “Isso é uma questão que temos que mudar e conscientizar a sociedade. Não podemos compactuar com esse comportamento”, diz o ex-jogador.
Ele gosta da volta do futebol ofensivo que é um espetáculo. “Felizmente está voltando e a torcida volta para os estádios. Os treinadores estrangeiros como Jesus no Flamengo, Sampaoli então no Santos e os brasileiros Renato Portalupi do Grêmio, Vanderlei Luxemburgo do Palmeiras e Thiago Nunes no Corinthians têm uma visão ofensiva e a torcida estava cheia de jogos de retranca”.
Para ele, Tite pode não chegar ao Catar em 2022 se a seleção brasileira não melhorar. “Espero que o Tite convoque Gabigol, Gerson e Bruno Henrique e como titulares! E acho que o presidente da CBF, Rogério Caboclo, não vai querer correr o risco do Brasil ficar fora da próxima Copa. E se o time do Tite não melhorar, ele corre o risco de cair!”
Depois da volta da Europa, o ex-jogador morou em Perdizes, depois em Alphaville e Vila Leopoldina até chegar em 2007 à Vila Madalena. “Gosto daqui porque é um lugar super democrático, pelo estilo de vida das pessoas e tem muita arte”. Perguntado por onde anda, cita de bate-pronto: “A Livraria da Vila, as padarias Le Pain Quotidien e Letícia. Vou muito à CineSala, [que tem como sócio o jogador Raí], e sempre que estou por aqui e posso vou à praça Benedito Calixto e almoço por lá no Consulado Mineiro ou no Consulado da Bahia. Circulo livremente e sou parado só para tirar uma selfie”. (GA)
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