Não bastasse a confusão diária, desse País desengonçado, ainda nos ocorre vez em quando, situações agudas de angústia. Me refiro ao prazo para a declaração do imposto de renda. Lembro que não tenho a menor ideia como achar o meu contador. Ponho todos na missão quase impossível de encontrá-lo. E o noticiário insiste incansavelmente na contagem regressiva para o final do prazo. Ligo pro Alê, pra Sandra, são vagas as informações sobre o paradeiro do contador. Enfim… Ele ligou. E precisa disso e daquilo… Coisa que não sei. Paira no ar uma crítica velada sobre a minha incompetência. Será que eles não sabem que isso é geracional? Sim. Sou da geração meia oito, e isso quer dizer que a cinquenta anos rompemos com esse tal sistema.
Pois é. Faz cinquenta anos que o mundo viu, em maio de sessenta e oito, o maior movimento contestatório da história moderna. Ficou conhecido como ”É proibido proibir”. Na verdade era uma mudança radical na concepção de mundo. O poder jovem, como nós o chamamos, trazia uma consciência planetária, uma crítica profunda a opressão do estado sobre o indivíduo e portanto, um desejo expresso de construirmos uma democracia libertária. Era de tal modo impactante, que nada mais importava. Tudo o que foi feito antes, os avanços da produção capitalista, o acúmulo do conhecimento científico, a discussão política estruturante, não era levado em conta, como é habitual em situação utópica.
Já estou muito rodado para mudar meu comportamento. Mas a crítica deve se manter desperta. Hoje vejo o quanto fomos ingênuos. O “old power” se reestruturou fortemente e retomou o comando dos rumos da humanidade. E continuou com o processo de repressão das pessoas, seu movimento brutal de concentração de renda, e pouquíssimos sinais de avanço se nota. Daí, se me perguntarem… valeu a pena? Valeu. Foi um lindo sonho… mas o sonho também envelhece.
José Luiz de França Penna, Presidente de Honra do Centro Cultural Vila Madalena