Surfistinha passa pela Vila

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O filme Bruna Surfistinha, lançado no último dia 25 de fevereiro, marca a estreia do diretor Marcus Baldini, sócio da Damasco Filmes, com sede na Vila Madalena. Nesta entrevista, o diretor fala sobre o processo de produção e das filmagens do longa-metragem que tem Deborah Secco no papel principal. O filme começou muito bem. Nos primeiros dias de exibição, foi visto por cerca de 500 mil espectadores, segundo o site Filme B. O filme foi inspirado na história de Raquel Pacheco, ex-garota de programa que escreveu o livro “O doce veneno do escorpião”, onde contou sua vida na mais antiga das profissões. O elenco tem também Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Fabíula Nascimento, Cris Lago e Guta Ruiz. Teve um orçamento de R$ 6 milhões e levou nove semanas, entre outubro e novembro de 2009, para ser concluído.

É seu filme de estreia, certo? Até então você só fez filmes publicitários e vídeo clipes?
Sim, sou formado pela Escola de Comunicação e Arte da USP e fiz muitos filmes publicitários e também vídeo clipes para TV como na MTV e HBO.

Como você chegou até a Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha?
Li o livro antes do lançamento, através do jornalista Jorge Tarquini, que escreveu o livro junto com a Raquel. Eu já trabalhei com ele em outros projetos. Eu procurava, como sempre faço, alguma história que poderia ser transformada em filme e ele me mandou o livro. Achei que a história daria um filme e comprei os direitos para filmá-lo em 2006.

O que você achou de interessante na história dela para virar um filme?
Quando eu li o livro, me interessei pela história, pelo contraponto de uma menina que estava querendo se encontrar e tomou aquele caminho tão difícil, tão peculiar. Isso me motivou a fazer o filme.

O filme é fiel ao livro da Raquel?
O filme se baseia no livro, mas tem um recorte que é o meu olhar. Escolhi o lado da história que queria contar, sem comprometimento com a realidade. O roteiro é fiel as emoções da personagem.

Quais as diferenças entre a Raquel do filme e da Raquel do livro.
As mudanças são muito difíceis de pontuar. O que eu queria fazer e fiz foi um roteiro do filme diferente do livro da Raquel. Queria fazer um filme que contasse sobre essa menina sem a preocupação de dar um tratamento biográfico e desde a hora que ela saiu da escola, nesta ordem. O importante para mim era que tudo fosse muito coerente com a trajetória emocional dela, as dores que ela sentia. Essa foi a abordagem. E todos os filmes que têm uma adaptação em livro ou fatos reais tem um olhar especial. Eu acho que fazer cinema é uma forma de olhar uma história.

A Raquel opinou sobre o roteiro? Até onde foi a participação dela na produção do filme?
Ela foi muito parceira na hora de fazer o roteiro. É a personagem e o filme é baseado na vida dela. Quando a Déborah Secco e a Raquel se conheceram e começaram a conversar, percebi que as duas se completavam. A dor que uma sentia, a outra entendia perfeitamente. Roterizei e filmei de acordo com a história que eu queria contar. Não tinha porque ela opinar no roteiro. Ela não é roteirista. Primeiro eu construí a personagem. E depois apresentei para ela ler e discutir. Nas conversas que tivemos, ela falava de um detalhe e alguns deles eu inclui no filme. Outros não, como a cena do irmão dela onde ela trabalhava. Mas não houve entre nós um momento onde eu perguntava à Raquel se aquela cena seria assim ou assado.

O público vai ver que tipo de Bruna?
O filme mostra como a Rachel agia. Não quer julgar a trajetória e as escolhas da Raquel. Neste período a vida dela teve diversão, alegria e felicidade no cotidiano e teve os momentos difíceis, como a vida de todo mundo, inclusive na vida de uma garota de programa. Eu quis colocar no filme as emoções e as cores da vida da personagem.

Qual mensagem o filme passa para o público?
O filme não mostra só o lado legal e interessante que é uma garota de programa. Mostra vários lados. Está longe de fazer uma apologia para a profissão de garota de programa.

O filme estreou com quantas cópias e por todo o Brasil?
Foi um lançamento nacional em 350 cópias pelas principais salas de exibição, principalmente Rio e São Paulo.

Você pretende inscrever o filme em algum festival, aqui ou no exterior?
Na verdade, estamos estreando no circuito comercial e ver como filme vai ser aceito pelo público. Acho que teremos alguma polêmica e depois vamos tratar de festivais. Mas iremos inscreve-lo em alguns, com certeza. E queremos lança-lo no mercado externo.

Sobre a pirataria. Como evitar? Tem alguma tática especial para evitar isso?
Nós tivemos um grande cuidado no processo de produção, montagem e agora estamos tomando medidas na entrega das cópias. A gente sabe que a pirataria é algo meio inevitável. Mais cedo ou mais tarde, isso pode acontecer. Mas estamos atentos para que isso não atrapalhe a trajetória do filme.

O filme tem cenas bem ousadas e foge ao padrão do que se vê na TV e até no cinema. Como você chegou ao ponto ideal?
Na verdade, a gente sempre teve uma preocupação que todas as cenas de sexo tivessem uma narrativa correta, ou seja, fiz a opção de que eu tinha que mostrar o suficiente para impactar a história que eu estava contando. A primeira cena, por exemplo, pouco mostra, mas é uma das cenas que mais agride o espectador. E o sexo foi tratado em cada cena de uma forma diferente. O cotidiano do sexo é a rotina das garotas de programa e é contado através de um clipe. A ideia foi sempre fazer uma cena que contasse uma parte da história. Trabalhamos cada cena de uma forma que cada um dos atores entendia perfeitamente o que estava fazendo. Não tivemos medo de filmar as cenas de sexo. A gente encarava cada cena de acordo com a história que estávamos contando. Tudo foi muito natural.

Muito se falou do filme antes. Isso foi proposital?
O filme tem uma particularidade. As pessoas confundem um pouco a temporariedade. Desde que eu comprei os direitos do livro para fazer o filme, todas as etapas naturais de um filme aconteceram, mas tudo virou notícia nos jornais. Então quando aprovamos o projeto de captação de recursos virou notícia. Quando começamos a formar o elenco, era notícia. Teve até enquete para saber quem deveria ser a atriz. Comecei a procurar o elenco dois anos atrás tanto para fazer a Bruna como para os demais personagens. A Fabíula por exemplo, conheci do filme Estômago e a chamei para fazer a Janine.

A escolha de Deborah Secco teve peso por ela ser uma atriz bem conhecida e sensual?
No começo do projeto sempre aparecia o nome da Deborah Secco, por um lado mais sensual, mas eu tinha uma certa rejeição pela figura midiática dela. Três meses antes das filmagens, ainda quando eu finalizava e afinava o roteiro, tivemos os primeiros contatos. Nunca havia trabalhado com ela e quando finalizei o roteiro, a convidei para bater papo e discutimos muito como seria o filme e principalmente as cenas de sexo. Ela entendeu muito bem como deveria ser a personagem e o filme que eu queria fazer. Ela entendeu as emoções que eu queria passar e foi um caminho natural. Saí da primeira conversa com ela decidido que seria ela a atriz principal. E ela é uma bela atriz e fiquei contente com o resultado final que foi para as telas. E espero que o público goste.

E como foi a escolha das outras atrizes para fazer a Bruna?
A escolha de Janine, por exemplo. A primeira vez que fiz a cena com ela, foi um teste em Curitiba. A personagem deveria telefonar para o filho. Quando eu falei “ação”, ela já estava no telefone chorando e falando com o filho. Voltei a falar com ela quando agendamos a filmagem do filme. Não precisou de mais nada!

O mesmo aconteceu com o Cássio Gabus Mendes, que faz o Huldson, o cliente apaixonado pela Bruna?
O Huldson eu queria que fosse o Cássio. É um personagem difícil, já que ele se apaixona pela Bruna e se torna um refém das vontades dela.

Você não quis contar a história biográfica da Raquel?
Não tive a preocupação de fazer um filme biográfico da Raquel. Quando começou o projeto não pensava que a atriz deveria ser parecida com a Raquel verdadeira. Não pensava em nenhuma atriz em especial. Quis pegar os valores dessa história e construir o roteiro em cima das quinze horas de entrevistas que fiz com a Raquel e a gente sempre tentou fazer a nossa composição de personagem sem nenhum tipo de preocupação. Quando a Deborah Secco entrou no projeto, ela precisava passar por aquelas sensações todas para desenvolver a personagem exatamente como eu queria ver no filme.

Que balanço você faz desta sua estreia em longas?
Gostaria de dizer o quanto foi importante ter ao meu lado tanta gente boa que acreditou no projeto. É o meu primeiro filme e essa confiança que toda a equipe passou foi muito importante. Sem isso eu não conseguiria fazer o filme.

Desde quando a sua produtora, Damasco Filmes, está na Vila Madalena?
Desde 2009. Estávamos na Rua Girassol e agora estamos na Wizard.

A Vila Madalena serviu de locação para o filme?
Filmei em São Paulo, Paulínea e Campinas. Na Vila Madalena, no Bardot, onde eu corto o cabelo, tem uma cena em que a Bruna e as colegas de profissão armam um barraco. E teve outras cenas delas passeando pelas ruas bem em frente à produtora.

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