O macho está em alta

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Xico Sá, você já deve ter ouvido falar dele ou lido algum texto seu. Nascido em Crato, no Ceará, ele foi criado em Recife e foi descendo o mapa até chegar em São Paulo, em 1991. Jornalista, escritor e frequentador da Vila Madalena, ele é, antes de tudo, um observador do comportamento humano – homens/mulheres, machos/fêmeas. Autor de dez livros, “Chabadabadá…” é o mais recente, com personagens inspirados em grandes figuras da Vila, bairro que ele adora. Acompanhe aqui um pouco do nosso bate-papo.

O macho está em alta ou em baixa? Por quê?
O machão à moda antiga está em baixa. A tendência atual é de um homem mais sensível. Mas ambos estão meio perdidões diante do avanço e da liberalidade das fêmeas. Não aguentam o tranco, a mudança no papel de provedores. Uma pesquisa recente do IBGE ilustra bem isso: cresce o número de divórcios – pedidos pelo homem – nos lares, doces lares em que as mulheres passam a ganhar mais que eles.

O homem-jurubeba está em extinção? Poderia defini-lo? Tem algum exemplo na Vila?
É aquele macho roots, de raiz mesmo, ainda com todos os defeitos de fábrica, que não sofreu ou não quis mudar nem uma vírgula, mesmo diante dessa nova mulher. É um resistente. Na Vila Madalena praticamente apenas os garçons, em especial meus conterrâneos do sertão nordestino, mantêm essa “honra”. O Neto, cearense que trabalha na Mercearia São Pedro, por exemplo, é um bravo representante dessa categoria. O França também, piauiense do mesmo estabelecimento, é dos bons!

O metrossexual vai dominar o ‘mercado’?
O mercado de cremes e de roupas de grife ele já domina, mas mantemos a resistência em outros setores, digamos assim, mais importantes.

Você se enquadra em algum desses tipos?
Sou mezzo jurubeba, mezzo brechossexual. Em matéria de estilo, prefiro sempre as estampas antigonas de brechós. Para os padrões do meu pai, o velho Francisco, lá em Santana do Cariri, eu já ando muito afrescalhado. Radicalismo do meu velho, ainda tenho salvação nestes tempos modernos.

A mulherada está mais agressiva e parte para o ataque quando quer. Os homens estão preparados para essa abordagem?
Essa é uma das razões que justificam a nossa perdição no mundo. Para um feio, um mal diagramado como eu, o avanço delas nem incomoda tanto, afinal de contas, não sofro esse tipo de ataque. Continuo tendo que gastar o latim para minar as forças das moças. Haja conversa e paciência, pois a vida é luta de boxe: o bonitão ganha por nocaute e a gente, esteticamente prejudicado pela mão divina, vence por pontos.

Seu mais recente livro “Chabadabadá…” tem personagens da Vila. Pode citar os nomes?
O livro praticamente inteiro se passa nos bares da Vila Madalena. De personagens tem o Marquinhos, um dos donos da Mercearia São Pedro; o Ailton, garçom do Filial e um dos grandes papos da noite paulistana; as belas atrizes que frequentam o Genésio… E tem até um encontro com o escritor cubano Pedro Juan Gutierrez, que se passa também na Vila.

Seu interesse pela Vila vem desde quando? Onde você gosta de marcar ponto?
A Vila Madalena está na minha vida e eu na dela desde que cheguei por aqui, no começo dos anos 1990. A sede da boemia literária é a Mercearia São Pedro e a madruga mais quente continua sendo a do Filial. Outros bares que frequento: Genésio, Genial, São Cristóvão e Astor – este último mais no sábado à tarde, para namorar e comer gostoso.

Esses botecos mais arrumadinhos te atraem ou você prefere os antigos?
Sendo bar, estou dentro: seja o mais maluco dos pés-sujos ou esse novo modelo mais moderno. Meu bar, meu lar, como diria o poeta. Se não tem o dono presente, que tenha um garçom decente.

A Vila ainda é um bom lugar para os boêmios? Mudou muito desde que começou a frequentar?
Mudou muito, e para melhor. Não sou nada nostálgico em relação à boemia. Acho que São Paulo hoje, por causa da Vila Madalena e da febre da Augusta, tem a melhor e mais sortida noite do mundo. Vivemos os anos dourados nesse aspecto.

Quando chegou em São Paulo? Já chegou jornalista? O que você já fez na vida?
Cheguei no dia da mentira, 1º de abril de 1991, mantendo uma tradição familiar de migrantes. Muitos parentes chegaram ainda nos anos 1970. Tenho pelo menos uns cem primos na cidade, incluindo os já paulistanos. Cheguei jornalista, vindo de Brasília, onde passei um ano. Antes fiz de tudo: feirante (ajudando meu pai) e conselheiro sentimental em uma rádio em Juazeiro do Norte, escriturário da Mesbla no Recife, orientador de pessoas no tráfego. Também em Pernambuco, ajudava as velhinhas a atravessar ruas e dava palestras sobre educação no trânsito… Haja história.

Você já chegou e se mudou para a Vila Madalena?
Quando cheguei por aqui morava na Praça Júlio Mesquita, sentindo o cheirão de alho do Filé do Morais e ouvindo o papo dos ciganos; depois fui pra Santa Cecília, Frei Caneca, Vila Madalena (na Purpurina), Perdizes, Bela Cintra, Fernando de Albuquerque com a Augusta e agora Pompeia, na Doutor Augusto de Miranda.

As ruas servem de inspiração para seus livros ou tudo é fruto de sua imaginação?
A chegada a cada rua nova ou bairro é sempre muito inspiradora, novos assuntos, novos personagens, novos garçons e porteiros… Para um cronista, isso é a coisa mais importante, a observação. É se sentar numa esquina e deixar o mundo passar na tua frente.

“Chabadabadá…” está vendendo bem? Tem outros livros em gestação?
Graças a Deus! Nunca vendi tanto livro na vida. Mulher adora saber o que a gente pensa, acho que esse é o segredo. Obrigado, meninas.

Seu blog é um laboratório para seus textos que virarão livros?
É um ótimo ponto de encontro com os leitores. Serve de laboratório, oficina, mas também posto textos que publico na imprensa. É uma esquina virtual para encontrar novos amigos.

Além da Folha de S.Paulo, Cartão Verde (TV Cultura), livros, você colabora com regularidade com quais veículos?
Publico crônicas semanais no Diário de Pernambuco, Diário do Nordeste, O Tempo (BH) e Correio da Bahia. Na televisão, participo ainda do Notícias MTV, no programa do Cazé, faço uma pequena crônica gravada sempre num bar diferente.

Que livros anda lendo? Tem alguma novidade no mercado que v. poderia citar?
O que mais gostei nos últimos tempos foi o romance do Joca Reiners Terron, outro grande frequentador da Vila Madalena. O livro se chama “Do fundo do poço se vê a lua” (Companhia das Letras), escrito a partir de uma viagem ao Cairo. No capítulo das releituras, estou passando o rodo em toda a obra do Kurt Vonnegut, que é um gênio – releio no momento “Café-da-Manhã dos Campeões” (L&PM). Livraço.

Você já está vivendo só de literatura?
Vivo praticamente das minhas crônicas publicadas em jornais e revistas, mas não dos livros. O bom é que me livrei dos plantões, inclusive em portas de cadeias, da vida de repórter, meu ofício por mais de 20 anos nas redações. O cachê das palestras e debates também ajudam muito.

Além de “Chabadabadá…”, quais seus outros livros publicados?
São dez, entre livros pensados por mim e livros encomendados pelas editoras. Além dos citados, tenho: “Caballeros Solitários Rumo ao Sol Poente” (Editora do Bispo), “Modos de Macho e Modinhas de Fêmea” (Record), “Paixão Roxa” (Pirata), “Se Um Cão Vadio aos Pés de Uma Mulher-Abismo” (Fina Flor), “Nova Geografia da Fome” (Tempo d’Imagem), “Divina Comédia da Fama” (Objetiva), “Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias” (Editora do Bispo), “Tripa de Cadela & Outras Fábulas Bêbadas” (Dulcinéia Catadora), “La Mujer és Un Gluebo da Muerte” (Yiyi Jambo, Paraguai).

Algum deles pode virar filme?
Tem maluco para tudo, né? Esta semana me procuraram para conversar sobre uma série de TV do Chabadabadá…, mas nada certo ainda.

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