O vaivém do amor

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Julia Duarte, escritora

Junho é Dia dos
Namorados. Presentes, afagos, carinhos e juras de amor eterno. Pelo
menos eterno enquanto dure. Mas por trás de tantas demonstrações
afetuosas, as relações amorosas passam por turbulências (às vezes
truculências) e algumas pessoas se veem envolvidas num emaranhado
difícil de ser desfeito – são as relações que acabam numa briga e
voltam no primeiro telefonema.
A observadora Julia Duarte percebeu –
e viveu na pele – esse tipo de relação e a partir daí resolveu expurgar
seus demônios, ou seja, entender o que acontece com o casal que termina
mas volta em seguida. O resultado gerou um livro, lançado no final de
2009: “Relacionamento Ioiô – Como Evitar o Vaivém nas Relações
Amorosas” (Matrix Editora, 120 págs). Seja na novela ou na vida real,
quem já não viu (ou teve) uma relação dessas, cheia de idas e vindas?
Ela entrevistou casais amigos (separadamente) e psicólogas para
entender o que leva as pessoas a esse tipo de relacionamento. Ao longo
de seis meses, sem viagens, sem finais de semana, ela escreveu um livro
cheio de casos interessantes e conclusões para evitar esse tipo de
relacionamento.
Solteira, ela trabalha como gerente de comunicação
numa agência na Vila Madalena, além de escrever um blog e pensar no
próximo livro. Acompanhe aqui a bonita e simpática Julia contando de
seu livro e sua vida.

Qual é a sua formação?
Sou jornalista e advogada, mas fiquei só no jornalismo.

Foi prestando atenção nas pessoas que você resolveu escrever um livro?
Não,
o livro veio de experiência minha mesmo (risos). São 13 historinhas.
Mudei o nome de todo mundo, porque todas as histórias são dos meus
amigos e todas são verídicas.

Mas você gosta de prestar atenção em casais?
Fico
prestando atenção nas pessoas! Nem sei se constranjo de ficar olhando.
Eu penso: ‘poxa, esses dois não conversam, que graça deve ter essa
relação?’ Eu presto atenção nas pessoas o tempo todo.

E o que é o livro “Relacionamento Ioiô”?
É
um relatório, poderia ser até um tratado científico “entre aspas”,
porque eu entrevistei psicólogos para falarem sobre aquelas relações.
Eu entrevistei as moças, os rapazes e contei as histórias para três
psicólogas e elas deram um parecer final, uma conclusão de qual era a
loucura de cada um na relação. E eu fiz a parte de como evitar e de
como sair dessa relação, tipo um manual do relacionamento, baseado em
minhas experiências, porque eu tive três relações assim.

Tipo vai e volta?
Sim,
vai e volta. Coisa que eu não quero nunca mais. Não tem nada saudável
nisso e todas as psicólogas falaram a mesma coisa: relacionamento ioiô
é falta de maturidade, normalmente acontece na fase dos 20 aos 30 anos,
e também baixa autoestima.

Tanto para o homem quanto pra mulher?
Sim, a mesma coisa: autoestima detonada e imaturidade pra encarar uma relação de verdade.

Você está namorando agora?
Estava,
mas acabou e acabou (risos). Não quero ficar indo e vindo, dando uma
chance. Eu dou chance só enquanto estou namorando, entendeu?

Você nunca casou?
Eu
morei junto com uns dos meus relacionamentos ioiô, mas essa história
era atípica porque ele morava no Canadá e eu no Brasil. Então não tinha
como não ser ioiô, porque ele estava lá e eu aqui. A gente ficou indo e
vindo, mas era um ir e vir físico.

E deu certo?
Totalmente
certo! Tudo sobre controle, mas ele estava lá e eu aqui. Eu tenho a
sensação de que, se os dois morassem lá ou aqui, talvez tivesse dado
certo, mas…

E acabou por quê?
Eu vim embora para o
Brasil porque queria estudar Jornalismo. O bizarro dessa história doida
é que depois de sete anos ele foi transferido para o Brasil. E voltou
tudo de novo e aí virou um relacionamento ioiô porque ele veio
transferido e depois foi de volta para lá.

Na verdade, foi o apoio que ele encontrou aqui.
Verdade.
Mas tinha tanto país no mundo, por que ele tinha que ser transferido
pra cá? Enfim… A gente voltou a ficar junto e depois ele foi embora
de novo e aí não deu mais. Uma das conclusões das psicólogas é que,
para uma relação funcionar, os dois têm que estar no mesmo lugar. Ficar
longe funciona por um tempo, desde que o objetivo final seja que os
dois estejam no mesmo lugar. Porque a distância causa esse frisson,
tipo ‘eu quero você’.

E tem uma idealização.
Também. Eu falo isso no livro, mas na hora que está tudo junto mesmo, não é essa maravilha.

Ninguém fala sobre coisas simples e ruins nos relacionamentos.
Verdade,
e ainda mais quando se está distante. Você sofre muito também porque
quer ver a pessoa e não pode pegar um carro e fazer isso, porque tem
que ter dinheiro para poder pegar um avião e ir a Vancouver (Canadá),
que foi meu caso. Eu levava 17 horas voando. Eu cheguei a passar um
final de semana com ele e fiquei mais tempo dentro do avião do que com
ele. Fui praticamente jantar com ele e voltei. Meus amigos falaram
‘você é insana’. A gente literalmente jantou e eu dormi, levantei e fui
para o aeroporto e ele foi trabalhar. Loucura!

E quanto tempo você demorou escrevendo o livro e levantando os depoimentos?
Bom,
a ideia do livro sempre esteve na minha cabeça. Sempre achei que não
estava madura suficiente, tipo ‘agora vou sentar para escrever’. Aí
conheci um editor e apresentei uma sinopse do livro para ele, que me
deu sinal verde. E nessa hora me deu um desespero, meu Deus! Mas
comecei o livro em janeiro de 2009 e em agosto estava pronto.

Você só se dedicou ao livro?
Não,
ainda trabalhava. Foi uma loucura porque eu namorava, trabalhava e
escrevia. Eu ficava o dia inteiro na agência, à noite ia fazer as
entrevistas – eu marcava jantares com meus amigos. Tudo com bate-papo.
E uma coisa engraçada era a diferença das histórias. Eu ouvia no sábado
a história dela e no domingo, a dele, e parecia que não era o mesmo
namoro. O que ela achava da relação e o que ele achava.

Estavam em outro mundo, com uma percepção errada um do outro.
Totalmente diferente. Homem e mulher não falam mesmo a mesma língua, impressionante.

Os relacionamentos “entrevistados” melhoraram?
Teve
um monte de gente que foi para terapia, engraçado isso. Teve relação
tão confusa que precisou de terapia. Geralmente são as mulheres que
buscam a terapia – ‘o que eu estou fazendo aqui?’, ‘por que estou
vivendo esse tipo de relação?’ É uma relação na qual a pessoa não tem
autoestima.

Você também entrevistou seus ex-namorados?
Caí na burrice de entrevistar todos eles também.

Como você fez?
Foi
bem difícil. Ah, o primeiro que eu fui entrevistar, fiquei sete horas
deitada, convalescendo e chorando. Porque eu fui brincar de jornalista
e fiz minhas perguntas mesmo. Só que à medida que ele foi respondendo,
fui me vendo na história. Mas foi muito bom porque foi esclarecedor,
tinha um monte de coisa que eu não sabia e eu pensava ‘puxa, como eu
não prestei atenção nisso’.

Acho que todo mundo já teve uma relação dessas.
As
pessoas se identificam porque todo mundo já teve uma relação de ir e
vir. Depois vai aparecendo a maturidade e as pessoas não querem mais
esse tipo de relação. Adolescente tem muito isso justamente pelo
momento de autoestima, querem se rasgar e tudo mais. Depois dos 30 e 40
anos, fica mais… Bom, a gente também fica burro quando está
apaixonado. (risos)

É verdade! (rsrs)
Você acha que
está fazendo a coisa certa e, quando vai ver, não está fazendo nada
certo. Mas depois que passa por essas relações, você fala ‘opa, agora
eu sei o que eu quero’.

Mas tem mulher separada, mais velha, que fica com alguém pra não ficar sozinha.
Esse
é o capítulo 10 do livro, que é mulher carente. Porque elas dizem que
estão com 35 anos, precisam ter um filho, precisam casar. Mentira! Quem
falou que você precisa disso? E aí a busca gira em torno do filho ou do
casamento e nunca pelo homem. Aí, qualquer tranqueira que passa serve.

E o seu blog, o que você fala lá?
Falo
só de relacionamento. E tem muitos casos que as pessoas falam, anoto
tudo, é lógico, mudo os nomes, mas deixo guardado, se um dia eu
precisar. Eu adoro escrever no blog.

Qual sua mensagem pra terminar esta entrevista?
Sempre
falo isso: não quero estimular as pessoas a terem relacionamento ioiô,
mas quero estimulá-las a terem esperança que as relações funcionem.


juliafernandes@gmail.com
blog: http://relationchip.com.br

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