Voluntariado em alta

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Voluntariado em alta

A semente que deu vida à ONG Canto Cidadão surgiu a partir do trabalho voluntário de Roberto Ravagnani, que paramentado como o palhaço Ispaghetti Saracura junto a pacientes adultos no Hospital Brigadeiro. Mais tarde conheceu Felipe Mello e a dupla criou um programa de rádio sobre voluntariado e a ONG Canto Cidadão, com sede na região. Além de cursos para voluntários, oferecem cursos grátis de idiomas e de informática para jovens. Nesta entrevista, Roberto conta como o voluntariado mudou sua vida e seu trabalho com voluntariado.

Como você virou voluntário?
Sou projetista elétrico e morava em Ilha Solteira, divisa com Mato Grosso do Sul. Fui contratado para dar aulas para jovens carentes. Ainda não era voluntário. Acabei me envolvendo em ações de voluntários dentro da própria escola e gostei dessa história. Depois vim para São Paulo para trabalhar na Secretaria do Menor para vir para São Paulo com capacitação de jovens. Depois gerenciei a área operacional de 22 projetos sociais do governo do Estado de São Paulo.

Você também teve experiência na iniciativa privada.
Trabalhei na FreeService, na Lapa, e por oito anos foi lá que descobri que odiava fazer o que estava fazendo. Era diretor operacional. Resolvi dar uma guinada na vida. A qualidade de vida era baixa. Estava infeliz.

Foi aí que você decidiu pelo voluntariado?
Criei o meu trabalho. Em 1999, comecei a fazer um trabalho de atendimento à pacientes no Hospital Brigadeiro, três anos antes de sair da empresa. Foi quando criei o palhaço Ispaghetti. Me inspirei no trabalho do médico Patch Adams com pacientes em hospitais. Foi na cara e na coragem. Ia ao hospital uma vez por semana no final da tarde. Em 2001, fiz um curso de rádio no Senac da Rua Scipião. Foi lá que conheci o Felipe. No curso, percebemos que tínhamos muitos interesses em comum. Ele fazia um trabalho de voluntariado que começou na família dele. Ele quis conhecer meu trabalho no hospital e criou o doutor Ravioli Bem-Te-Vi”.

E quando surge a Canto Cidadão?
Da nossa experiência no hospital surgiram convites para fazer palestras. A gente contava sobre o trabalho e o que nos motivou a fazer isso. Um dia, alguém nos convidou para outra palestra e perguntou quanto cobrávamos. Vimos que poderíamos receber algum dinheiro. Foi uma portinha que se abriu que a gente nem estava pensando. Paralelamente a isto, iniciamos o nosso programa de rádio.

O programa está no ar?
Sim, desde 2002 estamos de segunda a sexta na Rádio Boa Nova (AM 1450 kHz), dentro do programa RBN Notícias. Nele falamos de voluntariado e outros temas.

Que benefício esse trabalho lhe proporcionou?
Na verdade, o maior benefício do trabalho voluntário é que percebemos o quanto reclamamos de situações que não deveríamos reclamar como reclamamos. A gente aprende a redimensionar os obstáculos do dia-a-dia. No hospital, a gente via que os nossos problemas, embora importantes para nós, eram muito menores diante do sofrimento de outras pessoas.

As pessoas procuravam vocês para se tornarem voluntários?
As pessoas que assistiam as nossas palestras sempre perguntavam quanto tínhamos investido nisso, como se preparam… Nós não investimos nada, apenas a nossa vontade de fazer alguma coisa. Queriam saber como começamos e sempre respondi que o início tinha sido através do trabalho voluntário que é um bom caminho para refletir sobre a nossa vida. Nossas palestras incentivavam as pessoas a refletirem sobre suas próprias vidas.

Já participaram de outras ONGs?
Resolvemos procurar uma ONG existente e nos juntar a ela. Não pensávamos em criar uma outra organização. Precisávamos de suporte jurídico, porque os hospitais pediam. Nós, muitas vezes parecíamos aventureiros. Batemos em muitas portas de ONGs e nenhuma delas aceitou o nosso trabalho. Não éramos conhecidos e não acreditavam no trabalho de palhaço com pacientes adultos spitais. Achavam que palhaço só poderia ser para crianças. Nossa experiência provava o contrário. Foi aí que resolvemos criar a nossa ONG.

Você, o Felipe e quem mais?
Reunimos os amigos, apresentamos o projeto e criamos a organização em julho de 2002. Em janeiro de 2003, o Felipe e eu conseguimos nos desvencilhar de nossas atividades profissionais. Tínhamos um dinheiro mínimo para viver, provenientes das palestras. Fui contratado como consultor por um ano e meio e eu ia uma vez por semana. Meu ex-patrão me deu uma grande força.

Como a ONG se mantém financeiramente?
Decidimos que não iríamos depender de dinheiro de governos. Criamos a empresa Comunideia, para prestar consultoria em responsabilidade social e voluntariado corporativo. Fazemos palestras de sensibilização, workshops, oficinas ou cursos para os colaboradores das empresas que nos contratam e 30% do nosso faturamento é revertido para os trabalhos sociais da ONG. É um modelo criado por nós.

Está dando certo?
Preferimos não buscar dinheiro com os governos para não ficar à mercê deles. E quando eu falo à mercê, e não é totalidade é claro, mas muitas vezes você fica dependente economicamente de muitos governos e fica parecendo que é um “favor” desses governos. Preferimos ficar independente . E também não nos envolvemos em questões políticas partidárias.

Mas vocês trabalham para governos?
Prestamos serviços e consultoria para governos e para as empresas que nos procuram pontualmente. Prestamos o serviço, recebemos o nosso pagamento e até logo. Os governos nos procuram para que possamos realizar um serviço ou consultoria onde somos especialistas, como qualquer outra empresa.

Que cursos vocês oferecem?
Temos cursos de idiomas – inglês e espanhol – e informática para jovens de 22 a 39, uma faixa etária esquecida . Temos parceria com empresas como a Totvs e outras grandes empresas como Gol, Pfizer. Temos espaço para abrigar esse pessoal. Resolvemos criar neste espaço, além do curso de voluntários. Temos parceria com a Totvs, a maior empresa de softwares do Brasil. Eles entram com o conteúdo e os professores. No curso de idiomas, temos duas turmas em parceria com o Centro Britânico. E o curso de espanhol é feito com uma tradutora e intérprete e nossa voluntária. Atendemos a 200 alunos em várias turmas. São cursos semestrais e gratuitos. Boa parte dos alunos do curso de informática saem daqui formados em softwares Totvs e muitos deles são encaminhados para empresas.

Como as pessoas podem se tornar voluntárias da Canto Cidadão?
Através do nosso curso de palhaços voluntários. Nosso processo seletivo estabelece 12 tarefas antes de ser aceito para o treinamento. Por exemplo, o candidato deve doar sangue e arrumar mais cinco amigos para fazer o mesmo. É preciso se cadastrar como doador de medula óssea e arrumar mais cinco pessoas. Precisa reunir um grupo e fazer a limpeza de um espaço público, uma praça, por exemplo. Mas tudo deve ser documentado com fotos, filmes e testemunhos. É preciso fazer uma reclamação na Ouvidoria da Prefeitura sobre algum problema da cidade. Isso tudo é para ele entender que estamos falando de cidadania.

Que dicas você dá para quem quiser fazer trabalho voluntário?
Ser voluntário, além da boa vontade, precisa ter capacitação. Voluntariado só de boa vontade o Brasil está cheio. Não importa a causa. Seja para cuidar de gente ou de plantinha. Todos os voluntários precisam ser capacitados. Recomendo que ele conheça a ONG. Evite aquelas que dizem que você pode começar sem nenhum preparo. Lembro que no Brasil tem muitas “organizações pilantrópicas”. E como somos uma ONG, não podemos esquecer disso. É preciso saber se a ONG é séria, se paga seus tributos etc. Trabalho voluntário, segundo minha opinião, é no máximo de seis horas por semana.

São muitas as empresas que a Canto Cidadão tem parcerias?
Temos parcerias e atendemos empresas do porte da Pfizer, Gol Linhas Aéreas, Jonhson & Jonhson, Totvs, Julio Simões e outras.

Que benefícios o trabalho voluntário traz para as empresas?
Não conheço ferramenta melhor de desenvolvimento pessoal e profissional do que o voluntariado. O trabalho em equipe proporciona o que uma empresa quer: motivação, respeito ao próximo e motivação para a vida. E tem um reflexo rápido na equipe. Os departamento de Recursos Humanos das empresas ainda não descobriram isso. O trabalho voluntário significa ajudar o próximo.

Vocês participaram recentemente de um congresso mundial nos Estados Unidos. Como foi isso?
Foi em Atlanta, nos Estados Unidos. É um congresso mundial de ações humanitárias. Nós fomos convidados pelo segundo ano consecutivo. Foram mais de 28 países participantes. A intenção é promover um intercâmbio entre essas organizações e o conhecimento nas áreas de saúde e educação, principalmente. Entre os palestrantes estava o Path Adams que me inspirou. Tem palestras para o público, fóruns para as instituições e uma feira com os produtos que as ONGs produzem. Para nós, foi grande a satisfação de representar o Brasil.

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