GVM 296 JUN22
Três documentários, dirigidos por Riba de Castro, registram a história de moradores das vilas Ida, Beatriz e Jataí. Vale a pena assistir.
Cineasta e documentarista, Riba de Castro, tem uma antiga ligação com a região da Vila Madalena e entorno. Foi sócio e responsável pela comunicação visual do Lira Paulistana, um marco na vida cultural da cidade e que lançou muita gente boa como Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Tetê Spíndola e outros. Riba é o autor do documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, lançado em 2012. Conhece a região e afirma que, “vivi os melhores momentos da Vila Madalena nos anos 70 e 80”. Atualmente, o cineasta mora seis meses em São Paulo e outros seis meses, em Barcelona, na Espanha.
A trilogia dos documentários, “Vila Ida e Volta”, “Vila Jataí, antiga Vila do Sapo” e “Beatriz, irmã da Ida e da Madalena?”, retratam personagens das vilas Beatriz, Ida e Jataí. E a ideia surgiu em 2012, “quando voltei para o Brasil para finalizar o doc do Lira, a Lian, dona da produtora Buscavida, sugeriu para eu fazer um doc sobre a Vila Ida. Pelo grande número de negros na região, teria sido um bairro quilombola e tinha a história das irmãs Beatriz e Madalena”.
https://youtu.be/CDacNr4Fw4U
Riba aceitou a missão e a Vila ida “passou a ser o meu QG, onde morava e trabalhava”. Nas primeiras pesquisas ele e a equipe descobriram que “a presença de negros era por ter sido um loteamento voltado para pessoas de baixa renda, e o proprietário, Estanislau Seabra, deu o nome de Ida em homenagem à neta. Portanto, a história das três irmãs, não era verdadeira”, informa.
O diretor se concentrou seu trabalho no registro do relacionamento com os moradores e posteriormente gravou as imagens. “Descobri uma pequena vila, a Jataí, antiga Vila do Sapo, localizada entre a Vila Ida e Beatriz. “Então resolvi contar a história das três vila que estavam juntas geograficamente, deixando a Vila Madalena, mas sem deixar de contar sobre a lenda urbana das três irmãs: Madalena, Ida e Beatriz. É uma história de um fracasso como modelo de cidade, um modelo de futuro”.
Em 1962, o filme “O vendedor de linguiça” de Amácio Mazzaropi, foi filmado na Vila Beatriz. No documentário, alguns dos moradores, ainda crianças, participaram do longa e relembram da gravação.
Segundo Riba, “qualquer documentário, sobre qualquer bairro ou vila de São Paulo acaba sendo algo triste ou melancólico. Sempre fica a sensação que o pouco que resta estará apenas por pouco tempo mais.”
Revela o documentaria que seu compromisso “é com os entrevistados que participaram dos documentários”. Fez algumas projeções ao ar livre e os filmes podem ser vistos no YouTube e “assim qualquer pessoa pode ver e é a maneira mais fa[ácil de chegar a muito mais gente”, lembra.
A vinda de novos edifícios onde existiam casas de moradores, Riba afirma que “os três documentários mostram muito bem essa realidade. São lugares humildes que foram se elitizando devido ao seu valor imobiliário, à especulação, porque estão em uma região bem localizada”.
Os personagens presentes nos documentários, Riba fez amizades com vários deles no período que trabalhou na região. “Entre eles, um que me chamou a atenção é o Eleotério, ex-morador da Vila Ida. Mudou-se para a Cidade Tiradentes, mas diariamente pegava ônibus, metrô e outro ônibus para encontrar com os amigos na Padaria Milagrosa. A Vila Ida é um exemplo dos muitos apartheid que temos em São Paulo”. E explica que a maior dificuldade para “se fazer um documentário como esses é a escassez de material iconográfico. Principalmente quando se trata de gente humilde”, finaliza. (GA)
Onde ver os documentários: Vila Ida e Volta (46’) — youtu.be/tyfOkzRHMz8 – Vila Jataí, antiga Vila do Sapo (37’) — youtu.be/_JY-Z2wHfuA — Beatriz, irmã da Ida e da Madalena? (43’) – facebook.com/riba.castro/videos/958346001465043