Empresária e sócia da loja Delfinas, Suely Tonarque, foi estudar as relações entre a velhice
e a indústria da moda, a partir de uma etapa de sua vida.
A dissertação que Suely apresentou na PUC-SP, em maio de 2012, teve como tema “Velhice e moda: incursões históricas e realidade atual”. Além de muita pesquisa e leitura, a psicóloga e pedagoga nascida em Rancharia, entrevistou pessoas da moda como a estilista Constanza Pascolatto. “Além das entrevistas no Brasil, fui a Paris para fazer outras pesquisas sobre moda e velhice”.
Formada em pedagogia e psicologia, Suely foi professora em escolas públicas e na escola particular Galileu Galilei. Resolveu aos 38 anos, trocar a sala de aula por uma loja de roupas. Foi trabalhar na loja Equilíbrio e conta que saiu-se bem “vendia bem e gostava da atividade, da negociação”.
Saiu da Equilíbrio, onde ficou 15 anos, aos 54 anos. Teve uma surpresa, ao ter dificuldade em encontrar uma nova colocação. “Não percebi que tinha envelhecido. A minha idade, a minha experiência profissional e meu salário, considerado alto, foram os empecilhos”. Isso a entristeceu e a incomodou. “Queria provar que aos 54 anos, eu estava no auge e com saúde mental e psíquica, além de disposição e capacidade profissional para continuar em atividade”.
Em busca de respostas, Suely se matriculou em um curso sobre envelhecimento no Cogeae na PUC-SP. Ao final do curso, a professora sugeriu que ela fizesse um mestrado com foco em gerontologia. “Na monografia contei minha história de vida e minha relação com o vestir e sobre o envelhecimento do corpo”. Na mesma época do mestrado recebeu um convite para gerenciar uma loja da Maria Bonita. Conseguiu o trabalho e pode ter dois dias da semana para dedicar-se ao mestrado e a garantia de poder viajar até Paris por um mês para concluir o trabalho acadêmico. “Retomei meus contatos com as antigas clientes e consegui levar muitas delas para a loja em que eu estava trabalhando”, orgulha-se. Agora, Suely se dedica a escrever um livro com o resultado de seu estudo e outras pesquisas que fez.
Conta que o tema velhice e moda ainda não tinha sido abordado por outro pesquisador. “Primeiro quis atender a minha curiosidade e com o meu trabalho, ampliei meu conhecimento sobre o envelhecimento. Mostrei que o mercado não oferece roupas para as pessoas mais velhas e muitas pessoas esquecem que os nossos corpos, com a maturidade, vão sofrendo transformações. Além disso, na minha pesquisa conto histórias de empresas, estilistas famosos, costureiros brasileiros que contribuíram para o desenvolvimento da moda no Brasil e pessoas como Paulo Borges, criador da SPFW, e sua importância no mundo da moda”. Constatou a ausência do olhar da sociedade, no que diz respeito às vestimentas para velhos.
Para a entrevistada, a moda sempre fez parte de sua vida. “Minha mãe gostava de me vestir e desde pequena estava envolvida com os panos”, conta que mesmo quando professora sempre manteve um olho no vestir e outro no conforto das roupas.
Juntamente com a irmã Siuza, elas criaram, em março último, a loja Delfinas, na Vila Madalena. Siuza é a responsável pela criação dos vestidos e design das joias que a loja vende. A loja também tem também como sócia a designer de moda praia, Regina Carvalho, que cria modelos para todas as idades.
O conceito da loja, lembra Suely “é vestir bem e confortavelmente e sem se prender à ditadura da moda. São poucos os empresários que investem, como nós, em roupas para uma parcela importante da nossa sociedade: os mais velhos. Na Delfinas atendemos mulheres de todas as idades e vamos na contramão da moda. Muitas mulheres não estão abertas ao envelhecimento e não percebem que o corpo mudou! É possível unir bom gosto e conforto em uma peça de roupa!”, diz.
Nesta nova fase da vida, no auge dos seus 67 anos, Suely está deixando os cabelos brancos crescerem. “Me sinto muito bem com eles. Muitas pessoas me criticaram, mas cito a escritora americana Anne Kreamer: ‘ficar grisalha é um ato político e de afirmação’, que também assumiu seus cabelos brancos. Quem tem resistência ao velho desconhece que um dia também vai envelhecer”, afirma.
Suely está bem resolvida com a idade e com o futuro. Indica que para uma boa velhice: “conviver com gente de todas as classes sociais, ser ativa, ter projetos e sonhos. E se vestir bem e com conforto, todo mundo merece”. (GA)
Delfinas, Rua Delfina, 101, Vila Madalena, Telefone 4172-9725 e 97950-2749, Instagran @su_dudabyduda, www.facebook.com/suely tonarque