A ciência na política

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Arqueólogo e paleontólogo entre outras especialidades, o professor Walter Neves, é o pai do fóssil Luzia e da pintura rupestre Taradinho, datados com mais de 10 mil anos, em Lagoa Santa (MG). Agora pretende disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo Partido Pátria Livre (PPL).

O cientista e professor aposentado Walter Neves é pré-candidato à Câmara dos Deputados pelo Partido Pátria Livre (PPL) e quer levar conhecimento ao Congresso. Em sua análise, “Temos hoje na Câmara as bancadas da bala, do boi e da Bíblia. Quero, se eleito, propor um projeto de desenvolvimento científico e tecnológico através de uma bancada do conhecimento. Assim como eu, espero que outros cientistas brasileiros também sejam eleitos. E quero a restauração do caráter laico do Estado brasileiro”.

Walter é um dos fundadores do movimento Cientistas Engajados, que inspirado no Concerned Scientists (Cientistas Preocupados) dos Estados Unidos. O movimento foi formado em março deste ano e reúne expressivo número de cientistas brasileiros de várias universidades e faculdades do País

O professor Walter explica a diferença entre os movimentos daqui e dos EUA. “Entre os colegas norte-americanos há vários ganhadores do Nobel e suas propostas são ouvidas pelo governo e pelos partidos Democrata e Republicano, mas não disputam cargos eletivos como estamos fazendo”.

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Mariana Moura e Walter Neves, pré-candidatos do PPL (Foto/Gerson Azevedo)

O movimento dos Cientistas Engajados propõe que a comunidade científica tenha um maior protagonismo nos destinos do país. É um movimento político que tem por objetivo colocar cientistas no Congresso Nacional e nas assembleias estaduais. Além de Walter Neves, o Cientistas Engajados também está lançando a professora Mariana Moura como pré-candidata a deputada estadual, pelo mesmo PPL. Ambos os pré-candidatos têm apoio declarado dos cientistas do Cientistas Engajados, expresso através de um manifesto.

O professor Walter mora com seu companheiro na região da Vila Madalena há mais de quarenta anos, mas não é um frequentador assíduo da vida boêmia que faz a fama do bairro. “Quando recebo os meus amigos vindos de fora que visitam São Paulo, o lugar que eles querem visitar em primeiro lugar é a Vila Madalena. Sou uma pessoa diurna por excelência. Depois das seis da tarde, eu me enclausuro. Confesso que não desfruto muito do lado noturno da Vila Madalena. Moro num lugar idílico, com uma pracinha, uma igrejinha muito bonita e da minha sacada eu vejo todo o verde do Alto de Pinheiros e do verde da USP. E ao lado do meu prédio, têm aquelas casas e residências onde os moradores criam galinhas. Acordo com o galo cantando!”, afirma.

Voltando à política, o professor, graduado em ciências biológicas pela USP, afirma que nunca participou de manifestações políticas. “Só fiz ativismo quando trouxe ideias que não tinham por aqui e eu queria irritar a comunidade científica brasileira, principalmente a área de Humanas”, diz bem humorado.

Se eleito, pretende ser no Congresso uma das vozes de ciência e tecnologia. “Achamos que um projeto de nação precisa ter um projeto de desenvolvimento científico e tecnológico. Mas os mais de 13 milhões de desempregados que o Brasil acumula neste momento é o principal motivo que me levou à política partidária”.

Para ser eleito, o professor avalia que “o partido precisa ter de 350 a 400 mil votos para eleger uma deputado federal”. Para custear sua campanha, avaliada em R$ 140 mil, “vou depender de doações de simpatizantes. Pretendo arrecadar fundos através de uma ‘vaquinha’, que até o momento recebeu cerca de R$ 500, mas estou otimista!”.

Quanto a outros cientistas e intelectuais que já estiveram no poder através do voto popular, Walter cita o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi ministro (da Fazenda e das Relações Exteriores), senador e presidente por oito anos. “O FHC é um pensador e foi presidente por oito anos. Mas nos governos dele, tratou ciência e cultura muito mal. Ciência e tecnologia nunca amargaram tanta miséria assim como a cultura no governo dele. Ele não construiu sequer uma universidade federal. O Lula, um operário, criou 25 novas universidades federais. O Lula fez muitas coisas boas, mas também merece estar na cadeia pelos erros que cometeu!”

Entre suas propostas, o pré-candidato quer aumentar de 1% para 3,5% do PIB, o investimento em ciência e tecnologia. “Se eleito, vou tentar convencer meus colegas deputados que educação, ciência e tecnologia é um investimento de longo prazo e não um gasto. Hoje, vivemos na pindaíba. Aqui em São Paulo, temos a ‘santa’ Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Nos estados que dependem de fundos federais, a situação é crítica. Falta tudo. Sou prático e sei que a batalha será lenta e vagarosa. Os países que têm os melhores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) investiram e investem em ciência e tecnologia. Os Estados Unidos recebem anualmente mais de 100 bilhões de dólares em royalties pelas patentes que detêm. E quando temos uma crise financeira que afeta a ciência e a tecnologia, damos uma zerada na situação e é preciso começar novamente muitos dos projetos. Além de não construir coisas novas, colocamos em perigo o que foi ou está sendo feito em termos de pesquisa”, lembra.

O professor Walter se define como uma quimera política. “Sou absolutamente favorável a uma distribuição de renda no Brasil e por outro lado, sou a favor de um estado mínimo!” É a favor do aborto, da legalização das drogas, na punição ao racismo e contra a homofobia. “Serei um cientista e gay no Congresso que quer reduzir a miséria no país com a ajuda da ciência e da tecnologia”, finaliza.

No manifesto publicado, o pré-candidato se compromete, se eleito, a apoiar projetos de outros parlamentares que tragam benefícios diretos ou indiretos à população brasileira, independente do partido político. Afirma que vai se pautar por princípios e não por picuinhas partidárias.

Pretende apoiar projetos com temas como desigualdade social, redistribuição de renda, reforma agrária, agricultura familiar e de pequena escala, moradias populares, direitos humanos, sobretudo de minorias, proteção ao meio-ambiente, saúde, educação e segurança pública.

O Brasil caminha rapidamente em direção à barbárie. É necessário que haja no parlamento homens e mulheres íntegros e corajosos que se contraponham a esse processo. Antes de mais nada, é a isso que estou me propondo. (GA)
www.cientistasengajados.com.br

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