Pedro Costa: Enquanto eu voava

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Enquanto se voa um filme começa. Pardais das árvores também voam, por susto ou cumplicidade seguem um desengonçado pássaro gigante durante sua breve trajetória até a aterrissagem, depois, como no desenho animado, parecem circular sobre a cabeça em forma de ciranda soltando seus assobios infernais, anunciando uma partida ou uma nova chance. Neste momento os pardais tornam-se querubins seminus que tocam trombetas. Estatelado renasci.

Bicicleta não é para amador, muito menos para esportistas de fim de semana. Desde garoto sou motociclista, ando e viajo de moto quase constantemente e nunca aconteceu de eu cair. Porém de bike não foi assim.

A proposta era dar um simples rolê como de costume até o Parque Villa Lobos, eu, Vera e Valéria.

Manhã azul com sol de Outono, domingo tranquilo, greve dos caminhoneiros, ruas vazias. Aproveitei o embalo das descidas dos morros da Vila Madalena, curtindo o vento fresco zumbir nos ouvidos e o barulho dos pneus girando rápido no asfalto, como nos meus tempos de menino e a sua Monark de natal. Quando o casaco escorrega do guidão, entra de vez e trava a roda dianteira, a traseira empina e me lança feito um homem-bala, passando perto de copas de árvores feito Jim das Selvas… Decolei com tudo por alguns infinitos metros até aterrissar de cara no chão. Vera, logo à frente pedalando calmamente curtindo seu fone de ouvido, alheia não me viu voar, não escutou meu estrondo no chão e muito menos meu grito enquanto caia. Valéria, amiga atenta ouviu. Voltaram. Fraturas no braço esquerdo, punho direito e doze pontos na testa. Um simpático casal que por ali passava, preocupado nos acalmava, enquanto aguardávamos uma ambulância.

Além da imprudência de não usar capacete, cometi outro erro, enrolar o casaco no guidão da bicicleta. Não deixarei de pedalar por aí, porém jamais competir com os pardais e cada vez mais lembrar que cada macaco deve ficar no seu galho, sem muito estardalhaço.

pedrocosta.pira@uol.com.br

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