A falta que faz o chapéu

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1895

Nos dias de hoje, ninguém vai mais embora, também pudera, não usam mais chapéu, não sabem mais sair. Era comum pegar seu chapéu, por na cabeça e consequentemente partir. Com o seu desuso desaprendeu-se a sair.

Antigamente em todas as casas, repartições públicas e privadas havia logo na entrada uma chapeleira. Todos sabiam o momento de entrar e sair. Tanto é fato, que parlamentares e tantos outros políticos desviam verbas públicas, roubam descaradamente e continuam no poder. Casais, cujos amores transformaram-se através dos anos em ódios e rancores incomunicáveis e não se separam porque ninguém sai. O chapéu parecia dar, não apenas mera elegância, mas dignidade para ir-se embora. Coroava-se a coragem e o gesto de sair a quem partia, como quem sabe a sua hora. Saber partir é uma arte.

O quepe, a boina e a coroa são os opostos do chapéu, por isto, as ditaduras não querem ir embora, não sabem sair. Assim, a touca, o boné e o gorro vestem a cabeça, mas não nos apontam a saída e perdem o momento triunfal da partida. Hamphrey Bogart sabia dizer adeus, graças ao seu chapéu. John Wayne não deixava o filme acabar sem antes pegar seu chapéu e o letreiro do filme subia “The End”. Heitor Villa-Lobos, ao finalizar seus concertos, antes do charuto, vestia seu chapéu e sumia. Santos Dumont só partia para voar assim que colocasse o seu estilizado chapéu.

Pixinguinha, Noel, Adoniran, Tom, Cartola e tantos outros grandes caras que também já partiram e parece que consigo levaram todos os chapéus da face da terra, deixaram uma feliz lembrança de como usar a cabeça com dignidade, sem ferir o tempo com a demora e sem insistir ocupar o espaço além do próprio tamanho.

pedrocosta.pira@uol.com.br

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