Conectado com a natureza

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Paisagista reconhecido dentro e fora do Brasil, Gilberto Elkis fala sobre sua carreira e sobre o seu amor à Vila Madalena. Acompanhe.

Desde sua infância, o paisagista e hoje morador da Vila, Gilberto Elkis, tem uma profunda relação com o bairro. Ele conta que morava no Jardim das Bandeiras, estudava em Pinheiros e que em seu trajeto de casa para a escola, cortava caminho, passando por uma antiga Vila Madalena plena de verde e casas térreas…, isso há mais de 40 anos. “Aqui sempre foi um lugar muito familiar para mim… a (rua) Medeiros de Albuquerque era um córrego a céu aberto, passava um rio, que depois foi canalizado. E quando eu já não mais morava no Jardim das Bandeiras, continuei cortando caminho pelo bairro para fugir do trânsito”, conta.

O primeiro espaço que Gilberto alugou na região para guardar suas plantas e materiais ficava entre as ruas Aspicuelta e Girassol. Nessa época, seu escritório ficava em Pinheiros, mas como seu viveiro e base estavam na Vila, ele decidiu mudar toda sua empresa para o bairro“Meu primeiro escritório aqui ficava na Wizard… depois fui para a Agissê, para a Fradique e, quando eu decidi ir embora, pois os terrenos já estavam muito caros, o Flavinho, da Flama Car e o Jacaré, do Jacaré Grill me impediram”, diverte-se.

A sede do escritório do paisagista hoje localiza-se na rua Rodésia, num amplo terreno, repleto de verde por todos os lados. Lá, entre ambientes bem decorados com móveis e objetos estilosos, espelho d’água e muitas plantas, Gilberto se inspira para criar projetos para públicos diversos. “Sejam eles projetos grandes ou pequenos, o trabalho que faço me dá sempre um enorme prazer. O que diferencia um grande de um pequeno projeto, guardadas obviamente as características de cada um, é o tempo que demanda a sua execução.”

Para ele, toda a Vila é pitoresca, com intervenções artísticas fantásticas, entre os grafites do Beco do Batman, os carros-jardineiras encontrados vez ou outra inusitadamente em uma rua, as orquídeas penduradas em garrafas PET e, obviamente, o colorido das pessoas, que caminham pelas ruas, seja comprando, seja passeando, seja apenas para papear com os amigos. “A Vila é um lugar acolhedor, gostoso, com vida pulsante, diferente de outros locais da cidade. Como morador, estou sempre recebendo amigos em meu clubinho, reunindo a família para um almoço aos finais de semana…”, revela.

Gilberto Elkis20-GV-JUL-TGQuestionado sobre o pouco verde que a cidade possui, ele diz que dentre os bairros de São Paulo, a Vila, entre outros da zona oeste, está até em melhor situação do que outros, onde tudo foi desmatado. “Vemos locais de periferia, por exemplo, onde não existe uma árvore sequer. É uma questão cultural no Brasil não se importar com o verde, ao contrário dos países desenvolvidos, como Inglaterra, Alemanha, Holanda, entre outros. Mesmo aqui na Vila, ainda vemos pessoas que acham que as árvores sujam as calçadas com suas folhas, infelizmente. O brasileiro ainda não dá o devido valor às plantas, depois se queixa do calor no verão e da falta de sombras.”
De acordo com informações divulgadas no site da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP), cada brasileiro gasta US$ 9 dólares, o equivalente a menos de R$ 17, por ano em flores e plantas ornamentais. Na Suíça, o gasto per capita anual é de US$ 174; na Noruega, US$ 164; na Áustria, US$ 109; na Holanda, US$ 80; nos Estados Unidos, US$ 58; Japão, US$ 45; e Inglaterra, US$ 30. Até o argentino compra mais que o brasileiro: US$ 25 por ano. A boa notícia é que esse quadro parece estar se revertendo ano após ano. “Por mais que no Brasil ainda estejamos longe do ideal, o paisagismo está tendo certo reconhecimento de uns tempos para cá, principalmente porque as pessoas estão cada vez mais conscientes de que ter plantas faz muito bem. É como um antídoto para o estresse diário colher uma flor, ter frutos no jardim, plantar, escutar o barulho da água de um espelho d’água… tudo isso traz a natureza mais perto de nós. As plantas acabam trazendo borboletas, pássaros, abelhas…”, diz Gilberto.

Ele conclui esse pensamento, dizendo que muita gente associa o paisagismo apenas com jardinagem e/ou plantas, mas que, na verdade, essa profissão é muito mais abrangente. “A palavra paisagismo vem de paisagem, o que nos remete a um lugar onde todos os elementos (plantas, objetos, ambientes, cores, texturas, etc…) criam um conjunto harmônico. Então, um jardim pode ser árido, composto apenas de pedras, minerais… e mesmo assim ser visualmente agradável, a exemplo de um jardim zen. Um lago ou um deserto não são compostos de plantas, mas mesmo assim formam lindas paisagens”, explica.

O amor pelo paisagismo, que é uma arte pra lá de abrangente, parece já ter nascido com Gilberto. Com 27 anos de profissão, ele diz ser um autodidata. “Eu sou formado em Administração de Empresas, mas sempre fui muito conectado à natureza. Tive a oportunidade de morar em San Diego (EUA) depois de formado e de acompanhar o trabalho de paisagistas, estagiando na área. Quando voltei ao Brasil, fiz um curso no Manequinho Lopes (viveiro situado no Parque do Ibirapuera) e comecei a trabalhar. Na época o paisagismo era ainda muito desconhecido… e até hoje ainda estamos na briga para reconhecer a profissão. Eu aprendi muito com leituras, pesquisas, viagens e observação do melhor dos paisagistas, que é Deus e sua natureza”, declara.

Sobre seus planos futuros, ele diz que está trabalhando em dois grandes projetos, um deles no Rio de Janeiro (Hotel Emiliano), outro em Santa Catarina (uma propriedade particular para visitação pública) e formatando seu segundo livro (Degustação de Paisagens é o primeiro) para lançá-lo no final deste ano. Resta-nos esperar. (ND)

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