Aficionados por histórias em quadrinhos, games, filmes, brinquedos, os nerds movimentam um grande mercado e agora são pops, segundo Sabrina Gonzalez, psicóloga e estudiosa do tema.
Sabrina Gonzalez é psicóloga clínica e hospitalar, atende pacientes em seu consultório próximo do metrô Sumaré e faz atendimento voluntário no Hospital das Clínicas e na Santa Casa de Misericórdia. E desde pequena se diz fã de HQs e depois se interessou em estudar a cultura nerd.
O interesse de Sabrina pelo tema aconteceu naturalmente. Conta que “desde pequena lia, e continuo a ler histórias em quadrinhos, as HQs”. Diz que se aprofundou no tema “Desde a época da faculdade quando estudei Carl Jung (1875-1961). Ele traça um paralelo entre os arquétipos. E percebi que os personagens das HQs, filmes, livros – carregam uma característica humana que vai além dos poderes especiais de um herói ou heroína. Esses arquétipos, segundo Jung, estão no consciente coletivo e por isso que nos identificamos com as histórias. E esses arquétipos, afirma Jung vem desde a Grécia antiga”, explica a psicóloga.
O termo nerd teria surgido na década de 1950 no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT) e se referia àqueles indivíduos que trabalhavam em laboratórios de tecnologia e era comum passarem noites em claro em suas pesquisas. Na década seguinte, o termo ganhou uma conotação pejorativa, àquelas pessoas que embora tivessem inteligência superior, tinham dificuldade em se relacionar socialmente ou por não atender aos padrões da sociedade e acabavam marginalizados.
Hoje ser nerd tem outra avaliação e deixaram de ser ‘os esquisitos’. Continuam fãs de mangás (quadrinhos japoneses), filmes de ficção (Star Trek, X-Men, O Senhor dos Anéis), séries de TV (The Big Bang Theory), HQs nacionais e estrangeiros, RPG (jogo de interpretação de papéis), bonecos de personagens e muito mais. A Comic Com Experience que acontece em dezembro em São Paulo, atrai milhares de fãs que se vestem e interpretam seus heróis saídos dos gibis ou dos filmes e é considerado o terceiro maior evento do mundo, só ficando atrás das Comic Com de San Diego e de Nova York, nos Estados Unidos.
Para Sabrina “o nerd ou geek, como preferem alguns, era conhecido tempos atrás como ‘esquisito’. Esse estereótipo mudou”, diz. Segundo ela, “Nerds ou geeks, são pessoas curiosas e sempre estão em busca de novidades. Eles utilizam além dos meios tradicionais – livros, HQs, filmes, etc – as redes sociais, aplicativos, em busca de novidades. Eles são pop!”.
Perguntada sobre a carência de heróis genuinamente brasileiros, Sabrina lembra que todos nós temos duas imagens. A imagem que a gente se vê e a imagem de como os outros nos vêem. Para ela, a figura do herói para o brasileiro está mais presente em novelas de TV é faz o gênero do ‘malandro’, nem sempre fazendo a coisa certa. Mas, felizmente essa imagem está mudando por conta dos acontecimentos pelo qual o Brasil passa. Mas ainda estamos muito perdidos”, diz.
Na avaliação da psicóloga, aqueles que se fantasiam como seus heróis não estão fazendo nada de ruim. “É bom que as pessoas tenham fantasias e sonhos na vida. É uma forma de desenvolver nossa criatividade, crescimento pessoal e resulta em viver melhor, além de ser uma diversão e arte”. Lembra Sabrina que hoje o mercado de HQ “tem uma infinidade de títulos para todos os públicos: ficção, aventura e até gospel”.
Os personagens mais populares como das HQs como Batman, Super-Homem, Homem Aranha, X-Men foram criados por roteiristas, artistas e estúdios como Marvel e DC Comics para o mercado dos Estados Unidos, por isso têm uma identificação com a cultura daquele país. O Capitão América é um exemplo clássico deste patriotismo.
A maioria dos heróis são masculinos, mas as heroínas como Batgirl e da saga X-Men como a Mistica, Psylocke também tem seu fã clube. E todos são replicados em filmes, jogos e outros produtos. E a cada ano, novos heróis surgem nas HQs, nos games e nos livros e filmes como O Senhor dos Anéis, Star Treck e Star Wars para ficar nos mais famosos. Os fãs agradecem e consomem.
Por outro lado a produção de HQs que fazem a cabeça de nerds e geeks no Brasil cresce a cada ano e os roteiristas e artistas brasileiros são reconhecidos no mercado mundial. Sabrina, que também é roteirista do Instituto dos Quadrinhos cita as personagens preferidas pela psicóloga: as personagens Cristina e Renata fazem parte do HQ “Pátria Armada”, de Klebs Junior, e tem toda a história desenvolvida em cidades brasileiras como São Paulo. “Falta uma maior divulgação da produção de HQ brasileira”, lembra. “O público brasileiro, sente falta de personagens ou heróis positivos que representem a cultura brasileira, exceto os personagens produzidos para o público infantil”, opina.
Sabrina Gonzalez, www.facebook.com/sabrinagonzalezpsi, sabrinagonzalez.sg@gmail.com