Um dos responsáveis pela organização do carnaval de rua da Vila Madalena, Gustavo Freiberg, supervisor de cultura da subprefeitura de Pinheiros, argentino de nascimento, escultor e morador de décadas do bairro, faz um balanço da festa.
“A organização do carnaval de rua da Vila Madalena teve início logo no final da Copa do Mundo”, diz Gustavo. Para ele, “não foi fácil conciliar os interesses de moradores, comerciantes, blocos de carnaval e foliões que vieram aos milhares para acompanhar um dos blocos que desfilaram pelas ruas da Vila Madalena”. A prefeitura cadastrou cerca de 300 blocos e 68 deles escolheram o bairro para desfilar.
A Vila Madalena virou passarela dos blocos carnavalescos em 2013. Naquele ano, muita gente, ao contrário dos anos anteriores, saiu para as ruas para acompanhar os blocos carnavalescos como o “Nóis Trupica Mas Não Cai”, que arrasta, tradicionalmente quatro noites de carnaval, um verdadeiro mar de gente. O Bloco do Pasmado, que tinha sua concentração próximo ao Fórum de Pinheiros, era outro que reunia muita gente e tinha a Vila como ponto de partida. Este ano o Pasmado se reuniu nas redondezas do Largo da Batata.
O sucesso e a divulgação pela mídia do carnaval de rua na Vila Madalena em anos anteriores levou vários blocos a escolherem as ruas do bairro para seus desfiles. E o espaço ficou pequeno para tanta gente. “Tivemos final de semana que a Vila recebeu cerca de 130 mil pessoas”, informa Gustavo.Desde o final da Copa do Mundo e durante meses, lembra ele, a subprefeitura de Pinheiros criou um grupo de trabalho que se reuniu com os responsáveis pelos blocos, além de moradores e comerciantes e com todos os envolvidos no carnaval: CET (trânsito), Polícia Militar (segurança), SPTuris (infraestrutura), Secretaria da Cultura.
Para ele, “os pequenos blocos, que reúnem de 500 a mil pessoas, são fáceis de organizar, mas os maiores, como o Bicho Maluco Beleza, que trouxe o cantor Alceu Valença no trio elétrico e reuniu mais de 50 mil pessoas, exigem uma logística e infraestrutura mais complexa”, explica.
Gustavo conta que a experiência dos eventos da Copa e do carnaval de 2014 ajudou a organizar melhor o carnaval deste ano. “Tivemos um número maior de sanitários químicos e cadastramos todos os vendedores ambulantes, que não podiam vender bebidas em garrafas de vidro e tinham horário para encerrar suas atividades”. Mas, mesmo assim, houve confusão entre foliões e a Polícia Militar precisou usar bombas de gás lacrimogêneo e balas de efeito moral para dispersar os que insistiam em permanecer nas ruas após a meia-noite.
Uma explicação que Gustavo dá para essa confusão é “que não eram pessoas dos blocos e sim pessoas vindas de todas as partes da cidade para brincar na Vila, mesmo após o desfile dos blocos, que deveriam encerrar seu desfile à meia-noite”. Na última semana do carnaval, foi necessário fechar as ruas Girassol, Fradique Coutinho e Mourato Coelho para controlar o acesso das pessoas e evitar a entrada de vendedores de bebidas não cadastrados. “Não podemos impedir as pessoas de vir para o bairro, mas precisamos controlar o acesso delas”, diz.
Para que o carnaval ficasse mais organizado este ano, todos os blocos inscritos tiveram que apresentar na subprefeitura o trajeto que iriam fazer “e os que desrespeitaram o trajeto e o horário de encerramento serão multados e ficarão sujeitos a não desfilar na Vila no próximo ano”. Também cita os blocos maiores – como os que escolheram a Avenida Paulo VI para seu desfile, “que receberam patrocínio e não fizeram a limpeza da via pública como havia sido acordado com a subprefeitura. Por isso, tivemos que contratar empresa para fazer a limpeza do local”.
Por conta de tudo isso, ele entende que existem muitos moradores e comerciantes que não ficaram satisfeitos com a organização do carnaval deste ano. “Alguns donos de estabelecimentos comerciais, sabendo da programação dos blocos, simplesmente fecharam seus bares e comércio”. Moradores também deixaram suas casas para fugir da festa.
Nos mais de 30 anos vivendo no bairro, Gustavo lembra os anos 1990, quando a Vila Madalena teve início sua verticalização e surgiu a vida noturna: “A princípio a convivência entre comerciantes e moradores era boa, mas logo em seguida surgiram conflitos e os bate-estacas dos prédios em construção também irritaram boa parte dos moradores. E depois vieram os congestionamentos por conta dos carros que descobriram as ruas do bairro para escapar das avenidas congestionadas”.
Uma reunião foi agendada para o dia 4 de março pelo Conselho Participativo, para fazer um balanço do carnaval na Vila. “Vamos prestar contas e ouvir todos os que quiserem falar”.
Gustavo é um dos fundadores da Casa da Cidade, associação fundada em 2000 para promover debates, conferências sobre o bairro e a cidade. Atualmente, por conta de seu cargo na subprefeitura, Gustavo está afastado da direção da Casa, que promoveu vários eventos e workshops para discutir o futuro da Vila Madalena, como a discussão do Plano de Bairro da Vila Madalena e a apresentação de candidatos ao conselho participativo do bairro.
Mal acabou o carnaval e Gustavo informa que a subprefeitura já está iniciando um trabalho de planejamento da festa do ano que vem. Uma das sugestões que ele dá para que o carnaval fique mais tranquilo é “o incentivo da prefeitura para que outros bairros criem e incentivem seus blocos de rua, evitando assim que não fiquem concentrados em poucas regiões, como Sé e Pinheiros que este ano receberam 80% dos blocos inscritos na prefeitura”.