A Vila pós-Copa

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A Copa trouxe à Vila um grande público, que espontaneamente lotou ruas e bares.

A Copa trouxe à Vila um grande público, que espontaneamente lotou ruas e bares.

Para fazer um balanço do que esse evento está deixando de herança para a Vila, entrevistamos dois moradores que ficaram surpresos com o número de pessoas de todas as partes do mundo que vieram pra cá. Matthew Shirts é norte-americano, chegou ao Brasil em 1976. É integrante da velha guarda da Pérola Negra. editor de conteúdo do Portal Sustentabilidade, da Editora Abril, e cronista da Revista Veja SP. Denise Spada mora na V. Beatriz e é dona da loja Avatim.

Para Matthew, “acho que a Vila Madalena já tinha assumido esse papel no carnaval deste ano. A Vila virou o bairro oficial dos jovens festeiros da cidade. Mas eu não esperava tanta gente. Tenho achado sensacional tudo isso. E acho que isso é motivo de orgulho para quem mora por aqui”. Denise também ficou surpresa com o grande número de pessoas que escolheu espontaneamente a Vila para assistir aos jogos. “Não acreditamos que a Copa seria assim, essa festa, e acho que faltou aos lojistas uma melhor organização para atender aos visitantes que vieram para assistir aos jogos e comemorar pelas ruas do bairro”.

O jeito brasileiro de receber bem encantou os turistas. “Desde a Copa de 1984, nos Estados Unidos, onde cobri a trabalho”, diz Matthew, “eu queria a Copa aqui. O brasileiro é único no envolvimento total com o futebol. Tanto nos Estados Unidos como na França, em 1988, não havia um envolvimento como o que acontece aqui no Brasil”.

Denise debita ao nosso “complexo de vira-lata” a pouca confiança de que poderíamos fazer um evento desse tamanho com eficiência, como está acontecendo. “Não acreditamos que poderíamos fazer a Copa. Aqui na Vila, sinto desde a falta de um grafite dando boas-vindas para os turistas até a união de lojistas e moradores para recebê-los”. Ela diz que “poucas lojas se prepararam para a demanda de produtos com as cores do Brasil voltado para os turistas que querem levar alguma lembrança do país”.Para Denise, “faltou preparação também da prefeitura, além de diálogo e parceria entre nós. Mas quando procuramos a Subprefeitura, ela fez o possível para atender às necessidades da V. Madalena, instalando banheiros químicos, melhorando a coleta de lixo e a segurança por parte da Polícia Militar, e a Guarda Municipal também foi ampliada após os primeiros dias de Copa”.

Realmente, nos primeiros dias de jogos, a Vila enfrentou problemas de mobilidade, higiene, segurança e só nos dias posteriores que a subprefeitura de Pinheiros, responsável pela Vila, melhorou a situação. Com parceria com CET, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana e serviços de coleta de lixo e de saúde, as ruas ficaram mais policiadas e algumas delas tiveram o trânsito interrompido para facilitar a mobilização das pessoas.

Antes do evento, manifestações e passeatas de “black blocs” prometiam paralisar ou dificultar a realização dos jogos. Elas aconteceram em menor número em alguns pontos da cidade, o que não causou nenhum grande atraso aos jogos realizados. “Fiquei com receio de que as manifestações pudessem interferir nos jogos, mas felizmente, o futebol e a Copa são muito importantes para os brasileiros”, ressalta o jornalista, que torcia para que a final fosse entre Brasil e Estados Unidos.

De herança, a Copa do Mundo colocou a Vila Madalena definitivamente no mapa-múndi. Seguramente, a Vila já tinha fama de bairro boêmio e com toda essa divulgação e geração espontânea de mídia, passa a ser um destino obrigatório para quem visita a cidade. “A Vila não será mais a mesma”, preconiza Matthew. “Imagino moradores preocupados e aborrecidos com tudo isso. Cito até uma amiga que flagrou casais transando na frente da casa dela! O mundo inteiro agora sabe da Vila. Dias atrás estive no Beco do Batman e encontrei equipes de jornalistas de várias partes do mundo gravando suas matérias. A Vila é a praia da cidade!”, diz.

Como comerciante, Denise espera que todo esse movimento resulte numa melhor organização para receber os visitantes atuais e os futuros turistas. “Agora a Vila ficou mais famosa ainda. Além da parte boêmia, precisamos mostrar os outros segmentos. Os visitantes que a cidade receber vão querer visitar o bairro em seus passeios. Precisamos nos organizar e capitalizar isso. O certo é que vamos continuar recebendo bem os turistas, que é comum aos brasileiros”. 

E para que a Vila tenha um fluxo de turistas e visitantes como outros bairros famosos de Buenos Aires (Recoleta) ou Nova York (Village), Denise acredita que “precisamos estar melhor preparados, comerciantes e moradores, para receber esse público que vem em busca de diversão e cultura. E a Vila é um bairro de São Paulo que reúne além de bares, um bom número de galerias de arte, ateliês, grafites e lojas charmosas como nenhum outro bairro da cidade”.

Como a cidade de São Paulo recebe um número crescente de pessoas que vem para congressos, feiras e eventos, Denise acredita que um bom trabalho de organização trará cada vez mais novos visitantes para conhecer o que a V. Madalena tem de atrativo. “São Paulo tem sido uma boa surpresa para quem está visitando o Brasil. Nossos preços estão melhores do que os do Rio de Janeiro. E precisamos atrair esses turistas para visitar a cidade em um final de semana, ao menos”, espera a empresária.

O trabalho da subprefeitura


Depois do caos dos primeiros dias de jogos, a Prefeitura, junto com a Subprefeitura de Pinheiros e outros órgãos públicos, montou esquema de atendimento e infraestrutura para organizar e dar melhor atendimento ao público que foi até a Vila Madalena. No dia 1º de julho, a Polícia Militar estimou em mais de 7 mil pessoas presentes na Vila para assistir aos jogos da Copa do Mundo.

Na Vila, Prefeitura e Polícia Militar montaram uma operação de apoio de trânsito, segurança, infraestrutura e fiscalização. No dia 1º de julho, segundo a Prefeitura, as ruas da Vila receberam, desde às 8 horas, 55 homens da Guarda Civil Metropolitana, além de quase 400 policiais militares e técnicos da Defesa Civil. Na limpeza urbana, 160 funcionários atuaram em ruas de grande concentração, como Aspicuelta, Mourato Coelho e Fradique Coutinho. A CET bloqueou várias vias e colocou 60 agentes para acompanhar e monitorar o trânsito. A Secretaria da Coordenação das Subprefeituras disponibilizou 45 fiscais e a Subprefeitura de Pinheiros, outros 15 para coibir o comércio ambulante ilegal. Quatro ambulâncias com dez socorristas ficaram de prontidão para atender aos torcedores. O Corpo de Bombeiros manteve oito homens para prestar atendimento ao público. O Programa de Silêncio Urbano (Psiu) ficou de prontidão para fiscalizar os excessos de barulho. Por outro lado, a SPTuris instalou banheiros químicos, 56 vigilantes e quatro servidores no posto de atendimento ao turista. Na região, dez ruas e cruzamentos, foram bloqueados a partir das 8 horas para garantir a tranquilidade dos torcedores. Veículos foram proibidos de estacionar nos locais. Essa operação só termina com a diminuição da concentração de torcedores no bairro. 

E até a partida final, dia 13 de julho, haverá esquema especial para atender todos que optarem pela Vila para assistir aos jogos da Copa do Mundo 2014.

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