Nossa entrevistada, Jerusha Chang, fala com exclusividade sobre os benefícios da prática da meditação, a influência das energias positivas e negativas em nossas vidas.
E também sobre concentração, foco, controle de emoções e autoconhecimento. A presidente da Associação Tai Chi Pai Lin fundou o Espaço Luz, localizado na Vila Madalena, juntamente com seu marido, Lúcio Leal, em 1997, e continuou a disseminar os ensinamentos do mestre taoísta Liu Pai Lin. Hoje, Jerusha oferece diferentes cursos, como Tai Chi Chuan, Tuiná (massagem chinesa) e Tao In (meditação taoísta), que promovem bem-estar, qualidade de vida, harmonia e vitalidade. Acompanhe.
A sociedade ocidental confunde meditação com algo esotérico. E os taoístas?
A meditação é uma religação do homem com sua origem espiritual, é uma prática real, que incorporamos facilmente na vida diária. Não a vemos como algo místico, . Dentro da visão taoísta, tudo está interligado e a meditação é um meio que promove a integração do ser humano, como uma pequena natureza, com o céu e a terra, que é a grande mãe natureza.
A meditação ajuda na concentração e no autocontrole?
Sim, porque a meditação faz com que as pessoas larguem sua “pequena inteligência” (pensamentos, emoções, medos), que consideramos um “fogo falso”. À medida que meditamos, deixando a mente vazia e os nervos cerebrais relaxados, conseguimos soltar pensamentos, emoções e preocupações, aumentar nossa energia e manter maior clareza, lucidez e concentração. Quando as “luzes falsas” da mente se apagam, permitimos que os “brilhos verdadeiros” (que têm importância) se manifestem no centro de energia do nosso corpo.
Como os taoístas definem energia?
A integração que temos com a natureza ocorre através da energia, do invisível, inaudível e impalpável, que é o próprio TAO, definido como a energia primordial criadora da vida. A energia, então, é a base de tudo, o poder da criação. Treinar a própria energia através da meditação impede que fiquemos vulneráveis a energias negativas em nossas relações pessoais, por exemplo.
Quem medita começa a enxergar as coisas mais importantes da vida?
Sim, porque quando a pessoa fica muito voltada para o exterior, para o lado material da vida, ela se desconecta de seu interior, que é seu verdadeiro ser, seu ser espiritual.
Existe um método para meditar?
Nas aulas de meditação do Espaço Luz, seguimos os ensinamentos de Liu Pai Lin, mestre iluminado taoísta, em três etapas: relaxar o corpo, esvaziar a mente e o coração e depois permanecer na serenidade, no centro de equilíbrio. Como não dissociamos o corpo do espírito, primeiro fazemos exercícios de flexibilização e alongamento, para conseguir deixar o corpo imóvel. A partir daí, ficamos parados e em pé, numa postura que ajuda a esvaziar a mente e que chamamos de postura do universo. Depois disso, sentamos e permanecemos em silêncio.
Respiração é importante pra meditar?
Dentro da filosofia do TAO, que é natural, utilizamos nossa respiração mais profunda, que se assemelha à respiração de uma criança. A ideia é conseguir recuperar a respiração fetal, que é a mais original do nosso ser e, para tanto, utilizamos algumas técnicas. Podemos dizer que a respiração fetal é a porta de entrada para a meditação, pois é ela que permite a permanência do corpo e da mente na serenidade e no vazio.
A meditação ajuda a ter foco?
Sim. Ela faz com que corpo e espírito comunguem, retornando à unidade original do ser, e no momento em que estamos inteiros conseguimos ficar totalmente focado.
Coincidências existem?
O que existe é a sintonia de energia, por isso acontece a sincronicidade. Acreditamos que é importante estar conectado consigo mesmo, pois só assim será possível ficar conectado com tudo (mensagens e acontecimentos) que o universo está mandando.
Por que é tão difícil esvaziar a mente?
A mente é um macaco inquieto, ela não para, fica pulando de galho em galho. Por isso o objetivo principal da meditação é esvaziar a mente, relaxar os nervos cerebrais para que a verdadeira inteligência se manifeste.
Qual o segredo para esvaziar a mente?
Em primeiro lugar, ter a consciência da importância desse aquietamento mental, que é justamente a manifestação e o aumento da criatividade, da intuição e de outras qualidades que são mais espirituais. Por sermos a réplica do céu e da terra, pois tudo o que tem no céu e na terra existe dentro de nós, à medida que nos interiorizamos, conseguimos descobrir mais tesouros internos. Se ficarmos voltados apenas para a sobrevivência, para as questões materiais, nos desviamos de nosso caminho original e do nosso ser interior, espiritual e verdadeiro. Existem técnicas até simples para esvaziar a mente, como, por exemplo, a postura do universo e a pulsação de umbigo, que consiste em fazer retornar a tensão nessa parte do corpo e conseguir aquietar a mente, o coração, para manter a serenidade.
Com técnicas, essa conexão se torna mais fácil?
Sim, o retorno que temos dessa técnica é fantástico, tanto em recuperação da saúde quanto emocional. A meditação é uma verdadeira medicina de equilíbrio porque muitos problemas não são resolvidos nem pela medicina nem pela psicologia (porque já se tornaram psicossomáticos). Além dela, toda a prática do Tai Chi Chuan é meditativa, só que em movimento, e funciona também como uma medicina de equilíbrio. O jovem que tem mais dificuldade em aquietar pode praticar Tai Chi Chuan, com o qual consegue aumentar a concentração aos poucos e, assim, meditar mais facilmente.
Estar “desconectado” pode levar ao uso de drogas ou a doenças?
Estar desconectado é, na verdade, desconhecer o próprio centro de equilíbrio e, a partir daí, permitir que as energias Yin (água) e Yan (fogo) se dissociem. Usando imagens para exemplificar, então o fogo sobe através dos pensamentos e emoções e a água desce através do sêmen e do sangue. Quanto mais o fogo sobe, mais a água desce, ocasionando uma dissociação de energias no centro do equilíbrio, que vai ficando cada vez mais fraco. A pessoa que tem uma dissociação muito grave se perde totalmente do seu centro, entrando em emoções extremas, oscilando entre o céu e a terra, entre a euforia e a depressão e apelando para drogas e remédios ou ficando doente.
O álcool, as drogas e os remédios conseguem fazer uma pessoa ter momentos de conexão de forma errada e por isso ela se vicia?
Pois é, realmente pode ocorrer. É quase um apelo do próprio espírito de querer se manifestar de alguma forma, mesmo com jovens que têm recursos e estão insatisfeitos porque sentem que a vida está muito limitada dentro do material. Na verdade, eles sentem a necessidade dessa liberação de seu espírito, desse seu ser interior, por isso buscam por álcool, drogas… Com certeza, seria bem mais saudável e interessante buscar uma prática como a meditação, na qual a pessoa vai, através de seus próprios recursos, atingir um estado de bem-estar e harmonia com a natureza, sem recorrer a coisas que podem ser prejudiciais à saúde, muitas vezes oferecendo risco de morte.