Um sonho em comum

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Lara Freitas e Cecilia Lotufo fazem parte de um grupo de moradores que pretende transformar as Vilas Beatriz, Ida e Jataí em ecobairros para resgatar suas memórias, as águas, o verde e melhorar a convivência entre as pessoas.

A definição de ecobairro ainda é nova em nossa sociedade e pode parecer um tanto confusa para a maioria das pessoas, entretanto, é possível dizer que um ecobairro contempla alguns aspectos como justiça ecológica, econômica e social e que pode ser definido como uma área em que o meio ambiente e a sociedade que nele vive, tenham uma convivência pacífica, equilibrada e harmônica.

É possível construir um bairro totalmente sustentável do zero, partindo de lotes com ou sem vegetação, estabelecendo construções “amigas” do meio ambiente e colocando nelas pessoas que tenham desejos e vontades parecidas. O desafio, entretanto, é transformar um bairro antigo, repleto de moradias, cimento, gente diferente e poluição em um lugar que resgate as nascentes, a flora, a fauna local e a paz de seus habitantes. É justamente isso que um grupo de moradores já começou a fazer nas Vilas Beatriz, Ida e Jataí, bairros contíguos à Vila Madalena.

Para Cecilia Lotufo, proprietária da Pizzaria Dona Rosa, localizada na Vila, e uma das idealizadoras do plano de ecobairro, tudo começou com um sonho em comum: o de resgatar a história das Vilas, que são áreas de nascentes, e o de unir pessoas que têm vontade de modificar o bairro em que vivem, de modo compartilhado e mais próximo. “Queremos um lugar para viver bem, onde eu possa encontrar frequentemente e reconhecer as pessoas que estão próximas a mim e de ter uma comunidade acolhedora, que se importe com as árvores que estão sendo cortadas, com os rios que vivem nos subterrâneos, com a poluição da água e do meio ambiente…”, diz Cecilia.

Parte do grupo unidoEla, que fundou o Movimento Boa Praça no ano de 2004 e que faz parte do CADES (Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) da prefeitura regional de Pinheiros, disse que as pessoas foram se juntando em torno das ações que faziam em praças dos bairros (como por exemplo, plantio de árvores e manejo de solo para ensinar às pessoas que juntar folhas caídas nos pés das árvores ajuda a segurar a umidade e funciona como adubo natural para elas, entre outras coisas) e que isso trouxe a arquiteta Lara Freitas, especialista em ecobairros, para a causa. “Mesmo antes de conhecer o conceito de ecobairro,e de reconhecer que o que queríamos era justamente ter esse ecobairro, já fazíamos ações para conseguirmos ter o nosso ‘bairro dos sonhos’”, conta.
Uma festa junina, planejada em conjunto a partir do Boa Praça, foi um dos pontos de partida para que o plano de ecobairro começasse a ser delineado, pois foi dali que surgiram as ideias, as vontades e as solicitações dos participantes. “Descobrimos a princípio que as pessoas não sabiam sonhar, principalmente porque elas respondiam à pergunta de como seria o bairro de seus sonhos com negativas como: ‘não quero violência’, ‘não quero prédios demais’, ‘não quero poluição’, etc…, quando passamos a formular outras perguntas (como o que você quer, o que não quer e qual o seu bairro dos sonhos), é que descobrimos que a maioria queria mais eventos culturais, mais transportes alternativos que conectem os locais a eixos de transportes oficiais, e um lugar com mais verde, menos poluição e mais acolhedor (praticamente uma definição de ecobairro).”

Lara, que já trabalhava com ecovilas desde 2008 no CADES da prefeitura regional da Vila Mariana, se uniu ao grupo (que soma hoje cerca de 100 pessoas, 20 das quais bastante ativas) e hoje contribui sobremaneira com todas as atividades propostas, dando palestras, aconselhamento sobre ações pontuais, etc. O grupo recentemente conseguiu uma sede, localizada numa casa que antes estava abandonada na Praça Valdir Azevedo (Vila Ida) e que hoje está revitalizada e serve de apoio para encontros e planejamento de novas ações – a reforma da casa inclusive serviu como um piloto para a criação da lei sobre gestão participativa de praças, sancionada em 2015 na gestão de Fernando Haddad. O grupo também está realizando um grande trabalho de mapeamento de nascentes, que começou na Praça das Corujas e que já contabilizou 16 nascentes em apenas três quilômetros de extensão, entre muitas outras ações. Trabalhando com mapas e em conjunto com outros movimentos de moradores vizinhos, o grupo segue firme, planejando seus novos passos, implantando grupos de trabalhos em diferentes frentes e envolvendo cada vez mais pessoas com o objetivo de tornar real o sonho de ter bairros melhores, mais justos e mais sustentáveis para todas as pessoas. (ND)

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