O “cara” da arte de rua

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Sempre envolvido pela arte de rua, Baixo Ribeiro virou referência no assunto e sua galeria na Vila Madalena é uma prova disso.

Baixo Ribeiro é a cara da Galeria Choque Cultural, na Vila Madalena, que criou em 2003 na Rua João Moura e na Vila Madalena em 2009. Tem como sócia a artista plástica e esposa, Mariana Martins. Nesta conversa, ele, além de arte de rua (street art), dá dicas para um novo colecionador. Também fala do Instituto Eduqativo (com Q no lugar do C) e seu projeto de formação de professores e alunos, mas também se preocupa e é ativista em temas como urbanismo.

Como foi sua carreira?
Em 1980 comecei a trabalhar como designer de moda, com a parte conceitual. Naquela época, a moda era um fenômeno ainda não compreendido. Era associada à vaidade e à frivolidade. Não se tinha noção da cadeia produtiva e de toda a riqueza que ela gerava e o setor ainda não estava organizado – só se consolidou na década seguinte. Fiz arquitetura, por interesse e por não ter faculdade de moda na época. O comportamento coletivo é o que me atrai. Foi nos anos de 1990 que me fixei mais aos grupos jovens do skate, universo onde se formava o conceito de redes sociais através das afinidades. A cultura skate era uma cultura guarda-chuva, que abrigava o punk rock, o grafite, as tatuagens. Na virada do século, me foquei mais na arte como uma linguagem de comportamento. E ao longo dos últimos anos, também incluí o urbanismo e a educação.

Qual é a vocação da sua galeria?
A Choque Cultural começou em 2003 com uma plataforma mais ligada à arte e à formação de novos públicos. Eu e a Mariana Martins criamos um ambiente onde recebemos uma proposta, ideias de artistas, e conseguimos inserir no mercado e conseguimos uma representatividade em relação a outros espaços de arte, que a cada dia estão mais híbridos. Um ambiente que mostra, vende, educa e forma público para a arte. Estamos pensamos nas gerações futuras e como traduzir a contemporaneidade e os anseios dessas gerações futuras. Trabalhamos com uma interface do hoje com o amanhã. A galeria abarca todos os assuntos relativos à arte.

E as ações do seu instituto?
O Instituto Eduqativo expande todo esse conhecimento que adquirimos através da educação. Sabemos como nos comunicar com os professores e alunos e agora temos condições de colocar isso tudo em uma escala maior, a serviço do poder público, das comunidades, das escolas, das prefeituras.

Dê um exemplo.
Nosso carro-chefe é o programa de formação de professores da rede pública municipal e estadual e em algumas escolas particulares. Trabalhamos em cima da linguagem do professor de artes com seus alunos, atualizando a linguagem em relação à juventude. Desenvolvemos novos modelos pedagógicos que têm a ver com a linguagem de web, com a linguagem da rua e outras novas linguagens, em formatos pedagógicos para explicar melhor o que acontece nessa área ao professor. Esse processo dura um ano inteiro.

Como o artista de rua chega à galeria?
Cada artista tem um caminho diferente e a carreira é uma incógnita, envolve riscos, e é imprevisível saber aonde ele vai chegar. A história está cheia de exemplos. Os artistas que trabalham na rua investem antes de acontecer. Precisam de um financiamento não tradicional, como o artista de ateliê. Ele é um altruísta e é importante que seja valorizado. Isso não quer dizer que qualquer traço ou rabisco seja arte. Os artistas se dedicam a várias plataformas: vídeo, pintura, desenho, quadrinhos, gravura, digital, grafite. Na rua, o trabalho dele tem um apelo de comunicação muito grande e para um público que não é servido por outras formas de arte.

Vocês lançaram muitos artistas?
Foi aqui na galeria que a maioria dos artistas fez sua primeira exposição. Muitos já tinham carreira estabelecida mas aqui foram representados comercialmente ao mercado.

Como é o mercado de street art?
O norte-americano é o grande modelo, com uma circulação grande de mercadoria, ideias, dinheiro. Não só arte, mas também tudo. Na Europa, o público consome menos mas coleciona mais objetos de arte, cultura, filmes. Na Ásia, o público é novo e crescente e se tornou um mercado forte. O Brasil tem um mercado ainda fraco. Temos números mas o mercado argentino e chileno são mercados mais educados em termos de consumo de arte.

Que dicas você dá a um futuro colecionador?
Para evitar comprar gato por lebre, é preciso entender melhor e isso só se consegue com estudo, e é uma coisa gostosa de fazer. Antes de colocar seu dinheiro em uma obra, conheça a galeria e veja se ela tem um trabalho de base. O dinheiro investido em uma obra de arte pode ser um investimento muito inteligente e pode potencializar muitas coisas boas. Ou pode estar dando dinheiro apenas para enriquecer algumas pessoas.

O que a Vila Madalena tem de interessante?
A coletividade. É um agrupamento de pessoas que moram, trabalham, usam a Vila de um jeito ainda equilibrado. Isso cria uma inteligência coletiva de qualidade a ponto de conseguir fazer um plano de bairro que possa dar uma direção de acordo com a opinião da maioria. Temos, hoje, condições de conversar com todo mundo. E isso vai cada dia mais acontecer. É uma questão política, não partidária, mas da política real e vamos planificar o crescimento e evitar os desequilíbrios, para manter a qualidade de vida que existe e agregar mais pessoas. Queremos que as pessoas saiam se quiserem e não por serem expulsas pelo crescimento imobiliário.  

Sua opinião sobre os grafites da Vila?
A arte que a gente vê nas ruas da Vila Madalena é muito boa, assim como no resto da cidade. O melhor de tudo é o conjunto. O senso coletivo é muito forte quando um artista faz seu trabalho na rua junto com trabalhos de outros artistas. Existe lá, intuitivamente, uma noção de coletivo que o transforma em um conjunto muito bom.

A arte traz felicidade?
A felicidade vem de todo um processo de civilização e desenvolvimento. Aqui as questões racial e religiosa estão mais amaciadas. As questões econômicas não, e precisamos resolver a desigualdade social. O desenvolvimento da cultura é um sintoma para indicar se estamos indo pelo caminho certo ou não.

Galeria Choque Cultural
Rua Medeiros de Albuquerque, 250
Telefone 2678-6600
www.choquecultural.com.br

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