Da Vila para o mundo

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O 44 Toons, estúdio de animação, faz sucesso em TV americana com animação genuinamente brasileira.

O 44 Toons, estúdio de animação, faz sucesso em TV americana com animação genuinamente brasileira.

Alê McHaddo, sócio e diretor de criação da 44 Toons, que tem sede na Vila Madalena, é o criador da animação “Nilba e os Desastronautas”, que está sendo veiculada nos canais por assinatura Rá-Tim-Bum, Gloob e TB Brasil e também no canal norte-americano Starz, com boa receptividade pelo público infantil. A 44 Toons, ganhadora de diversos prêmios nacionais e internacionais, está produzindo, com recursos próprios, dois longas-metragens em animação: Osmar, a primeira fatião de pão e BugiGangue, que estarão nos cinemas no próximo ano. Nesta entrevista, Alê fala de seus filmes, mercado brasileiro e mundial e sobre games, que também domina e produz conteúdo.

Como você começou na animação?
Entrei na faculdade para fazer artes plásticas, mas durou pouco. Durante a faculdade fui trabalhar em animação no estúdio HGN, que fazia Aladim e Pateta, da Disney. Foi lá que aprendi a animar. Me formei trabalhando no estúdio e ao mesmo tempo fazia minhas próprias animações. Para mim, a narrativa é mais importante do que a forma. Fiz história em quadrinho na faculdade mas fui para a animação que é outro mundo.

Qual foi a sua primeira animação?
Foi a Lasanha Assassina (2002). Fiz praticamente tudo sozinho e com recursos próprios. O roteiro veio de uma história em quadrinhos que havia sido publicada numa revista da faculdade chamada 44 Bico Largo, que era para contrapor com a revista Meia de Seda, que circulava por lá. Antes da 44 Toons, que é um estúdio de animação, trabalhava e ainda trabalho com games, que é a 44 Bico Largo.

A Lasanha… de cara recebeu um prêmio e isso lhe abriu portas?
Sim. Assim que a Lasanha… foi lançada, recebeu prêmio e daí recebi muitas propostas para fazer animações, principalmente para o mercado publicitário e de conteúdo.

Que influências você teve?
Sempre lia quadrinhos, via muito desenho animado, jogava videograme e desenhava. Acho que o que influenciou meu olhar estético e traço vem da TV. Gostava muito dos desenhos Hanna-Barbera. Os preferidos eram Os Impossíveis, Corrida Maluca, Os Herculoides, Frankstein Junior… Gostava da simplicidade do desenho. O que eles inventaram foi seguido pelos outros estúdios. Eu gostava desses desenhos porque eram muito divertidos. Via também Disney, mas eram poucos os desenhos para TV e os longas eram meio chatos, exceto o Fantasia, que acabou virando cult. São filmes tecnicamente perfeitos mas não cativam pelo humor, na minha opinião.

Como surgiu Nilba e os Desastronautas?
Da produção até a realização dos 39 episódios, foi tudo muito rápido. O projeto é de 2010. Nós tínhamos o projeto do Osmar, a primeira fatia de pão, que primeiro foi um curta, que virou série e vai virar longa em breve. O Nilba foi apresentado para a TV Rá-Tim-Bum e precisava ter baixo custo e voltado para faixa etária de seis a nove anos. Assim que fechamos com a Rá-Tim-Bum, começamos a produção dos 39 episódios, que fizemos de 13 em 13. Nós bancamos a produção com recursos próprios e ele foi feito enquanto a gente prestava serviço para terceiros. A TV Cultura bancou 25% dos custos. O custo da série é de cerca de R$ 1,5 milhão. Pagamos algumas coisas e outros custos abrimos mão, como roteiro, direção e assim conseguimos viabilizar o projeto.

Faça um resumo do Nilba…
O nome é uma gíria antiga para os novatos em games. Hoje o novato é chamado de Noob, que vem de Newbie, nome dado ao soldado novato do exército inglês e que os games importaram. Com as traduções, acabou virando Nilba. Ele é um garoto de oito anos que virou capitão de uma nave espacial e de uma equipe de astronautas atrapalhados. Eles caem numa lua e para eles é só diversão e confusão.

Geralmente nós compramos as séries dos Estados Unidos. Como você fez o caminho inverso?
Desde 2008 participamos de feiras de animação, tanto em Cannes (França) como nos Estados Unidos. Elas englobam o mercado mundial. As feiras servem para conhecer pessoas da área e ser conhecido pelo mercado. Em 2009 fechamos uma parceria com uma agente que vendeu a série para o canal a cabo Starz, voltado para crianças norte-americanas principalmente e é assistido por milhões de pessoas. Quando a nossa agente disse que estava negociando com a Starz, achei que nada iria acontecer. Achava que ela deveria começar por outros mercados. Mas, para minha surpresa, deu certo e, segundo a Starz, com boa aceitação pelo público.

Nilba é um personagem brasileiro?
O mais engraçado é que é uma ficção científica que mistura russos e americanos. Nilba é brasileiro quando usa seu jogo de cintura e improvisa.

Ele tem alguma coisa do Alê?
Ele tem muito a ver comigo. A cozinheira, dona Hilda, é a minha avó. O macaco é como se fosse o irmão mais velho. Tudo o que consumi de ficção científica eu passei para as histórias e faço muitas referências a outros filmes. Se a criança não entende a citação, vai rir pela situação.

É uma animação para ser vista com o pai e o filho?
O mercado pede muito isso, pai e filhos assistindo e se divertindo juntos. O Nilba tem essa característica. Misturo 2001 Uma Odisseia no Espaço com iPhone (risos).

Tem outras produções em andamento?
Sim. Uma é Tordesilhas, que fala de bandeirantes atrapalhados que se metem em muitas confusões num Brasil que nunca existiu, com Gigante de Itu, Rio Tietê e outras referências. Misturamos as lendas dos livros do Câmara Cascudo com lendas mundiais. O outro é Cordelicus, que são cangaceiros e toda a ação se passa no nordeste brasileiro. Não é nossa preocupação fazer animação só com conteúdo brasileiro. Como sou brasileiro, acho que as coisas vão estar lá.

Desde quando a 44 Toons está na Vila Madalena?
Desde 2006. Eu e a Melina Manasseh, minha sócia e esposa, tínhamos o estúdio na Granja Viana e o acesso não era dos mais fáceis, com esse trânsito todo. Um amigo me disse que aqui na Vila havia este prédio com salas para alugar. Ter vindo para cá facilitou a minha vida e do meu pessoal.

O que lhe agrada na Vila Madalena?
A Vila era mais tranquila do que é hoje. Mas almoçar aqui é ótimo e temos muitas opções. O Petit Café, na Wisard, é nossa sala de reuniões. Vou ao Genial, ao Filial, à Livraria da Vila, à feira da Mourato Coelho e galerias que temos por aqui. O grafite vai estar no BugiGangue, por exemplo. Ainda curto muito a Vila.

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