Pelos direitos humanos

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Pelos direitos humanos

Criado em 25 de junho de 2009, o Instituto Vladimir Herzog, que tem sua sede na Vila Madalena, tem como missão contribuir para a reflexão e a produção de informações que garantam o direito à vida e à justiça. O instituto não tem fins lucrativos e se define neutro em questões político-partidárias. O IVH busca preservar a história do Brasil a partir do Golpe de 1964 e manter viva a memória do jornalista Vladimir Herzog, morto em outubro de 1975. Promove, orienta e premia trabalhos feitos por estudantes de comunicação que abordem temas pertinentes aos direitos humanos e a justiça. Produz livros, organiza palestra, debates e eventos. Acabou de promover uma série de encontros, palestras, exposição, filmes e música erudita que movimentaram o Itaú Cultural, a Cinemateca Brasileira e o Auditório Ibirapuera. O evento serviu para homenagear os 75 anos de nascimento de Vladimir Herzog. Ivo Herzog, filho do Vlado, e diretor do IVH, fala sobre os propósitos do instituto que dirige.

Quais são os objetivos do Instituto Vladimir Herzog?
Primeiro como forma de lembrar da vida do meu pai. Havia uma demanda sobre a família para entrevistas, fotos, material. A família achava que a cada ano que passasse, haveria menos interesse sobre ele. Mas não foi isso o que aconteceu. Por “ene” razões, passados 30 anos da morte dele, há um interesse enorme sobre a vida de meu pai. A data de criação do IVH, 27 de junho é para coincidir com o aniversário de nascimento e para lembrar dele pela vida e não pela morte.

A família disponibilizou todo o material sobre seu pai?
Organizamos o que tínhamos sobre ele e colocamos na internet. É para eventuais consultas e atender à demanda.

Como surgiu o IVH?
Foi falando com amigos comuns, entre eles, Sérgio Gomes, Audálio Dantas, pessoas que viveram com meu pai. Aliás, um dos principais inspiradores do IVH foi o cardeal Dom Evaristo Arns. Quando o visitamos no início de 2009, ele havia feito um manuscrito de 4 páginas com o que deveria ser o Instituto. Ou seja, a missão do IVH é contribuir para reflexão e produção de informação que garanta o direito à vida e o direito à justiça. Nós não somos um partido político. Somos políticos, fazemos e debatemos a política. O que fazemos fazer neste caso é promover o debate. A opinião do IVH é irrelevante. Queremos que cada pessoa desenvolva a sua opinião. Queremos gerar reflexão para que as pessoas tenham opinião  fundamentada sobre os fatos. Recentemente, tivemos um questionamento sobre o que o IVH pensa sobre o aborto. O IVH não tem opinião formada sobre o assunto. Achamos que o tema é uma questão muito importante e que deve ser discutida.

Os eventos são anuais?
Promovemos em junho um debate internacional sobre a memória de Vladimir, no Itaú Cultural. Anos atrás, fizemos um evento parecido no Auditório da Folha, sobre a Liberdade de Imprensa. Em parceria com a TV Cultura, propusemos um seminário sobre o mesmo tema. Meu pai era diretor do Jornal “A Hora da Notícia”, quando ele morreu.

Este ano, foi um evento especial por conta dos 75 anos do Vlado?
Por ser o ano de comemoração de 75 anos do nascimento do meu pai, fizemos este evento especial. Mas queremos anualmente fazer outras coisas. Faremos no ano que vem uma exposição até maior. A levaremos para os Centros Culturais do Banco do Brasil – Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília. Ela será a espinha dorsal, mas teremos debates, cinema, música, teatro e estamos trabalhando na pré produção. O processo é assim. E modéstia a parte, o que fazemos, fazemos muito bem feito.

Que idade você tinha quando seu pai morreu? Você e seu irmão compreenderam o que havia ocorrido?
Eu tinha 9 anos quando meu pai morreu. Na época, eu e meu irmão não entendemos muito bem o que havia acontecido.Nós fomos protegidos e isolados nesse momento. O que foi normal.

Foi importante para sua família ter movido um processo contra a União?
O processo contra a União foi importante, porque abriu as portas para que outras famílias fizessem o mesmo.

Qual é o público que vocês pretendem atingir através do IVH?
São os jovens. É um grande desafio se comunicar com quem não viveu na ditadura. O mundo mudou, está diferente. Nem para melhor, nem para pior. As gerações têm uma grande dificuldade para se comunicarem.

Vocês produziram alguns livros para preservar a memória da imprensa do Brasil?
Já criamos produtos como o livro que conta a história da imprensa do Brasil. É um livro ilustrativo com pouco texto e sobre os diversos jornais que circularam por aqui, legais e clandestinos e outros que foram produzidos no exílio, foi organizado pelo jornalista Ricardo Carvalho e outros. Um outro livro que produzimos, tem 60 depoimentos de jornalistas que viveram essa época.
 
E como esses livros chegam aos leitores?
Os livros que produzimos foram e distribuídos em 500 escolas pelo país. Fora isso, todo o material está digitalizado e acessível no site.

Os brasilianistas tem interesse neste tipo de estudo?
O interesse pelo que se produz no Brasil em matéria de Direitos Humanos desperta o interesse de muitos estudiosos. Nossos livros e CDs estão na Biblioteca do Congresso Americano.

Ao seu ver qual a importância da Comissão da Verdade que está iniciando seus trabalhos?
A questão é a memória de uma nação. A única maneira de você não repetir os erros e não esquecer do passado. Vou te dar um dado: o atual presidente da CBF, José Maria Marin foi uma das pessoas que articulou a prisão e a morte do meu pai. Foi por causa de um discurso dele na Assembleia Legislativa, quando ele era deputado, duas semanas antes de meu pai ser preso no Doi Codi, da Rua Tutoia.
 
Muitas famílias ainda não têm informação sobre seus desaparecidos? A de seu pai é bem conhecida.
A história do meu pai é uma das histórias mais bem documentadas. Mas falta esclarecer quem foram os algozes, entre eles, o José Maria Marin. O Brasil está sendo representado por uma pessoa que tem um passado como o dele. Será que nós queremos viver em um país com pessoas assim? Todos os documentos que tínhamos enviamos para a Comissão da Verdade.

Estamos mais vigilantes e exigentes?
O Brasil é um país que tem escolas, mas não tem educação. Boa parte dessa corrupção que vivemos é por desconhecermos a história deste país. Na verdade, o que houve em 1964 foi um golpe de estado não porque tínhamos comunistas. Isso é uma bobagem! Foram os grupos econômicos que queriam formar parcerias com o governo para ter vantagens. E isso acontece hoje. Os mensalões e o Carlinhos Cachoeira estão aí. Não temos punição para essas pessoas. A tolerância da sociedade vem diminuindo. Aos poucos vamos progredindo.

Que projetos vocês têm para breve?
Estamos criando um projeto chamado Vlado Educação. Para o ano que vem, nós planejamos fazer palestras em universidades, fora dos grandes centros urbanos. Vamos montar cursos de extensão universitária e pós graduação em comunicação social. Temos também um prêmio para estudantes de Jornalismo. Queremos ser parceiros das universidades. Não queremos concorrer com as escolas. Atualmente, temos uma dupla de estudantes que vai à Inglaterra depois das Olimpíadas. Eles fizeram, em outubro do ano passado, uma pauta sobre a situação dos haitianos que estavam entrando no Brasil por Tabatinga. A grande imprensa só deu destaque ao problema em janeiro deste ano. Foi uma bela reportagem. Entre as três reportagens, escolhemos essa, e eles vão participar de encontros na Inglaterra. Nós pagamos as passagens e os parceiros do programa, que fizemos na Inglaterra, vai garantir a hospedagem e tudo mais o que eles precisarem por lá.

A produção de um programa de TV também está nos planos do IVH?
Estamos negociando com um canal de televisão que eu ainda não posso anunciar, uma parceria para fazer um programa semanal nacional sobre Direitos Humanos. Podemos ir para Salvador saber o que os baianos acham sobre cotas raciais, o que eles acham dela? o que incomoda? Aí vamos para Santa Catarina para saber o que eles pensam. Com certeza, teremos respostas diferentes. Outros temas, como a relação homoafetiva é vista por diferentes populações. Outros temas como aborto, por exemplo, envolvem direitos humanos. Estamos ainda fazendo a seleção do diretor do programa e do apresentador que tenha uma boa relação com os jovens. E teremos um portal na internet para que as pessoas possam se aprofundar nos temas. E o piloto deve ficar pronto em outubro.

Tem uma razão especial para o IVH estar aqui na Vila Madalena?
Nossa família sempre morou aqui na Vila Madalena. Aqui é o nosso país. A família de minha mãe morou na Rua Fernão Dias e Costa Carvalho. Ter a sede aqui era uma preferência. Procuramos vários lugares e nesta questão de deslocamento São Paulo é um problema muito sério. E felizmente, apareceu este imóvel aqui e locamos. Mas já está pequeno

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