O sabor|da história

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Betinho e família: tradição da Vila

Hoje, a reportagem vai falar do Betinho. Convencionalmente, poderíamos iniciar esse artigo dizendo, “hoje vamos falar de Humberto Carlos da Costa”, e as frases seguintes seriam aquelas que informam algumas características do entrevistado como a idade, a profissão, o local de nascimento, o que ele mais gosta de fazer, etc. Mas o convencional perdeu a vez e a reportagem foi conversar com um cara pra lá de popular e querido no bairro.
Filho de Humberto Hugo da Costa, o “Seu Humberto”, e de Dona Maria Alice, o nosso entrevistado recebeu a reportagem depois de mais um dia frenético de trabalho para contar um pouco da sua história que, em dado momento, acaba se fundindo com a história do bairro. Onde hoje são servidas centenas de refeições diariamente, já foi o Bar, Mercearia e Sorveteria do Seu Carlos. “O tio Carlos abriu aqui em 1952 e em fevereiro de 1961 o meu pai assumiu”.
De fala calma, filho carinhoso que se despede do pai com um beijo no rosto e jeitão de quem leva a vida aproveitando o que de melhor ela pode dar, o Betinho conta que, no antigo armazém, era o próprio tio quem batia o sorvete, e depois, quando o pai assumiu o empório, continuou fazendo a iguaria no mesmo processo até quando a máquina aguentou. “Um dia ela abriu o bico e paramos de produzir o gelado”.
No antigo armazém, conta, as prateleiras de baixo estocavam os produtos de limpeza, sabão, água sanitária e afins. Na prateleira um pouco mais acima ficavam os farináceos, macarrão, arroz e batata. Depois, as bolachas e as latarias, óleo, atum, ervilhas, etc. E na última ficavam os vinhos. “Tinha muito vinho porque eles eram portugueses”, referindo-se à clientela antiga, muitos, hoje, falecidos.
“Eu sempre gostei de cozinhar e de vez em quando eu assumia a cozinha porque minha mãe sentia dores na coluna. Quando resolvi servir refeições no bar, minha mãe aperfeiçoou a minha vocação. Eu cozinhava e meu irmão varria”, relembra.
Tornar a casa um dos bares mais populares do bairro não foi difícil. Não para o Betinho a quem o pai mandava ir ao banco às 15 horas e retornava somente duas horas depois. “Eu  conhecia todo mundo e parava para conversar”. Com os braços erguidos e olhar em direção aos arranha-céus, Betinho arrisca: “Hoje não conheço mais ninguém”, diz, sorrindo, sobre a indiferença dos tempos modernos.

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