O presidente sambista

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O presidente sambista

O carnaval será em poucos dias e a Vila Madalena tem a Pérola Negra como sua representante. Neste ano, a Pérola leva a história da cidade de Itanhaém para o Sambódromo. Com o enredo “A pedra que canta também samba, Itanhaém, hoje a Pérola é você!”, a escola desfila na noite do dia 18 de fevereiro no Grupo Especial fazendo uma homenagem aos 480 anos daquela cidade. À frente da Pérola está Edílson Casal, conhecido como Nêgo, desde 2005. Nascido e criado na Vila Madalena, Nêgo é empresário do ramo de transporte e foi levando carros alegóricos e fantasias da escola para o desfile que ele se aproximou mais da escola que agora preside. É também vice-presidente de administração e de planejamento da Liga das Escolas de Samba. Nesta entrevista, ele fala sobre a escola, a convivência com vizinhos e sobre o desfile de 2012.

Conte um pouco sobre você.
Nasci aqui, na esquina da Cardeal Arcoverde com a Mourato Coelho. Sempre morei na Vila Madalena aqui na Rua Girassol. Atualmente, moro no Butantã. Na Vila, estudei no Brasílio Machado. Depois de prestar o serviço militar, montei uma loja de som para carros que depois vendi. Como meu pai estava no negócio de guinchos, resolvi comprar um caminhão-guincho e estou nisso até hoje.

Como você, de simpatizante, chegou a presidente da Pérola?
Foi através do guincho que me aproximei da Pérola Negra. Eu e meu pai sempre transportamos as alegorias da escola para o Sambódromo. Gostava de ver as alegorias e da movimentação do barracão da escola. Sempre estava nos ensaios. A partir de 1990, meu envolvimento foi maior, além de transportar as alegorias, desfilava e transportava as alas. Só em 1995 que não desfilei, porque estava viajando. Em 2000, virei diretor da Pérola Negra. E como eu entendo de transportes, era esse o meu trabalho aqui na escola. Tinha que fazer toda a logística de levar as alegorias, as fantasias até o desfile. Em 2004, o Edson era o presidente e me convidou. Como eu tinha o carinho do pessoal, aceitei o convite e assumi.

Nesta época a Pérola estava no Grupo de Acesso?
Sim. Em 2005, a Pérola ficou em terceiro lugar, mas em 2006, ficamos em segundo lugar e subimos para o Grupo Especial desde então. Neste ano, espero que a Pérola Negra consiga ficar entre as cinco escolas de São Paulo.

Os moradores da Vila se identificam com a Pérola?
A Vila está no brasão da escola. Tanto para nós como para o pessoal das outras escolas que nos reconhecem como escola da Vila Madalena. Hoje, o nosso público é formado por 80% de pessoas que não moram na Vila Madalena. É que a Vila Madalena ficou uma região cara e o muita gente saiu daqui. Mas muitos deles, mesmo morando em outros bairros, frequentam a escola. Principalmente a comunidade da Pérola Negra que cresceu aqui!

Os ensaios sempre têm muita gente. Virou programa turístico?
Ensaio de escolas de samba em São Paulo é uma diversão. Não fica aquela coisa enjoativa do passado. O respeito pela velha guarda continua, é claro. As baianas e outros integrantes participam ativamente como todos os outros integrantes, mas em uma versão mais moderna. Afinal de contas, vivemos em um mundo globalizado. A faixa etária da nossa escola é de 18 anos. A quadra chega a receber mais de duas mil pessoas a cada ensaio.

Como está o relacionamento com a vizinhança?
Hoje nós temos uma boa convivência. Tivemos problemas. A vizinhança até chegou a fazer abaixo-assinados para que a Pérola saísse daqui. Ajustamos um termo de convivência e os ensaios terminam às 22h. Antes ia até à meia-noite. Nestes dias que antecedem o carnaval, a gente estica até às 22h30.

As crianças são o futuro?
Com certeza esse é o nosso futuro. A ala das crianças é quesito obrigatório no desfile. Nossas crianças vão em cima de carros para compor o enredo. Até as minhas três filhas saem na escola. A Duda (Maria Eduarda) sai na frente do abre-alas e já saiu na comissão de frente. A Gabriela, a mais velha, é destaque do abre-alas e a Julia sai na ala Amigos do Pérola.

Como foi a escolha de Itanhaém como tema da Pérola?
Tudo começou com o Bruno Forsell, filho do prefeito de Itanhaém, que nos procurou. Aproveitou que é o último ano do mandato do pai dele, João Carlos Forsell, e queria homenagear os 480 anos da cidade. Quando ele fez a proposta, eu apresentei para o nosso carnavalesco, André Machado. Ele pesquisou o visual e o histórico e me apresentou um projeto bem bacana. Resolvido isso, voltei a conversar com o Bruno para definir como o pessoal de Itanhaém queria participar do desfile. Serão mais de 500 pessoas da cidade no desfile. Entre eles, 50 integrantes de cada uma das seis escolas de samba de Itanhaém, num total de 300 pessoas. E o enredo liga a Vila à Itanhaém. Quem brilha na avenida é Itanhaém, mas que vai sambar com a Pérola.

Entre as novidades deste ano, a escola vai compensar a emissão de CO2? Como será feito isso?
O projeto é do Bruno Forsell, que é ambientalista e trabalha com isso. Ele propôs que a gente calculasse o CO2 que os ensaios técnicos e o desfile geram. Com esse cálculo definido, vamos compensar isso fazendo um plantio de árvores lá em Itanhaém. Ainda não está finalizado o cálculo, mas acho que serão mais de 500 árvores! Somos a primeira escola de samba a tomar essa atitude com relação ao meio ambiente. É um projeto-piloto. Dando tudo certo, no ano que ele vem vai calcular todos os nossos ensaios e o desfile.

Qual foi a reação da escola?
No início o pessoal ficou achando que seria um enredo óbvio. Mas não é. O André mesclou o luxo do abre-alas. No segundo carro toda a decoração é feita manualmente. O terceiro vem com muito brilho e cores. O quarto vai trazer as festas religiosas da cidade. E no quinto carro, o brazão da cidade e onde o prefeito vai estar. O samba-enredo está muito legal e todo mundo está cantando e elogiando e está entre os cinco mais executados. Na quadra quando a gente pede para cantar, todo mundo canta e isso é muito legal.

A Pérola desfila com quantas pessoas?
Serão 3,2 mil pessoas divididas em 25 alas e cinco carros alegóricos.

A duas semanas do desfile, está tudo pronto?
Estamos finalizando os carros no barracão na Vila Leopoldina. Ainda falta um pouco mais de ajuste na parte técnica do nosso desfilante, mas isso até o desfile a gente resolve. A gente acredita que é possível ser campeão.

A Cidade do Samba seria a solução para que as escolas não sofram com enchentes como já aconteceu com a escola?
Sofremos muitas enchentes em nosso barracão. Mas neste ano, o prefeito Gilberto Kassab vai dar início às obras da Cidade do Samba. A área fica ao lado do Playcenter. É só atravessar a Ponte da Casa Verde para chegar ao Sambódromo. A obra foi licitada, foi definida quem vai fazer a obra. Agora é começar. E deve ficar pronta para o carnaval de 2014, que será o carnaval da Copa. Mas a sede da Pérola continuará sendo aqui na Vila Madalena.

Vocês desenvolvem ações sociais?
Temos escolinhas de bateria e de mestre-sala e porta-bandeira para as crianças a partir dos cinco anos nas manhãs de domingo aqui na quadra. No barracão temos uma oficina que forma o pessoal que cuida da decoração das fantasias e dos carros alegóricos. Geramos mais de 200 empregos diretos e indiretos. 80 só no barracão. E tem o pessoal que trabalha nos ateliês que ficam fora do barracão.

O carnaval de São Paulo se iguala ao do Rio?
Não ficamos devendo nada para eles. O Rio tem o glamour, as praias, tem uma projeção internacional maior graças à TV. Mas na parte do visual e do desfile em si estamos no mesmo nível. Digo mais, nossos carros são maiores, nossas fantasias tem melhores acabamentos. Aqui, o carnaval é mais técnico.

O que é ser presidente de uma escola de samba?
Para mim é prazeroso. Se não fosse isso, não estaria aqui. Faço isso porque gosto mesmo. Antes de entrar na Pérola, minha família não era do samba. Hoje, toda a família é Pérola Negra e desfila. Consegui com a minha família me envolver com a escola.É ótimo encontrar com os meus amigos e as pessoas que vêm aqui na quadra. A amizade e o respeito é que me fazem continuar.

Quanto vai custar o carnaval da Pérola?
Estimamos em R$ 2,2 milhões. Recebemos cerca de R$ 1,8 milhão entre a verba da prefeitura, da TV Globo e do Ingresso Fácil. O resto corremos atrás. É dinheiro de patrocínios, da venda de fantasias, dos eventos e dos ensaios. Não conseguimos fechar a conta desde que estamos no Grupo Especial. Espero que no próximo ano a gente tenha uma folga no orçamento.

Os integrantes da escola pagam alguma coisa?
Pagam uma anuidade de 40 reais quando renovam a carteirinha. Com ela, entram de graça em todos os ensaios aqui na quadra.

Ainda dá tempo de comprar fantasia e aprender o samba enredo?
Nosso desfile será no sábado, dia 18. Até o dia 11 ainda dá tempo para comprar a fantasia e se preparar para o desfile. É só aparecer aqui na escola.

Onde você sai no desfile?
Saio na frente da escola, apresentando a escola.

O que você espera neste desfile de 2012?
Que a Pérola fique entre as cinco melhores. De pontos fortes temos alegoria, fantasia e bateria. É ela que anima a escola na avenida.

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