Muito além de uma roupa

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Muito além de uma roupa

Ao acordar todo mundo sente um pouco o dilema do “com que roupa eu vou”. Isso porque roupa deixou de ser um mero pedaço de tecido que você usa para se cobrir e hoje mostra toda a importância não só na expressão da sua personalidade, mas também para impor seu papel na sociedade. A dupla Chris Francini e Paula Martins é consultora de imagem e entende de tudo quando o assunto é moda. E fazem muito sucesso com o blog Look do Dia. Chris é estilista e consultora de estilo, formada pelo Instituto Marangoni em Milão, com pós-graduação em Image Consulting pela Parson’s em Nova York. Paula Martins é jornalista e estilista, formada na escola francesa Esmod, com cursos de especialização na FIT-NY. Elas abriram seu escritório na Vila Madalena, que funciona como uma agência de produção de conteúdo de moda. Nesta conversa, Paula Martins conta sobre o trabalho da dupla e a importância e sucesso da moda brasileira.

Como vocês se conheceram e começaram a trabalhar juntas?
A gente se conheceu há 7 anos. Eu era estilista freelancer de uma marca e a Chris entrou nessa marca para fazer um trabalho de consultoria. Aí a gente teve a ideia de abrir um escritório que fosse como uma agencia de publicidade só que de moda. Uma agência que gera conteúdo de moda, com clientes pessoais, clientes corporativos. Temos uma marca de camisas nossas aqui, temos o blog, prestamos consultoria para um monte de empresas, damos palestras, cursos. Então o escritório é bem eclético, mas tudo ligado a geração de conteúdo de moda.

Como funciona o trabalho de consultoria de imagem pessoal?
A gente faz uma entrevista com a pessoa de três horas, em que analisamos tipo físico, estilo, entendemos sobre o lifestyle da vida dela. A nossa consultoria é diferente porque ela é completamente personalizada. A gente não tem um padrão aqui. O escritório tem essa característica mais customizada. É um nicho de mercado mesmo. Também analisamos dez peças de roupa dela que ela traz aqui no ateliê. Mas o mais importante nesse momento dessa entrevista é entender o objetivo da consultoria para ela. Porque a gente só consegue ter sucesso com a pessoa se ela sabe exatamente porque está pedindo uma consultoria. A pessoa precisa estar muito consciente de que ela está querendo uma mudança, de que precisa ser reanalisada, que a imagem dela precisa ser reinterpretada para poder ter um resultado.

As pessoas procuram vocês porque elas têm medo de arriscarem sozinhas ou porque elas querem ter sua imagem mais aprimorada?
Nós estamos vivendo em uma época em que essa coisa da imagem está muito em voga. Antes não tinha essa necessidade de você passar uma imagem com a maneira de vestir. Agora existe. Então as pessoas procuram aqui por diversos motivos, principalmente porque às vezes estão gastando e não sabem as roupas certas para comprar. Ou não têm tempo de pensar na imagem. São pessoas que trabalham muito, que têm cargos muito importantes. Do mesmo modo que você tem um consultor para cuidar das suas finanças, você tem um consultor que cuida da sua imagem.

E a consultoria corporativa?
O trabalho corporativo funciona de várias maneiras. Fazemos até um trabalho com coleções. Fazemos consultoria de coleções com marcas que são fortes no varejo, que estão bem posicionadas, mas que às vezes não têm uma coordenação de coleção, por exemplo. Fazemos esse trabalho de visualizar a coisa como um todo junto com a equipe de estilo. A gente consegue fazer bem esse trabalho porque temos toda a noção de corte, costura, modelagem, acabamento, coordenação de coleção, sabemos o corte que dá certo e o que não dá. Sentamos com essas equipes e tentamos potencializar o DNA dessa marca.

O que você acha que as pessoas erram muito na hora de se vestir ou de pensar em moda?
Às vezes as pessoas não se conhecem, então elas ficam a mercê do que está no mercado como moda. No momento em que você conhece seu estilo pessoal, suas necessidades, sua chance de errar é muito menor. Às vezes eu vejo gente sem o próprio estilo. Porque estilo não tem nada a ver com tendência. Estilo é uma coisa pessoal, que é seu e intransferível. Ela fica tentando entrar no “mundo da moda” e esquece um pouco do seu estilo pessoal, do que ela realmente gosta. Nosso trabalho é adequar isso ao que está acontecendo no momento. Porque ela precisa estar contemporânea. O mais importante é que a nossa consultoria tem um contexto de moda, de atualização. Isso não quer dizer que a gente vai tornar a pessoa um ícone fashion. Nós vamos trazer informações, peças e coisas que façam com que ela esteja atualizada, sem dúvida.

E moda não precisa estar necessariamente ligada ao dinheiro.
Não, não. Ainda mais com esse monte de fast fashion. Hoje em dia está muito mais fácil. Mas até para você ir nesses lugares você precisa de uma assessoria. As pessoas ficam muito perdidas nessa oferta. Antes era uma coisa mais assim: o que era mais caro era o mais certo. E por isso que elas precisam de alguém para ajudar.

Você participou do Phytoervas Fashion, que se tornou o SPFW. Como você vê a evolução do mercado de moda brasileiro dessa época até o SPFW de agora?
Acho que a gente cresceu muito. Quando eu comecei no Phytoervas Fashion, não existia nada. O Brasil hoje está na moda. Além de estar inserido na moda, porque tem um calendário oficial de moda, tem olheiros do mundo inteiro aqui. A gente se inseriu em um cenário mundial de moda e a gente tem muito o que crescer. As marcas ainda são muito casuais, a mão de obra ainda é muito debilitada. Acho que existiu e existe um caminho a ser seguido para uma evolução, sem a menor dúvida.

Mas já temos visibilidade também fora do Brasil…
Muita visibilidade! Porque temos toda uma parte criativa que está faltando na Europa, por exemplo. Por isso que não só a gente, mas todos os países da América Central, América do Sul e Ásia estão sendo muito visitados: a cultura, a riquesa, o DNA, está sendo muito pedido e reinterpretado em todos os cantos do planeta.

Por que vocês abriram o escritório na Vila Madalena?
Primeiro porque a Vila é um lugar potencialmente criativo. É uma coisa bem eclética. E a ideia, apesar de eu e a Chris termos um DNA muito da sofisticação, da elegância – temos esse traço não porque é bom ou ruim, porque é uma característica, nos sentimos estimuladas de estar em um cenário mais flexivível. E a gente encontrou um espaço maravilhoso, que as pessoas amam, é muito bonito.

A Vila tem uma fama de ter uma moda própria. Você acha que isso realmente existe?
Eu acho assim: um ponto, para se tornar visível, precisa criar uma coisa forte. Acho que no começo a Vila Madalena tinha muito esse DNA da coisa mais riponga, mais descontraída, uma roupa mais alternativa. Acho que continua isso, acho que não perdeu. Mas ela está indo para um caminho mais de ter tudo. Não acho que ela vai ficar um lugar segmentado. Acho que vai ter uma mudança.

Como surgiu a linha de camisas premium?
A linha de camisa é o nosso xodó. Eu, estilista, não poderia ficar sem desenhar porque não tem como não fazer isso. A gente entendeu com a consultoria e com a nossa vivência que o mercado não estava fazendo camisa bacana. As nossas clientes não achavam essas camisas. As camisas tinham proporções erradas, a modelagem não melhorava o corpo dessa cliente, enfim… A gente queria fazer uma marca. E por isso que criamos a marca e graças a Deus estamos tendo muito sucesso com ela.

E o blog Look do Dia?
Primeiro, a gente tinha o blog Francini Martins, que era o anterior, que a gente tinha há 3 anos. Eu sempre quis muito estar inserida nesse muito virtual, porque eu acho que é uma coisa muito atual. Formatamos o primeiro blog para falar de moda, consultoria, porque é o nosso expertise. Queríamos uma coisa para falar de dicas de viagem, comida, ligados à moda. Ele surgiu com uma vontade de ser um blog com uma pegada mais corporativa, nada muito pessoal. E dentro do Francini Martins, a gente tinha uma sessão toda sexta-feira que era o look do dia. E fazia muito sucesso. Aí quisemos potencializar o look do dia e abrimos outro blog chamado Look do Dia, que eram só nossos looks todos os dias. Depois de um ano desses dois blogs no ar, agora em junho a gente unificou os dois. É tudo uma evolução do trabalho.

E os looks do dia estão crescendo muito…
A gente estava na Europa há um ano e meio, e surgiu a ideia de fazer o blog Look do Dia. E temos o domínio do site Look do Dia. Foi muito legal o trabalho, porque a ideia é como se a gente tivesse despertado o look do dia e hoje há milhares de looks do dia. Faz muito sucesso nosso look do dia. Porque a Chris tem um estilo, eu tenho outro estilo. É uma roupa que a gente usa toda hora. É um blog inspiração, na verdade. Você pode abrir todo dia de manhã e olhar… Temos relatos de internautas que a primeira coisa que fazem é abrir o Look do Dia. Não para fazer uma coisa igual, mas para se inspirar de alguma maneira. E somos a vida real. É quadril largo, ombro largo, é muito peito, pouco peito… A pessoa consegue visualizar isso com muito mais facilidade do que uma modelo em uma revista.

Como vocês vêem todo esse sucesso de vocês?
A gente vê todo esse nosso sucesso com uma visão muito responsável, no sentido de que é o resultado de um trabalho. Então ficamos muito satisfeitas porque trabalhamos muito. Apesar de existir um glamour em volta de tudo isso, a gente trabalha, repensa, somos um bureau criativo. É o resultado de um trabalho intenso. E óbvio que ficamos muito satisfeitas com isso e com o reconhecimento.

A primeira impressão realmente é a que fica?
Não, eu acho que hoje, em 30 segundos a gente consegue analisar a imagem de uma pessoa. Só que eu acho que não existe essa coisa tão fechada mais. Acho que o que a pessoa precisa ter é consistência. Acho que a primeira impressão é a que fica, mas hoje em dia o mundo está tão globalizado de imagens, de looks personalizados, que acho que isso é uma coisa meio retrograda. A gente tem que dar uma segunda olhada, é necessário isso.

Qual a dica que você dá sobre moda e estilo de vida?
No meu expertise, que é moda, para quem quer formatar uma imagem de moda, ela precisa trabalhar com referências. Ninguém consegue formatar nada se você não tem uma referência. Se você se interessa pelo assunto, pesquise, vá fazer um curso. Tem muita coisa bacana acontecendo.

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