Dia 19 de agosto é o Dia Mundial da
Fotografia. Você já parou para pensar como seria o mundo sem a
fotografia? Imagine… Bem, na verdade, somos de uma época que não
saberíamos viver sem fotos, telefone, televisão, água encanada… deixa
pra lá. Vamos nos deter na fotografia. Oficialmente, ela surgiu na
França, em 19 de agosto de 1839, por Jean Jacques Mandé Daguerre, com o
aperfeiçoamento de alguns experimentos. Nessa época, ela era em preto e
branco. De lá para cá, tornou-se colorida e seus progressos foram
aumentando a qualidade e popularizando seu uso. Hoje, a fotografia
ilustra notícias, vende todo tipo de produto, dá margem a fofocas!
Aliás, o que seria do mundo das fofocas se não fossem as fotografias e
os paparazzi? Os paparazzi são aqueles fotógrafos que vivem atrás de
celebridades e se arriscam por cliques que podem correr o mundo. O nome
foi inspirado no filme “La Dolce Vita”, de Federico Fellini: o ator
Walter Santesso era um fotógrafo, Signore Paparazzo – embora essa
origem seja contestada. Lembrando também que paparazzo é o singular
italiano de paparazzi.
Procuramos, e achamos, na Vila Madalena, o
fotógrafo Julian Marques (www.julianmarques.com), formado pela
Anhembi-Morumbi, já trabalhou como frila para agências e atualmente é
contratado do núcleo de celebridades da Editora Abril. Num bate-papo
descontraído numa manhã gelada, ele contou e desvendou os mistérios da
profissão.
O que é ser paparazzo?
Você sabe que eu
acho que isso caiu na boca do povo de uma forma meio pejorativa. Porque
pegou muito mal para toda a imprensa aquela coisa da Lady Di. As
pessoas têm um jeito de ver e dizer que todo fotógrafo é paparazzo. A
maioria dos fotógrafos que vai a um evento é com credencial. E tem
também o fotógrafo que pode ser contratado por um artista e vai lá para
pegá-lo num momento de descontração, recebendo amigos e convidados.
Isso tem um alto teor de paparazzo.
Mas ser paparazzo não é ser contratado do artista.
Realmente,
os paparazzi não são os caras que fazem as fotos oficiais, mas são os
caras que são credenciados por um veículo, que ficam na porta do evento
recebendo os convidados, tirando fotos dos artistas, eles não podem ser
muito conhecidos, entende? Eles investem mais em histórias, têm fontes
que informam onde determinado artista vai estar, fazendo o que, ou se
já está, com quem vai estar.
Quem são essas fontes?
Às
vezes são manobristas, seguranças, pessoal de hotel, caseiros,
promoter, empresários, esse povo que tem contato com artistas. O
paparazzo é pautado por essa fontes, eles são a matéria-prima do seu
trabalho.
Há quanto tempo você é paparazzo?
Já faz
cinco anos. É muito louco ficar em porta de hotel, em frente de garagem
no frio ou falando com manobrista. Eu entrei nessa porque fazia fotos
de palco, show, de camarim, ou na saída. Aí eu tinha que esperar até o
artista sair e com isso entrei nessa. Mas comecei trabalhando na área
de comunicação do São Paulo Futebol Clube. Fiquei uns seis anos lá,
podia fazer as imagens do esporte e daí virei um profissional de
fotografia.
Quem foi o cara mais difícil de fotografar?
Sem
dúvida foi o Bill Clinton. Ele veio para cá fazer uma palestra numa
universidade e ficou o dia inteiro. Eu tinha a informação de que ele
iria a um restaurante nos Jardins. A fonte me disse que o restaurante
tinha reservado seis vagas de estacionamento na frente e nenhum artista
faz isso. Daí foi muito difícil encarar tudo isso de perto. Ele veio
com o pessoal do FBI, que é bastante complicado, porque eles fazem uma
bolha em torno da personalidade, é o pessoal da segurança, e eles
defendem mesmo a imagem, por cima, por baixo, com pontapé, com choque
e, para o cara te empurrar para um canto e desaparecer com você, não é
difícil. Eu fui sozinho, à noite, baita frio… Foi uma grande
movimentação, seis ou sete limusines brancas, todas filmadas para
trazer uma pessoa importante.
Mas você conseguiu?
Tenho
boas imagens, ótimas fotos: ele posado na frente do restaurante,
conversando. Mas a foto que vendeu foi ele conversando no ouvido da
filha do então presidente Fernando Henrique Cardoso, aquela coisa
íntima mesmo. Ele na frente de um restaurante de luxo, acabando de sair
de uma palestra, um homem tão importante falando de assunto tão
interessante e a foto que eles queriam era dele falando no ouvido da
filha do presidente, que já dá margem a outras suposições.
Você foi contratado ou fez por conta própria?
Nada.
Fiz por conta própria e vendi para o exterior, porque aqui ninguém se
interessou. Eu sempre tenho fontes, sei onde as coisas estão
acontecendo, então eu pensei ‘vou correr atrás’ e, quando acabei de
fazer as fotos, tinha comprador no exterior. Hoje em dia eu ligaria
para as editoras e perguntaria se eles têm interesse.
Quem é uma celebridade brasileira difícil de fotografar?
Jô
Soares é uma dessas pessoas. O cara não precisa mais de exposição,
compreende? O interesse é dos jornalistas fazer o registro.
Você conhece todo o povo da TV?
Não,
eu vou ser muito sincero: dependo um pouco de assessoria de imprensa
para poder saber quem são eles, principalmente artistas de canais como
Record, Rede TV, Bandeirante. São tantos e a gente apanha para
acompanhar as tevês abertas. Agora, tem uns fotógrafos que vivem do
acompanhamento dos casos amorosos dos famosos… são os que mais ganham
dinheiro neste país.
E essas ‘celebridades’ tipo os BBBs?
Bom,
se saiu na TV, é claro que o leitor quer saber o que aconteceu com essa
pessoa que participou de um reality show, mas se eu não tirar uma foto
de uma ex-BBB, meu diretor não vai brigar comigo. Acontece que São
Paulo é tão fraca em relação ao Rio de Janeiro na exposição de
celebridades ou famosos. O Rio é uma vitrine, é como se fosse a
Hollywood brasileira. Aqui a gente fica de pé na porta de uma festa
mais de três horas, debaixo de um frio, e fotografa uns dois ou três
artistas. E de repente aparece do nada uma ex-BBB, é lógico que vou
fotografar.
E qual a foto que você fez que mais gosta?
É
difícil dizer. Gosto da foto que tirei do Gene Simmons, vocalista e
baixista do Kiss, dando uma linguada na cara da Sabrina Sato, no
camarim, quando ele veio ao Brasil. Mas a que mais gosto é do Queen,
que veio para cá com outro vocalista. E também das fotos que brincam
com o imaginário do povo brasileiro, tipo as de Miss Brasil…
Por quê?
Porque são pessoas normais, se duvidar, têm cheque sem fundo, tem carro sujo, meio quebrado. (risos)
Você ganha dinheiro sendo paparazzo?
É,
isso me dá visibilidade e paga as contas, não vou mentir. Mas o que me
dá dinheiro de verdade é o que vem por trás disso, são os contatos que
faço, as festas que faço, as amizades que faço, os contatos
corporativos.
Qual é sua maior vontade como artista da fotografia?
É
ser professor universitário em alguma praia deste País e poder
fotografar gaivotas no mar. É um projeto pessoal e autoral meu, quero
sair desta loucura, é o que eu falo para minha esposa: fazer um filho
na praia, curtir o mar. Também curto música e adoraria trabalhar
somente acompanhando uma banda de rock, seguindo essas pessoas apenas e
fazer o que mais gosto, que me dá extremo prazer.
Você circula muito pela Vila Madalena?
Bastante.
Aqui em frente da minha casa tem um restaurante onde circulam muitos
atores, atrizes, cantores, pessoas famosas. Se eu quiser, é só me
posicionar na janela… A Vila Madalena é algo fora do eixo, tem lojas
diferentes.