Somos todos responsáveis

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Refletindo sobre os atos violentos que nos cercam a cada dia, a demora em se tomar medidas legais que os limitem e contenham – alegando que seriam “fruto de um momento emocional” – não consigo deixar de expressar aqui o que a observação me diz.
Para começar, violência é violência. Contra pessoas ou animais ela tem a mesma cara e a mesma conseqüência: a dor do outro. O outro, para os violentos, deixa de ser sujeito senciente (ser vivo que sente) para tornar-se mero objeto de interesses imediatos (e/ou perversidade) condenáveis em si mesmos. E para os que se eximem de tomar uma atitude, as vítimas são muitos zeros à esquerda de um número que sempre cresce, mas que esquecem. Pela violência reinante, os que a praticam e os que a “deixam pra lá”, são todos responsáveis. Muitos diriam que a cota de responsabilidade dos segundos seria menor. Mas até que ponto a grande massa dos que “deixam pra lá” – ignorando que a ameaça, a dor, as perdas de vidas e de patrimônio um dia também irão bater às suas portas – não representa um decisivo colaboracionismo com o crime? Culpar os políticos e o poder público? Isto já virou refrão de musiquinha de parada de sucesso. Os que exercem o poder são responsáveis, evidentemente. Em três semanas esqueceram a tragédia do menino arrastado pelo cinto do carro, e passaram a debater quais partidos receberão quantos do fundo partidário. Pauta, como sabemos, de urgentíssima e necessaríssima utilidade social… Enquanto isso, os que se indignam, fazem passeatas “pela paz”, “contra a violência”, com lágrimas nos olhos. E imagino os criminosos assistindo aos noticiários com risos na cara. Fazer passeatas com abstrações como tema e lema de nada adianta. Passeatas e manifestações – se os indignados querem resultados concretos – exigem lema e tema concretos. Não conseguimos a volta à democracia depois do golpe de 64 clamando apenas por seu nome. Foi nos reunindo aos milhares nas ruas exigindo “diretas, já”. Um lema concreto. Se tornamos concreta ou não a melhor democracia, é outra questão. Também somos responsáveis pelos nossos representantes eleitos, sejam eles corruptos ou irresponsáveis: nossos votos avalizaram maus antecedentes já famosos. Basta olhar alguns nomes de reeleitos pelos votantes de São Paulo, onde se esperaria mais consciência dos eleitores por terem maior acesso à informação. Se dos redutos mais rústicos, rurais, designamos os das urnas de lá como “votos de cabresto”, será que os de cá não mereceriam a mesma designação, mas por outros motivos?
Há mais um lado da questão que me cutuca a mente há muitos anos. Miséria e opulência em nosso país sempre conviveram. Será que todos os pobres do Brasil, agora, resolveram se bandear para o crime? De sã consciência, não poderíamos aceitar esta afirmação. A bandidagem permeia, hoje, todos os estratos sociais. Assim como a honestidade. Mas nunca a violência atingiu o nível alcançado nos últimos anos. Tenho a forte sensação de que isso começou desde que “virou moda” a educação dos filhos sem limites precisos. Os parâmetros de educação nos moldes de Summerhill desceram a ladeira dando lugar à permissividade e desleixo dos pais. Estes deixaram para a escola muito do que antes era sua atribuição: educar, infundir nos filhos – desde cedo – o respeito ao direito à vida e ao bem-estar dos outros. E este respeito é ensinado pelo exemplo, principalmente. Não adianta dizer pro filho “você tem que ler” e não ler também. Melhor ainda, ler para ele e com ele, desde que se torne a criança capaz. Não adianta ditar a observância das leis, e cruzar o sinal vermelho “porque o guarda não está olhando”.
Crianças percebem mais do que imagina a vã displicência dos pais.
Voltarei ao assunto na próxima, sobre a relação entre violência doméstica e maus-tratos aos animais. Exemplos não faltam. Estudos sociológicos e estatísticas policiais, idem. Também “deixando pra lá”, somos responsáveis por ela

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