Flores e frutos

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Sibipirunas, Ipês amarelos, roxos, rosas e brancos, Quaresmeiras, Guapuruvus, Flamboyants e a Tipuana, aquela que parece que as flores são um monte de passarinhos conversando. Pétalas de flores nas ruas e calçadas estendem tapetes coloridos nos dando boas vindas por onde passamos.
Quem preferir, pode pelo caminho comer algumas frutas no pé, como as amoras e ameixas na rua Harmonia ou pitangas na Original. Assim fui mapeando a Vila anotando onde estão carregados os pés de frutas. Na Purpurina com a Mourato Coelho prendeu-me o olhar um frondoso pé repleto de mangas, quase no ponto, onde alguns garotos, com uma taquara de bambu que tinha amarrada na ponta uma lata “colhiam” as frutas torcendo ligeiramente a vara e comemorando em coro com gritos de “IARROUUU”.
Permaneci sentado na soleira de uma casa próxima, assistindo aquilo que seria um verdadeiro “pé-de-moleque”. A Vila sempre me provocou lembranças gostosas. Assim voltei à minha infância no quintal da casa onde morei.
Nosso querido vô, mais que um funileiro era um artesão, embora não soubesse. Com latas de azeite que guardava, nos fez um lindo aviãozinho onde cabia eu e meu primo Fausto. Na alça do “painel”, uma corda era amarrada. No galho mais alto do pé de manga, uma corda içava nosso pequeno avião para as alturas e com a outra ponta da corda o vovô amarrava no tronco da velha mangueira.
Pendurados lá em cima o vento batia sobre as folhas passando por nossas orelhas. Sentíamos que realmente estávamos voando. Avistando os telhados dos vizinhos, invadindo os céus azuis daquelas primeiras primaveras.
Para descermos do alto, de novo o bondoso vô Chiquinho vinha desatar o nó da corda que nos prendia ao velho pé. Não percebíamos o tempo passar, as vezes ficávamos horas e horas lá em cima. Domingo era dia de tomar refrigerante. Levávamos para o vôo vespertino, duas garrafinhas de Cerejinha e alguns sanduíches de pão caseiro com salame, pois a viagem seria longa. Nosso “rádio-comunicador” era aquele vento, que marulhava bravio parecendo soprar notícias intercaladas ou interceptadas do mundo lá de baixo, da imensa mesa cheia de italianos falantes e festeiros.
De tanto voar aprendi uma rota mais rápida, uso-a sempre que desejo ver aquele menino que voava, sem sair do lugar.
“E ai tio?! Vai uma manga??!” Aterrizei meu avião, orientado em terra pelo garoto que sinalizava-me com uma manga na mão. Voltei. E nos seus olhos eu me vi mais velho.
Com a manga na mão segui o meu caminho, como quem carrega um troféu, “Mangas de Ouro” pensei. Um tapete amarelo no chão recepcionava um “velho piloto” na rua Pascoal Vita, repleta de flores da Sibipiruna.

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