No mês em que se comemora o Dia Internacional do Livro, 23 de novembro, vale a pena lembrar que ler aguça a imaginação e os livros são uma fonte inesgotável de cultura e informação.
Entretanto, no Brasil, as pessoas ainda lêem pouco. O brasileiro lê, em média, 1,8 livro por ano, segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro e de entidades ligadas a editores. Na França, o índice é de 7, e na Colômbia, de 2,4. Além disso, cerca de 10% das cidades do País não têm bibliotecas públicas.
Nesta edição, o Guia da Vila traz a entrevista com Samuel Seibel, proprietário da Livraria da Vila, há 23 anos no bairro. O ex-jornalista e empresário tinha como seu projeto de vida ter uma livraria, bem ao estilo da Livraria da Vila. Mantendo o conceito e a filosofia originais, Samuel comprou a mesma há cinco anos e acrescentou à Livraria um auditório para até 80 pessoas, que abriga debates, palestras, cursos e pocket shows. Além disso, a Livraria ganhou uma nova seção de arte e um aumento substancial no acervo de literatura brasileira e estrangeira, literatura infanto-juvenil, psicologia, psicanálise, história e filosofia. Em todas as seções foram acrescentadas áreas de leitura. O café foi reinaugurado com a tradicional jaboticabeira e uma amoreira: um convite a leituras ao pé das árvores.
A Livraria da Vila tem um conceito diferente. Como o definiria?
Este conceito parte de algumas bases. Tenho o cuidado de manter um acervo completo, o que inclui não só os lançamentos e best sellers, mas a Livraria da Vila talvez seja uma das poucas que trabalha com um fundo de catálogo como parte dessa filosofia, com autores independentes, escritores ou músicos. Eles sabem que aqui têm um porto seguro. Outro ponto é o atendimento. Os vendedores são de bom nível, sabem o que falam, lêem bastante. Eles passam por um treinamento sim, mas avaliamos mais a formação. Ler é da natureza dos funcionários que a gente procura, principalmente na área de vendas. A primeira pergunta para eles é se gostam de ler, ou se gostam de música e de filmes. Outra coisa importante que surgiu nos últimos meses é que a Livraria da Vila criou uma área de importados, que nunca teve.
Este mercado de livros importados é bom?
Sim. A procura é grande por CDs. Quanto aos livros, os mais procurados são os livros de arte, literatura e os infantis.
A Livraria da Vila está para completar 23 anos. Houve muitas modificações no espaço?
A minha preocupação natural era manter o conceito, a filosofia da livraria, com a qual sempre compartilhei. Eu sempre acreditei e freqüentei a Livraria da Vila, desde a origem, quando ela ainda não estava neste espaço, era do outro lado da rua. Se não fosse a oportunidade de comprar a Livraria da Vila, a minha idéia era, quando decidi me tornar livreiro, desenvolver um negócio com esse conceito. A partir de 2003 a preocupação foi de dar uma reorganizada na empresa, uma retomada forte nos negócios, na arrumação da casa… Sem perder o conceito, o charme, a qualidade no atendimento, o conceito do vendedor que sabe o que fala. Começamos com a reforma física da loja, houve uma ampliação, área para CDs e DVD, o auditório. Sempre tive a visão de livraria como um ponto de encontro, um pólo cultural. Foi aí que começaram os eventos. O auditório permitiu que a Livraria da Vila realmente se firmasse como esse pólo cultural e ponto de encontro com debates, com palestras, cursos, pocket shows. Tem foco bastante importante nos lançamentos de livros. Também desenvolvemos a parte de informática. Criamos um site, mas ainda não temos o comércio eletrônico, que deve começar no primeiro semestre de 2008. Neste período também montamos outras duas lojas. Em 2005, montamos uma com o pessoal da Casa do Saber. E este ano, em março, abrimos outra loja nos Jardins. Em todas as ações, a idéia continua sendo preservar a origem ao máximo possível. A Livraria da Vila pode ter uma cara diferente em cada um desses lugares, até porque não é uma franquia. O público acaba sendo diferente. Essa abertura de lojas também faz parte de um entendimento de mercado. Mas tenho claro que não pretendo ser uma rede. A rede para mim é no sentido de pasteurização, você perde a identidade, a força conceitual da empresa. Vamos crescer, ter mais lojas, mas vamos manter tudo o que faz a Livraria da Vila ser diferenciada no mercado.
Vale a pena a venda pela Internet, em se tratando da Livraria da Vila, onde o atendimento é personalizado, o cliente chega e pode ir descobrindo os livros da maneira que quiser?
Se compensa, ainda não sei. Mas tem que ter. Já temos o site, interagimos com os clientes, mandamos news letters… O cliente pode até comprar um livro, mas sem ainda estar dentro do chamado comércio eletrônico na acepção da palavra. Mas não tem jeito. É um complemento fundamental.
E a leitura pela Internet?
A questão do que vai acontecer com os livros, se vai acabar ou não, eu pelo menos acredito que livros e livrarias continuarão firmes. Não sei como serão os hábitos das pessoas, da nova geração. Mas acredito que hoje a Internet possibilita um novo mercado. Pessoas que não freqüentariam livrarias hoje têm esse facilitador. Ler livro no computador é outra coisa. Não dá para saber o comportamento das pessoas.
O senhor acredita que a formação do leitor começa na infância?
Sem dúvida. A criança é 100% leitora. Qualquer criança, alfabetizada ou não. Coloca um livro na frente de uma criança e os olhos brilham. A televisão pode ser uma concorrência complicada, mas vemos nas contações de histórias como elas se comportam. A imaginação vai embora.
Como a Livraria da Vila vai trabalhar o Dia Internacional do Livro?
Devemos ter algumas palestras… Para a livraria, na verdade, todo dia é dia do livro. Claro que dia das mães, dos pais, natal, dia das crianças virou uma coisa consagrada. Com o livro não vai funcionar desse jeito. Ninguém vai se sensibilizar e fazer muitas ações. Mas isso é um trabalho que fazemos diariamente, pois sabemos da importância do livro na formação das crianças e dos adultos.
Para incentivar a leitura
• Deus, um delírio: Autor Richard Dawkins – Ed. Cia das Letras. Num tempo de guerras e ataques terroristas com motivações religiosas, o movimento pró-ateísmo ganha força no mundo todo. E seu líder intelectual é o respeitado biólogo Richard Dawkins, eleito um dos três intelectuais mais importantes do mundo (junto com Umberto Eco e Noam Chomsky) pela revista inglesa Prospect. Autor de vários clássicos nas áreas de ciência e filosofia, ele sempre atestou a irracionalidade de acreditar em Deus e os terríveis danos que a crença já causou à sociedade. Agora, neste Deus, um delírio, ele concentra exclusivamente no assunto seu intelecto afiado e mostra como a religião alimenta a guerra, fomenta o fanatismo e doutrina as crianças. O objetivo principal deste texto mordaz é provocar: provocar os religiosos convictos, mas principalmente provocar os que são religiosos “por inércia”, levando-os a pensar racionalmente e trocar sua “crença” pelo “orgulho ateu” e pela ciência.
• A menina que roubava livros: Autor Marcus Zusak – Ed. Intrínseca. Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em ‘A menina que roubava livros ‘. Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido de sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona-de-casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, ‘O manual do coveiro’. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. E foram esses livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito.
• João e o Pé de Feijão: Autor Richard Walker. Ed. A Girafa. Dando continuidade ao projeto de publicar clássicos da literatura infantil com ilustrações contemporâneas, a Girafinha lança João e o Pé de Feijão. A famosa história de um menino que vivia com sua mãe numa casa afastada e que um dia necessita ir a cidade para vender a sua vaca Margarida. No meio do caminho encontra um sujeito diferente que o convence a trocar a vaca por um punhado de feijões mágicos. Ao voltar para casa, mesmo com sua mãe enfurecida pela troca, João joga os grãos no solo ao lado da janela de seu quarto. Cresce então um imenso pé de feijão que o leva diretamente ao país das nuvens, onde ele encontra um terrível e mal-humorado gigante. João vê uma gansa botar ovos de ouro e uma harpa, também de ouro, que toca música sozinha. Quando resolve fugir, João decide carregar alguns sacos cheios de ovos de ouro. João precisa voltar para casa sem deixar que o terrível gigante consiga capturá-los.