A cidade da cultura

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Nos dias 19 e 20 de novembro, a cidade de São Paulo vai estar imersa em cultura, muito mais do que já é característica da capital. Vem aí a primeira “Virada Cultural”, evento promovido pela Prefeitura de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e da São Paulo Turismo. O projeto, no qual a Vila Madalena está incluída, celebra a vocação da cidade, unindo a cultura de todos os povos, apresentando todas as manifestações artísticas e, como o próprio nome diz, do dia para a noite e vice-versa.
Serão 24h ininterruptas com atrações variadas, gratuitas, em todos os cantos da cidade, no Centro e nas regiões Oeste, Leste, Norte e Sul. Serão bailes, intervenções teatrais, concertos, rodas de música popular, récitas literárias, projeções de filmes ao ar livre, discotecagem eletrônica, manifestações folclóricas, artes circenses, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo em equipamentos públicos municipais e estaduais de cultura, educação e lazer, como teatros, casas de cultura, bibliotecas, museus, parques, CEU´s, etc., além de cinemas, casas de espetáculos, teatros e unidades do SESC.
As “Noites Brancas”, que acontecem em países como Itália (Roma), França (Paris) e Espanha (Madri), serviram de inspiração para o projeto, que tem como intenção levar as pessoas a se apropriarem do espaço público, a assumirem e celebrarem, por meio da cultura, a sua cidade e tudo que há de mais rico na metrópole.
Na entrevista deste mês, o supervisor de cultura da Subprefetura de Pinheiros, Fernando Guimarães, fala sobre a Virada Cultural e seus detalhes. Até o fechamento desta edição a programação do evento ainda não estava fechada.

O que o paulistano pode esperar da Virada Cultural?
O primeiro cuidado foi não preparar um ou mais megaeventos que pudessem absorver um grande público e concentrar todo mundo em um só lugar. Ao contrário. A idéia é que haja um grande número de eventos, de menor proporção, mas que motivem a participação das pessoas, o envolvimento não só do público, mas dos agentes culturais, dos espaços culturais, para que as pessoas também possam descobrir aquilo que tem na cidade e que elas muitas vezes não se dão conta. São Paulo é uma cidade que você precisa garimpar. O bacana de São Paulo não é só aquilo que é visível, não é só a riqueza que a cidade tem disponível nos grandes espaços, como o MASP, o MIS. Mas a beleza está em garimpar a arte em pequenas coisas que muitas vezes passam sem que a gente perceba, justamente porque tem muita coisa.

A Virada é uma forma de envolver esses espaços e estimular as pessoas para que elas olhem além do habitual…
Sim. Por exemplo, em uma casa com uma determinada atração, a idéia é que ela possa oferecer essa atração com preços populares, ou que tenha uma atração diferenciada, ou que amplie seu horário de funcionamento… Isso por parte do setor particular. E o setor público também está totalmente envolvido nessas ações com uma série de iniciativas.

Quais serão essas iniciativas?
Primeiro, a abertura de uma série de espaços, como museus, bibliotecas, dos CEU’s, e alguns lugares que servem como âncoras do evento. Não serão locais onde ocorrem eventos de massa, mas servem como âncoras para uma série de atrações. Por exemplo, o Vale do Anhangabaú. O Museu do Ipiranga será outro que irá funcionar 24h com diversas atrações. Está em estudo a região da Luz. Portanto, há eventos âncoras, organizados pelo setor público, com grandes atrações. No Ibirapuera nós teremos 24h de Chico Buarque. A presença dele não está confirmada. Essa iniciativa vai ser incorporada ao calendário da cidade de São Paulo para que aconteça anualmente.

Quais os critérios para se participar do evento?
A relevância do projeto. É tanta coisa que já acontece na cidade normalmente que não poderia se tratar de apenas reproduzir o que já ocorre. É preciso ter a percepção de que há uma iniciativa. Não se pode pegar uma casa onde todo sábado tem um Dj tocando e simplesmente incorporar isso. É uma coisa corriqueira. Então, se houver uma relevância na iniciativa e, ao mesmo tempo, se ela não traz incômodo, isso será bem absorvido e divulgado.

Na Vila Madalena qual suporte está sendo dado para quem for participar da Virada?
Nos reunimos com os principais espaços culturais da região, apresentamos o projeto, recebemos as propostas e elas foram encaminhadas para a análise de uma comissão que envolve a Secretaria de Cultura e a São Paulo Turismo. A rede Sesc também está envolvida no projeto. Aqueles que têm proposta de participação podem procurar a coordenadoria de cultura da Subprefeitura de Pinheiros. Evidentemente, ações mais simples ainda estão em tempo de ocorrer. Se for uma ação que demanda a intervenção do poder público, como fechamento de rua, há uma dificuldade maior em função do tempo.

E quanto à segurança, já que é um projeto que irá atravessar a madrugada?
Para que haja tranqüilidade foi montado um esquema especial de segurança, envolvendo a guarda municipal e a polícia militar. Essa segurança será focada nos pólos de atividades. Isso também envolve o transporte. Está sendo organizada uma operação para ampliar o horário do metrô e dos ônibus, para dar toda da comodidade para as pessoas.

Em um bairro residencial com a Vila Madalena, onde, em fins de semana normais, há uma vida noturna agitada, esse tipo de evento não trará mais atribulações para a região, como mais trânsito?
Não acreditamos que irá haver incômodo maior do que o habitual porque a maior parte dos eventos será em locais apropriados. Trata-se de um grande presente para São Paulo. É uma forma de atrair turismo e de mobilizar as pessoas que produzem cultura e arte. Uma vez que a cidade não tem praia, a praia dos paulistas é a cultura. As pessoas serão convidadas a participar e espera-se que elas entrem no espírito dessa festa.

Para você, como supervisor de cultura e freqüêntador da Vila, o bairro está perdendo seu cunho cultural?
A gente vive num mundo que se transforma numa velocidade muito mais rápida do que temos a capacidade de aceitar. A Vila tem uma peculiaridade. É um espaço que aglutinou universitários, intelectuais e artistas e tudo isso fez com que ela tivesse os ingredientes para ser um bairro onde jorra cultura. De 20 anos para cá, foram chegando os bares, em sua maioria voltados para a música popular brasileira, onde se reúnem pessoas para uma boa conversa, então, é um lugar que tem características importantes para uma cidade como São Paulo. Por outro lado, tem os ateliês, os sebos, os brechós, bons restaurantes, além de ser uma região nobre. É evidente que quando se tem uma região assim, ela acaba atraindo não só a população do entorno, mas de toda a cidade, da Grande São Paulo. A Vila Madalena passou a ser um bairro que atrai uma demanda superior àquela que poderia agregar e com isso incômodos são gerados. Se a lei for cumprida, se reduz esse incômodo. Mas a característica do bairro está formada e se não fossem esses espaços que estão lá, não seria Vila Madalena.

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