Pronta para o sucesso

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Sorridente e com uma simplicidade ímpar, a cantora e compositora Nô Stopa, 26 anos, representa o que a nova geração da música brasileira tem de mais especial: a coragem de enfrentar um mercado competitivo, onde os cifrões se sobrepõem ao talento, para mostrar a sua arte.
Filha de Zé Geraldo, compositor de sucessos como “Cidadão” e “Senhorita”, só para citar alguns hit’s que marcaram a geração de 1970, principalmente, Nô cresceu em meio à música. A Vila Madalena entrou na vida dela (ou seria ao contrário?), quando tinha 17 anos. Criada em Pirituba até então, a família mudou-se para o bairro e a adaptação foi instantânea. “Passei a ter uma vida cultural muito mais intensa, freqüentando saraus, festas e conhecendo pessoas do meio”, conta .
Para quem ainda tem muito a conquistar na carreira, Nô Stopa dá uma dica: os contatos e as boas parcerias são fundamentais para a vida artística. Tem sido assim na dela e o sucesso está apenas começando!

Qual foi sua primeira composição e de onde veio a inspiração, já que na época você se dedicava mais ao balé?
Minha primeira composição foi “Leve” e a inspiração surgiu em um dia, quando estava lavando louça! Comecei a imaginar uma música para a dança: ‘leve como uma pena, leve’ [cantarola]. Imaginava a movimentação e a poesia veio… Eu sempre gostei de escrever e quando peguei o violão, ví que a poesia tinha melodia. Eu já tocava um pouco de violão e o meu pai sempre insistiu para que eu estudasse guitarra. Dizia que queria dançar. O tempo passou e compôr foi bem natural mesmo! Mostrei a música para meu pai, ele chamou o Renato Teixeira, e disse que eu estava compondo. O filho do Renato, o Chico Teixeira, também estava começando e eles decidiram nos lançar. Meu primeiro palco foi com eles no show Verão Musical, da Musical FM no Memorial da América Latina. Cantei duas músicas e gravamos o CD um ano depois, no Centro Cultural São Paulo.

Como você vê essa nova fase da música brasileira, com novos compositores aparecendo, todos mais ou menos na sua faixa de idade?
Como entrei de supetão, fui influenciada pela galera da minha geração, e quando vi estava fazendo música com caras que já admirava. O que noto é que muitas compositoras estão aparecendo. Tenho um monte de amigas que compõem: Roseli Martins, Cris Aflalo… Acho que pode ser um começo mesmo de uma nova fase porque a música se recicla, uma hora a gente tem que aparecer.

E onde vocês encontram espaço para se apresentar?
É engraçado isso, né? A gente anda pela margem mesmo! Todos são independentes, menos a Vanessa da Mata, que lançou CD por uma gravadora. Mas a maioria é independente e a gente se vira por aí: Sesc, CEU’s, projetos da prefeitura…

Você está fazendo shows?
Estou cavucando espaço! Mas é difícil porque não sou conhecida ainda, sou independente, não tenho uma gravadora e as pessoas demoram para acreditar que pode ser bom o trabalho. E quando a gente vai lá e faz eles dão crédito: ‘Realmente é legal! Vamos chamar mais vezes’! Mas até o povo acreditar… Então, abro o show de um amigo, dou uma canja no show de outro, e essa união da galera ajuda também. Vamos passando os contatos uns para os outros.
Em quem você se inspira?
Não tem ninguém em especial, mas sou influenciada a todo momento, por tudo. Meu pai é um exemplo de berço, é genético! A batalha dele me inspira bastante por ser um artista que está longe da mídia, dos grandes holofotes. Ele me inspira no sentido de ‘dá pra viver’ da música; musicalmente e poeticamente também. Ouço bastante a PJ Harvey, uma cantora roqueira, que esteve aqui no Tim Festival. Gosto das mulheres que têm uma pegada mais de rock.

Pensa em montar uma banda ou vai continuar investindo apenas na sua carreira solo?
Nesse momento estou investindo na carreira solo, mas tenho planos de fazer uma dupla com uma amiga, uma dupla de eletrônico. Eu canto também em uma banda de forró, do Galpão, chamada Banda da Casa e é pura diversão. Nos reunimos quando rola alguma festa… Estou envolvida com circo e dança desde os 12 anos. Apresentei, com os Fractons, o espetáculo ‘Urbes’, onde fazia trapézio em balanço, doble-lira, pirâmides, perna-de-pau, acrobacias… Dia 11 de dezembro estréio no espetáculo infantil ‘Felizardo’ com músicas de Tata Fernandes, Zeca Baleiro e algumas composições minhas. A peça envolve circo e será no Viga Espaço Cênico [Rua Capote Valente,1323], aqui na Vila.

Já pensou em ter outra profissão?
Nunca! A música é o que me move… É do que eu quero viver, é minha prioridade. Fiz faculdade de Esporte na USP, mas tranquei no segundo ano, quando comecei a compôr e cantar. Ficou difícil conciliar. Fiz, com os Parlapatões e a Banda Sinfônica de São Paulo, o espetáculo “Os Reis do Riso”, onde cantava e fazia minhas ‘macacadas’. É uma maneira de unir as duas coisas, mas sei que um dia terei que optar, e já escolhi a música!!

Você criou, com Zé Geraldo, e sua irmã Anielisa, o Sol do Meio Dia. Quais as vantagens de ter um selo próprio e o que é mais difícil em relação às grandes gravadoras?
A vantagem é que podemos editar nossas músicas e temos uma empresa que nos representa. Temos total controle sobre nosso ‘produto’ e sobre a criação… Isso não tem preço. A Tratore está distribuindo meu primeiro CD – ‘Camomila e Distorção’ – e dois CD’s do meu pai. Sinto que, cada vez mais, o caminho independente é o melhor caminho. Difícil é achar espaço para divulgar o trabalho, já que tudo exige ‘jabá’. As grandes gravadoras investem cada vez menos em novos artistas. Mas, uma hora, o novo tem que aparecer. Por enquanto estamos fazendo projetos para ver se conseguimos apoio financeiro…

O que o público pode esperar para o próximo ano?
Já tenho repetório para o próximo CD, mas quero trabalhar o ‘Camomila e Distorção’ por mais um tempo. Tenho projetos de levar o show pelo Brasil todo, com patrocínio, mas ainda está tudo no papel.

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