Gibby: o repórter da Al Jazeera

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Trocar seu país de origem, a Inglaterra, pelo Brasil, não foi tarefa tão difícil para o jornalista Gibby Zobel, 34 anos, correspondente da Al Jazeera, a polêmica rede de tevê dos países do Oriente Médio. Difícil também não é encontrá-lo circulando pela Vila Madalena, bairro que escolheu para morar e com o qual se identifica: “um lugar simples e básico”.
Gibby começou no jornalismo aos 18 anos e trabalhou em vários jornais e revistas ingleses, como a The Big Issue, uma das principais revistas do Reino Unido. Em outubro de 2002 chegou ao Brasil para cobrir como free-lance a eleição presidencial. O resultado foi o documentário sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “The shoeshine president” (O Presidente Engraxate), que estreou no Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre (RS), em 2003, e que já foi exibido em 30 países aproximadamente.
A paixão pelo País foi imediata, tanto que samba, forró e futebol (trocou o Manchester City pelo Corínthias) estão entre as suas preferências. A caipirinha e a vida boêmia – há melhor lugar do que a Vila? – também pegaram o inglês de jeito! Tanto que, ao finalizar o documentário, Gibby voltou para a Europa, em busca de um emprego, e acabou sendo contratado para trabalhar como correspondente do site da Al Jazeera (http://english.aljazeera.net) aqui no Brasil. Gibby faz questão de ressaltar que, ao contrário do que se imagina, a Al Jazeera não é um braço da Al Qaeda no mundo das comunicações, ou seja, a rede não é porta-voz de Bin Laden, sendo mais imparcial do que a mídia, principalmente a americana e inglesa, costuma pregar. “Nunca interferiram no meu trabalho”, garante o jornalista, que escreve sobre os mais variados temas brasileiros, do turismo à política.
Entre outros projetos, Gibby está escrevendo um livro sobre a história do movimento antiglobalização. “Gigantinho! Recortes de uma Década de Protesto” tem o Brasil como principal caso de estudo e deve ser lançado na Inglaterra no final do ano. Confira entrevista!

Como é ser correspondente da Al Jazeera, uma tevê considerada por muitos como sensacionalista e tendenciosa, acusada de ser porta-voz de Bin Laden e de exibir freqüentemente imagens de civis feridos em confrontos, como no Iraque e Afeganistão, dando demasiado destaque para grupos fundamentalistas e extremistas?
Acusada por quem? Esta é a pergunta. Pelos governos da Inglaterra e dos Estados Unidos e as grandes mídias ligadas a eles? Al Jazeera faz um material equilibrado. Não se pode falar a mesma coisa sobre a Fox News, por exemplo. Quando falo que trabalho para a Al Jazeera algumas pessoas brincam comigo… Mas é uma rede igual à CNN ou a BBC. Não é tendenciosa. Os Estados Unidos ficam dizendo isso, mas na Al Jazeera todos os assuntos são tratados igualmente. Eles nunca interferiram no meu trabalho, nunca disseram escreva isso ou não escreva. Nunca mudaram uma palavra do que escrevo.

Quer dizer que não há censura?
Não. Eu escolho o meu trabalho, mando para eles e pronto. É totalmente livre. Faço matérias de cultura, economia, política… Já fui para Aparecida do Norte e para Ilha Grande fazer matérias de turismo.

Então, a rede não tem um interesse específico no Brasil?
Não, porque a Al Jazeera tem correspondentes no mundo inteiro. Escrevo para o site da Al Jazeera e eles vão lançar um canal em inglês no ano que vem. Pode ser que eu trabalhe para a televisão deles.

Você já foi “perseguido” ou ameaçado por trabalhar para uma emissora / site que dizem ter ligação com grupos terroristas?
Só fazem brincadeiras! Ninguém que é serio vai pensar assim. Talvez acontecesse se eu trabalhasse para eles na Inglaterra, mas no Brasil não.

Qual sua opinião sobre a atitude dos Estados Unidos em relação ao Iraque e como avalia a cobertura da tevê brasileira da guerra entre os dois países?
Não vou falar como jornalista e também este não é o meu campo. Falando apenas como um cidadão da Inglaterra, eu acho que é uma atitude horrível. Quanto à cobertura da guerra, eu não assisti muito à televisão durante essa época, na verdade. Na Inglaterra, a cobertura sobre o movimento contra a guerra era muito menor. A rede Globo, pelo menos, às vezes mostra este lado.

Você trocou o jornalismo de Londres para trabalhar no Brasil? A diferença é muito grande?
Sim. Na Inglaterra se faz uma coisa horrível que é o jornal tablóide. Esses jornais são cheios de matérias sobre a vida privada das pessoas, de jogadores de futebol… Coisas péssimas, muito baixas. A qualidade do jornalismo de lá não é boa como em outros lugares. As revistas populares são péssimas. Encontro muita coisa boa aqui no Brasil, principalmente nos jornais. A televisão é outra coisa. A maioria das matérias que faço é sobre o Brasil. Às vezes, eu faço alguma coisa sobre a Argentina, porque eles não têm nenhuma pessoa na América Latina. Mas, 80% do material que eu faço é sobre o Brasil mesmo.

O que fez você querer ficar em São Paulo e na Vila Madalena?
São Paulo foi o primeiro lugar que conheci no Brasil. Em primeiro lugar, as pessoas, que são bem diferentes das de Londres. As pessoas são bem mais abertas, mais gentis e gosto demais dessa parte. Também estou fascinado pela política no Brasil porque as eleições de 2002 foram um momento extremamente importante. Quero continuar acompanhando essa história. E São Paulo é o lugar de tudo mesmo! Quase todo dia descubro um algo de novo, como aqui [referindo-se à Livraria da Vila, onde foi realizada a entrevista]. No começo morei na Praça da Árvore e estou na Vila há quase um ano. As pessoas me falam que a Vila mudou muito nos últimos dez, quinze anos. Eu gosto de alguns lugares, como a Mercearia São Pedro. Gosto de lugares mais simples, mais básicos… Mas o que falta na Vila é movimento de centro da cidade. Às vezes, se tem a visão de São Paulo, estando aqui na Vila, como uma ilha de riqueza, o que não é a realidade. Mas é gostoso!

Depois de fazer um documentário sobre as eleições presidenciais, como avalia o governo Lula?
Acho que ainda é cedo para falar se o governo é bom ou não. Para zerar os problemas do Brasil é preciso muito mais tempo. Mas já é um avanço muito grande uma pessoa como o Lula ser presidente. Mudou uma parte da história política do Brasil.

O Presidente Engraxate

“A história é impressionante. Lula, o menino engraxate com escassa formação escolar, vence de maneira surpreendente as eleições e se torna presidente do Brasil.
Filmado nas ruas, no coração das celebrações, o presidente engraxate capta a atmosfera inebriante da história brasileira em seu curso – o mais importante capítulo para toda uma geração.
Mas a realidade é dura. O Brasil está atrelado a dívidas e a empréstimos de bancos internacionais. Será que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguirá cumprir sua promessa de finalmente acabar com a fome de 30 milhões de brasileiros?
Gravado em São Paulo, a maior cidade da América do Sul, o filme ouve brasileiros tão comuns quanto extraordinários. De vendedores de rua e cineastas; de educadores de favelas; um líder do Movimento sem Terra e membros importantes do Partido dos Trabalhadores.
A esperança por mudança é imensa. Depois de 22 anos de luta, Lula diz para a multidão nas ruas: “As coisas foram fáceis. O difícil mesmo começa agora”.”

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