Contrapeso na informação

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A chamada imprensa alternativa – ou nanica – tem exercido um importante papel na divulgação de idéias e informação que a grande imprensa não publica, movida que é pelos recursos oriundos dos grandes anunciantes e seus interesses. Daí a responsabilidade de quem escreve no Guia da Vila e o mérito da “revistinha”, como dizem alguns. A Web tem sido outro caminho alternativo. Abaixo, reproduzo a carta que escrevi para uma conhecida revista semanal a respeito de duas matérias que envolvem os animais. Não foi publicada. Semana seguinte, uma colunista – baseada em argumentos que poderiam ser chamados de ingênuos – menosprezaria o direito dos animais a serem cuidados em caso de sofrimento. Enviei mais uma carta. Esta não só não foi publicada, como também retornou com o aviso sender denied (remetente rejeitado). Formalmente não havia motivo, pois enviara os dados pessoais que a revista exige para que cartas de leitores sejam, pelo menos, lidas pela editoria. Lancei ambas na Internet e recebi mensagens de apoio de várias partes do país; e uma dando razão à colunista. O remetente alegava que, como somos a espécie dominante, temos que pensar sobretudo nos humanos. Quando todos os problemas destes estiverem resolvidos, é que deveríamos pensar nos dos animais. Por que então, já que os animais são, desde sempre, esquecidos em seus direitos pelos “dominantes”, os problemas do rei da natureza não foram resolvidos até hoje? Seria risível se não fosse patético. Eis a carta:
“Acredito que, a bem do direito e do dever da Imprensa em informar o público, não só os fatos, mas fornecer também um panorama das suas causas e conseqüências quando ela se propõe a praticar o jornalismo interpretativo – caso da revista VEJA – gostaria de fornecer alguns dados e tecer algumas considerações. Eles se referem à publicação das matérias “O terrorismo dos ecologistas radicais” e “Aberta a temporada de caça no RGS” na edição n. 1.866 de 11/08/04. Os dois assuntos envolvem direitos fundamentais: à duração normal da vida e ao do bem-estar de milhões de seres vivos; e do exercício da defesa destes direitos.
 Os atos de terrorismo descritos na matéria da seção Ambiente, o que parecem diante deste relato?
“Instrumentos ortopédicos são fixados nas mandíbulas de jovens símios Macaca fascicularis, afim de que os ossos sofram uma compressão e se desloquem até assumir uma posição anormal. Depois disso, os ossos comprimidos são examinados em sua nova condição pelos Drs. Schöeder e Lutz, graças às verbas da Fundação Hartmann-Müller e do Fundo para Pesquisa em Medicina Dentária (SSO). As experiências duraram 2 anos: de janeiro de 1985 a dezembro de 1987”.
Trecho do livro “Holocausto”, pág. 95, de Milly Shär-Manzoli, baseada em relatórios de Max Keller, que foi membro da Comissão de Controle da Experimentação Animal na Suíça. Editado pela ATRA – AG STG.
Outro trecho, de “leitura amena”, da mesma obra, pág. 101:
“Três cães receberam injeções repetidas de ‘pérolas de plástico’ para provocar hipertermia pulmonar ( aumento da temperatura nos pulmões) e examinar  a maneira como reagem. No item narcose, está escrito nenhuma. 16 ratos receberam injeção de reserpina e anfetamina  (sem anestesia)  para estudar os efeitos da termoregulação… As injeções aplicadas nos animais tinham por finalidade manter constante a temperatura do corpo depois que os animais fossem colocados em ambientes muito frios (ex.geladeiras), ou muito quentes (ex. estufas)”.
Descrições como estas (escolhi duas entre as mais sucintas e menos escabrosas) recheiam as 198 páginas do livro.  Ali encontram-se dados estatísticos sobre o uso de animais/ano em pesquisas (em 88 calcula-se tenham sido 1.180.789 animais, só na Suíça) usando-se o nome da Ciência, muitas vezes em vão. E quando não em vão, degradam o homem ao seu nível mais malévolo. Sabe-se que este esquema de atrocidades chega a cifras espantosas: desde o tráfico de animais, aos criados especificamente para estes fins; da indústria de aparatos técnicos utilizados, aos esquemas de transporte montados. O quadro se repete em todo o mundo, principalmente no Canadá, EUA e Suíça que sediam os maiores laboratórios.
Para os pesquisadores, os animais são equiparados ao homem no momento de utilizá-los como modelo – no que se refere aos resultados das pesquisas. Mas são encarados como absolutamente desiguais no que tange aos seus direitos. Além de tudo é aterrorizante a insensibilidade destes cientistas ao lidar com seres de outras espécies sensíveis à dor. Tornaram-se, os primeiros, máquinas de pensar, defeituosas, quando são considerados os inúmeros casos de desastre na utilização de drogas – em humanos – que funcionaram positivamente em animais. E vice-versa.
Terrorismo existe, em vários graus. A maioria dos atos deste tipo praticados pelos grupos de proteção animal, convenhamos, ainda parecem brincadeiras de adolescentes, se comparados às cenas descritas acima. E não só às contidas em “Holocausto”, mas àquelas registradas em fotos, filmes e vídeos.
Quando a ilusão de onipotência dos cientistas e o poder econômico, envolvidos neste campo, fazem-se de surdos ao apelo do senso moral que ainda resiste em parte da humanidade – esta parte, impotente diante daquele poderio – quem pode prever o que virá diante da sua justa indignação ignorada? Será que Al-Qaeda, IRA não levam a refletir em vez de apenas alertar?
O cego e suicida antropocentrismo está levando o planeta e a humanidade à falência. Corrijamos o rumo, senhores, enquanto é tempo. E deixemos de lado o cínico “humanitarismo” dos caçadores, que corta cabeças de animais para que cegos possam afagá-las.
A tempo: não sou jovem, não uso capuz, sou vegetariana que come ovo caipira; e participo de qualquer manifestação pacífica que defenda direitos fundamentais, sem especismo.”

Seminário

A Arca Brasil promove o Seminário Clínico Veterinário – Responsabilidade Social e Bem-Estar Animal, para estudantes e profissionais, dia 28 de setembro, Hotel Transamérica, São Paulo. Serão abordados temas como esterilização química, controle populacional de cães e gatos, e o de como “mais volume é maior rentabilidade”. Será concedido o prêmio “Menção Honrosa” para veterinários. Qualquer pessoa ou ONG pode indicar um nome de um profissional que tenha contribuído para enriquecer a relação homem-animal. As fichas de inscrição (para o evento e o prêmio) e maiores informações estão no site www. arcabrasil.org.br . Até dia 15 de setembro. A Arca Brasil fica na rua Wizard, 273 casa 3, Vila Madalena. CEP: 05434-080. Telefone 3031-2962.

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