Jornalismo ambiental

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Foto: Divulgação/Paulino Menezes

Divulgação/Paulino Menezes
Dal Marcondes, jornalista fundador da Agência Envolverde

Com 20 anos de existência, a agência Envolverde, que nasceu e tem sede na Vila Madalena, trata de temas como meio ambiente, ecologia e agronegócio.

O fundador da agência é o jornalista Dal Marcondes em 1995. “A ONU naquele ano precisava de um jornalista para a edição brasileira do suplemento Terra América que era encartado em alguns jornais e revistas. Achei interessante e topei. Eu trabalhava na editoria de economia da Agência Estado”.

Em 1998 decidi sair da Agência Estado para trabalhar com uma agência focada na área socioambiental. Alguns colegas acharam que eu estava fazendo loucura. A Envolverde começou em janeiro daquele ano. Somos o mais antigo projeto de jornalismo nativo digital em operação no Brasil. Naquele tempo a internet era discada e hoje temos mecanismos que facilitam a nossa vida. Como morava na rua Simpatia, transformei a garagem da casa em redação. E lembro que a internet era discada e não era fácil! Felizmente hoje está muito melhor.

A Envolverde é uma agência de notícias que cobre meio ambiente e outros temas relacionados e é aberta ao público. “Hoje temos 5 mil leitores por dia, mais de 320 mil seguidores no Facebook e publicamos diariamente cerca de 20 notícias. É uma marca que se consolidou no mercado. E todos os textos que publicamos têm uma relação com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU)”, explica o jornalista que ressalta que tem “tinta nas veias”, é neto, filho e pai de jornalista.

O negócio é mantido por publicidade – mas não aceita anúncios de tabaco, armas e agrotóxicos – e projetos para empresas e organizações. “Diria que vamos bem e temos nos mantido nestes 20 anos!”.

A Envolverde segundo seu criador não tem partido. “Em nosso portal apontamos em nossos textos as vantagens do agronegócio para quem se preocupa e segue as melhores práticas. Hoje, o mercado de produtos sem transgênicos e com redução de agrotóxicos têm maior valor no mercado, principalmente na Europa. Até a China não quer comprar qualquer coisa. O alimento ruim tende a causar mais problemas de saúde. A produção com agrotóxico é uma produção preguiçosa! E é um produto de pior qualidade. Hoje, na Europa nenhum produto entra sem análise de agrotóxico. A mesma coisa acontece com a produção de carnes em áreas degradadas.” E garante que todos têm espaço e são ouvidos sem restrição em relação às pessoas ou temas ligados ao meio ambiente.

A rede de colaboradores e colunistas do Envolverde está em todo o Brasil e exterior. “Temos uma boa parceria com profissionais que muitas vezes oferecem matérias que não são aproveitadas em seus veículos. Ou também encomendamos matérias e temos uma boa abrangência. Somos um dos poucos veículos dessa mídia alternativa que tem abrangência nacional e no exterior”, explica Dal.

Dal se diz pessimista em relação ao governo atual com o trato sobre meio ambiente e sustentabilidade. “A começar pelo esvaziamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente e seus integrantes. Lembro que quando o CNMA foi modificado em 2012 houve um grande trabalho para que todos cedessem um pouco, produtores e ambientalistas. Porém, neste momento é que o jornalismo ambiental tem muito a dar à sociedade. É um jornalismo que exige extrema qualificação dos seus profissionais e conhecimento de vários temas como ciência, sociologia, agronegócio, …”

Ciente e praticante de hábitos sustentáveis, Dal não se considera um ambientalista. “Sou um jornalista que trabalho com pautas ambientais.” se define.

Frequentador da Vila Madalena desde os anos 1970 quando “estudava na USP e vinha visitar os amigos que moravam por aqui e os poucos bares daquela época. Depois decidi morar por aqui e encontrei a casa na rua Simpatia que continua sendo a sede da Envolverde.

Sobre a Vila Madalena, o jornalista vê a região “como um laboratório social nos últimos 30 anos. Algumas experiências dão certo e outras não. Hoje, quem espera ganhar muito dinheiro com uma loja na Vila corre um grande risco de quebrar a cara, com exceção dos bares. Entre as que destaco estão o Catraca Livre, o Cataki, Instituto Chão, Casa Orgânica. Muita gente aprende coisas na Vila e leva para fora. O Beco do Batman, por exemplo, é um destino turístico da cidade. A Vila Madalena tem o papel de vanguarda em diversos movimentos. Quem circula por aqui como morador ou trabalhador, vê que o bairro tem uma centralidade como se o centro da cidade fosse aqui e é um polo de atração de moradores e pessoas de outras regiões da cidade”, explica sua visão da Vila.

Lembra que ainda existem conflitos entre moradores com bares, prédios. “Eu tive alguns problemas com bares por conta do barulho”, conta. Para ele a Vila esteve “descuidada e até abandonada com a ocupação e a falta de planejamento urbanístico. Tem um edifício cinza na Fradique Coutinho que eu não entendo como recebeu Habite-se da prefeitura! A efervescência da Vila tem aspectos positivos. Sou a favor das inovações mas destaco a importância dos moradores que se unem para evitar que outros ‘monstros’ sejam erguidos na Vila.”

Crítico e nada otimista com relação ao governo que “foi eleito democraticamente e que muita gente achava que ele não iria colocar em prática suas propostas de campanha! O momento econômico, político e social é muito ruim no país. São mais de 20 milhões de desempregados. Precisamos continuar a trabalhar e seguir em frente, apesar do governo. E provavelmente, no futuro, vamos precisar consertar o que foi feito de errado em relação ao meio ambiente”, define.

A entrevista foi realizada ao final de mais uma edição do projeto Diálogos Envolverde, em parceria com a Unibes Cultural. “Na última quinta-feira do mês realizamos um evento com um tema e especialistas. No dia 27 de junho, o tema será Bioeconomia. A entrada é grátis.” (GA)

www.envolverde.com.br

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